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Carreiras quentes: veja as áreas com mais demanda por profissionais para 2023

O Guia Salarial da consultoria de recrutamento Robert Half, divulgado com exclusividade pela VC S/A, mostra quais são os cargos que estarão em alta no ano que vem, e como andam as remunerações nessas áreas.

Por Bruno Carbinatto | Ilustração: Felipe Mayerle | Design: Caroline Aranha | Edição: Tássia Kastner
Atualizado em 9 set 2022, 17h48 - Publicado em 9 set 2022, 06h49

Crise é uma palavra que começa a sair do vocabulário dos CEOs brasileiros. 94% deles estão otimistas com o próximo ano, e metade das empresas pretende abrir novas vagas de trabalho para acelerar o crescimento.

Não deixa de ser surpreendente. A disparada da inflação para acima de 10% e o aumento de juros para patamares dilmescos, de 14% ao ano, são uma combinação que tende a ceifar investimentos e postos de trabalho. E tradicionalmente os planos são mais conservadores durante o período eleitoral.

Outra boa notícia: as empresas sabem que está mais difícil atrair e manter profissionais qualificados – 84% das companhias têm essa preocupação. Não é à toa. Enquanto a taxa de desemprego no Brasil ronda os 9%, a de profissionais qualificados fica em torno de 5% – patamar digno de pleno emprego. Ou seja: sobram vagas, e os candidatos têm mais poder de barganha. 

Daí por que flexibilidade is the new black. Para 77% dos trabalhadores, o modelo de trabalho ideal é o híbrido, independentemente da quantidade de dias no escritório. 17% gostariam de seguir em modelo 100% remoto e apenas 6% em regime integralmente presencial. E é isso que eles levam em conta na hora de avaliar uma vaga (43%), mais até que o salário (32%) e os benefícios (17%) que a empresa oferece.

As empresas podem nem sempre morrer de amores pelo regime híbrido, mas precisam ceder: 75% dos executivos dizem que um modelo flexível é positivo para a atração e retenção de talentos. 

Esses são alguns dos insights do Guia Salarial 2023, elaborado pela empresa de recrutamento Robert Half e divulgado com exclusividade pela VC S/A. O guia traz as expectativas das carreiras com mais demanda para o ano que vem.

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Em termos de áreas aquecidas, o óbvio se repete: o setor de tecnologia é disparado o dominante, e profissionais da área encontram oportunidades em todos os outros segmentos. E é o segmento que garantiu as maiores altas salariais no último ano.

No médio e longo prazo, outro perfil de profissional que se destaca e perpassa por todas as áreas é o especialista em ESG (sigla para compromisso com metas ambiental, social e de governança corporativa), já que cada vez mais empresas são cobradas a serem responsáveis em temas como meio ambiente e diversidade. 

No entanto, ainda é raro que companhias tenham áreas e profissionais especializados para esse setor, explica Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul. “Ainda é embrionário, restrito a um seleto grupo de grandes empresas. Mas é o futuro, sem dúvidas”, diz. Boa oportunidade para buscar se especializar agora, então.

Veja a seguir os destaques de cargos e salários para as seis áreas de atuação que devem bombar em 2023.

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Como ler as tabelas

Os salários listados não incluem bônus, benefícios e outras formas de remuneração. O valor de cada cargo é dividido em três perfis nos quais cada faixa é determinada pelo nível de qualificação, experiência do candidato e complexidade do cargo. Os comparativos salariais entre os anos de 2022 e 2023 foram feitos com base no perfil B, no qual a maior parte dos profissionais se encontra.

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Perfil A – Já tem uma experiência mais relevante, com pós-graduação, certificações e especializações.

Perfil B – É aquele que preenche a maioria dos pré-requisitos da vaga – não precisa de desenvolvimento para exercer satisfatoriamente o cargo.

Perfil C – Profissional com pouca experiência, ou que acabou de ser promovido, e que precisa de desenvolvimento para exercer plenamente a função.

Tamanho da companhia*: P – Pequena | B – Boutique** | M – Média | Grande

*Divisão baseada em faturamento — P/M: até R$ 500 milhões; G: acima de R$ 500 milhões. No caso dos escritórios de advocacia, o parâmetro é outro, de acordo com número de advogados — P e B: de 1 a 30; M: de 30 a 150; G: acima de 150.

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**Classificação exclusiva para o setor jurídico. Os “escritórios boutique” são pequenos, mas altamente especializados e segmentados.

 

MERCADO FINANCEIRO

O momento private

O segmento de private banking é o destaque no mercado financeiro. Trata-se do setor de profissionais de serviços bancários e financeiros para gente endinheirada, com grande patrimônio e carteira de investimentos (não há um número exato, mas acima de R$ 10 milhões é uma boa régua). Entre os serviços prestados, estão a consultoria de investimentos, patrimônio, herança, planejamento financeiro e outros.

Antes, esse tipo de serviço se concentrava em bancões, mas, agora, o surgimento de escritórios de agentes autônomos, ligados a corretoras, oferece oportunidades para especialistas no setor, explica Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da EAESP FGV.

Segundo a Anbima, o setor movimenta mais de R$ 1,7 trilhão e já soma cerca de 130 mil contas ativas no país. Com isso, cresce a demanda por gerentes de relacionamento private. 

Quem busca trabalhar na área precisa estar pronto para se aprofundar em temas para além do conhecimento técnico de investimentos em si, e se preparar para oferecer um serviço personalizado. “Não adianta só conhecer o produto, também é preciso entender a necessidade do cliente”, explica Ana Carla Guimarães, Diretora de Negócios da Robert Half. “É preciso saber quanto o cliente quer ter de rentabilização, quanto pode ter de perda, como é o planejamento sucessório e a estrutura familiar dele etc.” 

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Também são necessárias certificações para atuar na área – as mais comuns são a CFP (Certified Financial Planner) e a Ancord.

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(Arte/VOCÊ S/A)

“É PRECISO TER EMPATIA”

Economista formado pela Ufes, com pós-graduação em Finanças Corporativas e mestrado em Gestão Empresarial, Paulo Correa é um dos sócios e fundador da Valor Investimentos, atuando na área de private há mais de 15 anos. Para ele, o principal diferencial de quem atua no setor é desenvolver uma soft skill muitas vezes ignorada pelos profissionais de mercado financeiro: o de relacionamento humano. “Você fica íntimo do cliente. Muitas vezes, acaba sabendo de tudo sobre sua vida, inclusive problemas familiares. É preciso, acima de tudo, ter empatia”, explica. 

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(Felipe Mayerle/VOCÊ S/A)

TECNOLOGIA

Segue a guerra por talentos

Falar em setor de tecnologia em alta é um pleonasmo – de longe é a área que mais demanda profissionais, e praticamente todos os seus segmentos estão aquecidos. As empresas travam dia a dia uma batalha campal pelos melhores profissionais. Por isso os salários tendem a ser atrativos e os modelos de trabalho, os mais flexíveis possível. 

E não é o bastante. O setor compete diretamente  com empresas gringas, que têm o câmbio a seu favor e  fazem do modelo anywhere office a regra. Nisso, as companhias locais têm atraído profissionais menos qualificados oferecendo oportunidades de aprendizado. 

“As empresas estão verdadeiramente investindo na capacitação dos profissionais”, diz Leonardo Berto, gerente da Robert Half. Para quem está começando na área, é um prato cheio. O momento também abre oportunidades para quem tem formação técnica sólida, mas pretende seguir se aperfeiçoando em busca de cargos de liderança.

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JURÍDICO

O encontro do direito com a tecnologia

A rápida digitalização dos negócios com a pandemia não veio sem problemas adjacentes. De repente, temas como segurança de dados e privacidade ficaram mais em alta do que nunca. Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que regulamenta o modo como as empresas devem cuidar das informações de seus clientes, passou a aplicar punições em 2021. 

Soma-se isso ao aumento recente de fraudes digitais (os famosos golpes via WhatsApp ou Pix) e o resultado é um cenário em que empresas devem estar preparadas para lidar com eventuais desafios nessa seara.

Criou-se um mercado robusto para profissionais que se especializam na área do Direito Digital. Eles são altamente demandados em escritórios de advocacia e também em empresas. Quem tem conhecimento técnico na área de tecnologia, então, sai na frente.

Entender “só” de Direito e de tecnologia não basta. Recrutadores têm valorizado profissionais com visão empreendedora, explica Mariana Horno, gerente sênior da Robert Half. Em termos práticos, isso significa que um bom profissional do Direito Digital, por exemplo, não deve trabalhar apenas para evitar problemas de segurança de dados – ou lidar com as suas consequências caso venha a ocorrer. Ele precisa conhecer de perto o negócio para ajudar a transformá-lo internamente, oferecendo um serviço ou produto ainda mais seguro como diferencial para os clientes.

Para além do Direito Digital, a retomada econômica pós-pandemia aumenta a demanda por profissionais de Direito Civil e Empresarial especializados em contratos, renegociações, compliance e reestruturação de dívidas. O segmento do Direito Ambiental também se aquece com o crescimento do interesse por ESG.

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(Arte/VOCÊ S/A)

UNINDO OS DOIS MUNDOS

A carreira de Rafael Figueiredo é a síntese entre os segmentos de tecnologia e jurídico: ele é formado em Ciência da Computação e Direito, e tem ainda pós-graduação em Direito Digital. Também tem o viés empreendedor: passou por empresas como o portal iG e Ultrafarma, mas, em 2015, decidiu ser um dos fundadores da D4Sign, startup que oferece uma plataforma de assinatura eletrônica para documentos (e tem como um de seus objetivos justamente evitar fraudes no processo). Para quem quer seguir na área, o conselho é direto: os profissionais do Direito devem colocar também a mão na massa na prática da tecnologia. “Para um advogado, entender a LGPD não é difícil. Mas é preciso entrar um pouco no mundo da TI”, diz.

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(Felipe Mayerle/VOCÊ S/A)

FINANÇAS

Animador – para quem gosta do trabalho presencial

O campo das finanças também deve ter mais um ano promissor. Agora são demandados profissionais ligados à preparação estratégica para a expansão dos negócios, principalmente na área de planejamento financeiro e modelagem financeira.

Mas há uma diferença no meio do caminho de quem deseja seguir nessa área: em uma pesquisa com 100 CFOs (diretores financeiros) brasileiros, 37% deles disseram que o modelo de trabalho deve voltar 100% ao presencial, contra 36% optando pelo híbrido e 17% pelo totalmente remoto (10% não têm uma definição específica).

Ainda que não seja maioria, a preferência pelo modelo presencial chama a atenção porque vai na contramão dos outros segmentos do mercado (na média, 75% defendem modelo híbrido). “Nós não nos surpreendemos tanto com as respostas porque os profissionais de finanças são, em geral, mais conservadores”, diz Marcela Esteves, gerente da Robert Half.

Entre os motivos citados, os gestores destacam que “importantes reuniões devem ser feitas pessoalmente” e que “é difícil monitorar sinais de insatisfação ou níveis de estresse no trabalho remoto”.

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(Arte/VOCÊ S/A)

ENGENHARIA

Para ontem

Se você se acostumou a receber suas compras online em menos de 24 horas, agradeça ao pessoal que se especializou em logística (supply chain, no jargão do mercado) para operar esse milagre. Entrega rápida fideliza cliente – não à toa Mercado Livre, Magazine Luiza, Americanas, Amazon… todas as grandes empresas apostam na entrega instantânea.

Não é só para agradar consumidores. Segundo uma pesquisa da Robert Half com 300 executivos, a meta de quem trabalha com supply chain é redução de custos e o equilíbrio do orçamento – e 47% deles dizem que vão investir em tecnologia e inovação para a área de logística justamente com esse fim. Ou seja: vem contratação por aí. Afinal, só mesmo especialistas para conseguir o combo mais rápido + mais barato.

Mas nem só de logística vivem os engenheiros. De todos os segmentos citados, este é o que mais demanda profissionais especializados em ESG. Afinal, precisa-se de especialistas para reduzir a pegada de carbono e demais impactos ambientais gerados pela cadeia produtiva das empresas. 

Na mesma pesquisa, 55% dos executivos dizem que a falta de especialistas no tema ESG configura uma séria barreira para avanços nessa área. Boa oportunidade de especialização para profissionais de engenharia de todas as áreas. 

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ORDEM AO CAOS

O primeiro contato de Marcelo Paciolo com a área de supply chain foi durante seu intercâmbio na África do Sul, onde atuou por um ano na multinacional de logística Bolloré Logistics. Desde então, passou por Vivara e RaiaDrogasil e, hoje, é head de Supply Chain na AGR Consultores. Seu trabalho é estudar toda a cadeia produtiva de uma empresa para identificar os problemas e montar um projeto logístico melhor, justamente para diminuir o tempo de espera e reduzir custos. Mas o trabalho vai muito além das métricas e números: “É uma área que, cada vez mais, conversa com todos os departamentos da empresa, então a habilidade de bom relacionamento interpessoal é fundamental”, diz. 

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(Felipe Mayerle/VOCÊ S/A)

VENDAS E MARKETING

Dados, dados e mais dados

O boom do e-commerce trouxe uma vantagem para muitas empresas: agora, elas conseguem coletar e analisar, por si só, dados de seus clientes e de seus públicos-alvo – alguns anos atrás, era mais comum comprar esses números e análises de outras companhias especializadas nisso, explica Frederike Mette, professora da ESPM.

Por isso, profissionais data-driven, ou seja, com habilidades envolvendo dados, são os mais demandados pelo mercado de marketing atual. Lê-se: aqueles que têm conhecimentos de programação e do uso de softwares que coletam e estruturam um grande volume de dados saem na frente.

Mas a existência de dados por si só não diz muita coisa; é preciso interpretá-los. Por isso, as áreas mais aquecidas são as de Inteligência de Mercado e de Inteligência de Negócios – de profissionais que analisam os dados, tanto do próprio negócio como do mercado em que ele atua, para identificar tendências e oportunidades de posicionamentos dos seus serviços e/ou produtos.

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(Arte/VOCÊ S/A)

Agradecimentos: Carolina Cabral, diretora da Robert Half, e Amanda Adami, Danielle Nakaya, Erika Moraes, Laís Vasconcelos e Sara Santos, gerentes da Robert Half.

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