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Como fazer networking se você é tímido ou introvertido

Cultivar uma rede de contatos não precisa ser uma missão chata, mecânica ou emocionalmente exaustiva. Veja dicas de como simplificar o processo.

Por Bruno Carbinatto
11 ago 2023, 05h38
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 (Getty Images/VOCÊ S/A)
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izem que o mundo é feito para os extrovertidos. Talvez seja exagero, mas uma coisa é fato: quem passa longe da timidez sai na frente da corrida do networking, habilidade fundamental para o progresso de qualquer carreira.

Para quem é introvertido, ter a “cara de pau” (no bom sentido) de vender o próprio peixe em eventos, cafezinhos ou mesmo em redes sociais pode parecer um pesadelo. Ou, pelo menos, uma tarefa cansativa, que drena a bateria social.

E networking não é complexo só para os tímidos, diga-se. Há quem ache o processo chato, tedioso ou até necessariamente falso – aí finge ser quem não é, fala de forma robótica…

Só que simplesmente não há como fugir da ideia de tecer um networking. Manter uma rede de contatos sólida é tão importante quanto adquirir novos conhecimentos. A boa notícia é que isso não precisa ser necessariamente chato para quem não curte, muito menos algo restrito aos extrovertidos.

É para quem não gosta, tem medo ou não tem paciência de fazer networking que Karen Wickre escreveu seu livro, Networking para quem não quer fazer networking. A executiva, autodeclarada introvertida, passou 30 anos trabalhando no Vale do Silício, Google e Twitter incluídos, por meio de um contato que surgiu via networking.

No livro, Wickre elenca uma série de técnicas para tornar o processo mais natural, orgânico. No trecho a seguir, ela também apresenta um modo de pensar um pouco contraintuitivo: apesar da timidez, introvertidos teriam outras características que podem ajudar num networking mais eficaz.

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(Arte/Foto: Divulgação/VOCÊ S/A)

Capítulo 1 – Liberando o poder secreto dos introvertidos

Tendemos a pensar que a ideia de networking como sendo a necessidade de estar “ligado” — de apertar todas as mãos e captar cada alma — seja algo que os extrovertidos fazem bem, e os introvertidos, não tanto. Mas, quando se trata de fazer contatos, os introvertidos podem levar uma vantagem. Você não tem que mudar quem você é ou inventar uma persona falsa para conhecer as pessoas com mais facilidade.

Vamos fazer uma breve revisão do que significa mesmo ser “introvertido”. Nos anos 1920, o psicólogo suíço Carl Jung desenvolveu sua teoria dos tipos psicológicos, observando que “Cada pessoa parece ser mais energizada pelo mundo externo (extroversão) ou pelo mundo interno (introversão)”. Bem mais recentemente, o Urban Dictionary elaborou mais sobre essa ideia: “Ao contrário da crença popular, nem todos os introvertidos são tímidos. Alguns podem ter uma vida social bem agitada e adorar falar com seus amigos, mas simplesmente precisam de um tempo para estar sozinhos para ‘recarregar’ suas energias”.

Essa parte sobre a recarga é essencial. Como Jung observou, os extrovertidos normalmente obtêm sua energia da multidão — uma festa, um jogo, um show, pulando de uma reunião para outra. Mas aqueles de nós que estão no outro extremo precisam de tempo em silêncio para se reestruturar, pensar, planejar e sonhar. Com certeza, não sou a única que calcula mentalmente em quanto tempo poderei escapar da multidão. Mesmo que eu esteja tendo um momento super agradável em um evento em grupo, sempre estou esperando pela oportunidade de estar de volta em casa.

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Outra marca registrada dos introvertidos é a capacidade de se sentir bem em silêncio, o que, em geral, é mal compreendido. Como uma adolescente reflexiva e introspectiva, eu estava sempre observando e escutando as conversas dos adultos. Quando meus pais recebiam visitas, eu ficava intrigada com os comentários em voz baixa que eles faziam depois da reunião, especulando sobre os problemas (não ditos) que sabiam que seus amigos tinham. Nada daquilo tinha sido revelado à mesa, é claro, o que me levava a entender que as experiências humanas eram muito mais profundas do que um relacionamento educado podia mostrar. Comecei a me sentir uma antropóloga — a pessoa de fora estudando o grupo com um olhar frio, nunca me juntando a ele.

Estou convencida de que todas essas qualidades, que os introvertidos parecem ter em comum — sentir-se um estranho, ser observador e curioso sobre as histórias e situações dos outros —, me dizem como construí meu caminho ao longo da vida (como mostra um estudo acadêmico: “Um introvertido em silêncio estando em um grupo pode, na verdade, estar bastante engajado, absorvendo o que é dito, pensando sobre isso, esperando por sua vez de falar”). Penso que essas habilidades de observar e avaliar são alguns dos meus melhores ativos, e talvez também sejam os seus. Seja você tímido, humilde, modesto, inseguro ou simplesmente deteste o estereótipo do networking, quero encorajá-lo a aproveitar ao máximo o seu estilo pessoal para construir seu próprio banco de cérebros, começando exatamente de onde você está.

Minha antiga teoria é que os introvertidos (e outras pessoas despretensiosas) são bastante aptos para construir uma rede de contatos, pois compartilhamos algumas características específicas, tais como:

  • Somos bons ouvintes. Quando encontro alguém pela primeira vez, faço com que a pessoa fale primeiro, para me fornecer mais informação pessoal do que eu ofereço a ela. Pode parecer frieza, mas me dá tempo de avaliar a pessoa, para verificar se posso confiar nela. Se eu tiver um pressentimento bom em relação a ela, então eu me abro (um pouco). Essa é uma tática-chave: faça perguntas primeiro. Você aprende a decidir o quanto quer investir em outras pessoas quando elas estão falando com (para) você. É muito mais importante usar suas habilidades de ouvinte do que começar a falar logo de cara. E, depois que você ouviu, terá opções sobre o rumo a seguir e o quanto dizer quando disser algo.
  • Somos observadores atentos. Mesmo que se sentir um estranho possa parecer algo que o isola, o fato de você não dominar todo o espaço social (como alguns dos nossos amigos extrovertidos conseguem fazer) deixa que outras pessoas revelem quem elas são à medida que você ouve tudo o que dizem. Tenho um antigo hábito de observar as pessoas; o que posso deduzir sobre elas a partir de um encontro pessoal ou por estar sentada à sua frente no metrô? Quem me parece nervoso, confiante, bravo, deprimido, e por quê? Quando encontro alguém, tendo a lembrar algumas coisas específicas sobre essa pessoa — seus interesses, de onde ela vem, seu estilo pessoal, sua formação —, informações que me ajudem a me aproximar dela. E essa habilidade é muito benéfica para fazer contato. Você se coloca no ponto de vista dos outros, o que os deixa à vontade e os ajuda a estabelecer um encontro significativo.
  • Somos curiosos. Quando você se sente como um estranho, pensa que os outros já têm um domínio sobre a vida — conectando-se com as pessoas, escolhendo as opções, buscando um caminho — de uma maneira que você ainda não tem. Observadores ávidos tendem a colocar essas observações em funcionamento. Como uma criança quieta, eu ficava curiosa sobre como as outras pessoas navegavam pelo mundo, principalmente como elas pareciam se encaixar bem onde eu não me sentia incluída (uma bênção, ou coisa parecida, sobre a idade adulta: você aprende que poucas pessoas realmente se sentem incluídas).

Essas habilidades — ouvir, observar, ser curioso — são ferramentas maravilhosas para nos conectarmos com as pessoas. E tem outra coisa: nenhuma delas exige que você esteja sob os holofotes. Isso não significa que você não possa ter uma carreira de sucesso, é claro.

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A combinação de introversão e observação nos dá um grande dom: a arte de enxergar as pessoas. Podemos rapidamente ver a maquiagem que oculta uma pessoa: ela é carente, desinformada, presunçosa, nervosa? Ela evoca equilíbrio, curiosidade, bom humor? Perceber tais qualidades significa que você tem uma boa noção sobre o que perguntar ou esperar de alguém que conheceu, e essa é uma habilidade conveniente à medida que você continua a construir a sua rede de contatos.

EXPERIMENTE: EXERCITE O SEU PODER DE PESSOA INTROVERTIDA

Aqui estão três exercícios de aquecimento que você pode usar para melhorar suas habilidades e te ajudar a aumentar sua rede de contatos.

  • Seja o primeiro a perguntar.

Da próxima vez que você estiver tomando café com alguém que você não conhece muito bem, ou nada (um colega de trabalho, amigo de uma amiga, uma pessoa numa conferência), faça com que a pessoa conte a história dela para você. Isso também funciona bem pelo telefone.

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Você pode começar de uma maneira simples, como: “Depois eu falo de mim, primeiro, eu adoraria de saber algo a seu respeito [como é trabalhar na empresa X?] ou [você é conhecido ou reconhecido na área X ou na sua especialidade?]”. Ou: “Ainda estou pensando a respeito daquele conferencista/palestrante. O que te marcou na fala dele?”.

Principalmente se você estiver tentando um emprego na empresa ou no setor da pessoa, continue com um estímulo que seja uma pergunta: “Como você entrou na empresa X?”; “Há quanto tempo você está nessa empresa Y?”; “Você gosta da sua profissão de Z?”.

  • Demonstre curiosidade.

A curiosidade é uma habilidade mental, algo que se pode ativar estejam vocês se encontrando pessoalmente ou não. Quando você estiver em um encontro informativo (mesmo por telefone ou numa conversa por vídeo) com alguém da empresa ou área na qual está interessado em entrar, tente usar o seu tempo da melhor forma possível indo direto ao ponto do seu objetivo.

Após os cumprimentos iniciais, por exemplo, adapte a sua jogada de abertura para o tipo de tópico que está buscando:

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“O que eu quero saber é: como você conseguiu resgatar o gato daquela chaminé?!” (Fazendo referência a algo que você viu no feed do Instagram; um quebra-gelo que mostra que você está atento ao que está acontecendo.)

“Como foi o Google nos anos iniciais da empresa?” (Você descobriu isso no LinkedIn.)

“Você gosta de escrever com frequência?” (Você acompanha o site, boletim informativo ou blog da pessoa.)

  • Seja um observador atento.

Quando a curiosidade é mais mental, a observação é mais física. Isso funciona melhor pessoalmente e é muito valioso quando se encontra pessoas novas. Parte importante de ser um observador atento é deixar o novo contato à vontade (mais do que garantir uma conexão sólida), e parte disso é reunir sua própria percepção dele ou dela. Algumas maneiras de trabalhar essa observação na conversa:

“Seus óculos são super legais. Você coleciona óculos?” (Roupas podem ser algo muito pessoal para apontar em um primeiro encontro, mas óculos ou sapatos são um bom elogio.)

“De quais acessórios de celular você gosta?” (Quaisquer acessórios que as pessoas mantenham à vista dizem algo sobre elas.)

Algumas coisas a serem consideradas durante uma conversa: eles estão desconfortáveis e inquietos, ou estão relaxados se sentindo confortáveis? Estão focados apenas no negócio ou revelam um pouco de si próprios, de suas preferências ou peculiaridades?

Seus poderes de observação também são muito úteis em um encontro em grupo. Você já notou aquela pessoa que é sempre do contra ou que te interrompe? A pessoa do “encontro após o encontro” que só se deixa conhecer depois? Quem sempre tem tempo para um papo em particular entre amigos, e quem não tem?

O que você observa lhe dá um sentido extra de compreensão dos outros, e isso pode fazer com que seus contatos funcionem mais facilmente, apenas com base em quem eles demonstram ser.

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(Arte/Foto: Divulgação/VOCÊ S/A)
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