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Taxa de juros: a força que realmente move os mercados

Ninguém sabe quando os juros vão começar a cair, mas só a expectativa de que eles devem parar de subir opera milagres no mercado financeiro. E este momento chegou.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 28 set 2022, 16h36 - Publicado em 9 set 2022, 05h22

“O mercado de renda fixa é de fato o pai de todos os mercados”, escreveu o economista e gestor de portfólios Pedro Mota, no Twitter. “É só o Banco Central sinalizar a estabilização das taxas de juros para todos os outros mercados se moverem.” 

O BC deu tal sinal em 3 de agosto, dia em que anunciou a alta mais recente da Selic, para 13,75%. O acréscimo de 0,5 ponto percentual era tão aguardado quanto o nascer do Sol. O que chamou a atenção ali foi outra coisa. O BC aproveitou o ensejo para dizer que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião [20 de setembro]”.

O mercado acompanha as falas do Banco Central com a atenção de quem assiste uma série de mistério: qualquer entrelinha pode ser uma pista valiosa para elucidar a trama. E ali estava claro: a instituição dizia, com (quase) todas as letras, que o ciclo de alta da Selic está prestes a terminar.

Foi uma jornada longa. Os juros tinham começado a subir em março de 2021, quando saíram daqueles pandêmicos 2% para 2,75% – e seguiram para o alto e avante, até atingir 13,75%, 18 meses mais tarde. 

A alta foi uma medida correta. Em março de 2021, a inflação acumulada nos 12 meses anteriores estava em 6,09%, já relativamente longe do teto da meta (4,5%). O BC entendeu que, sem um aumento nos juros naquele momento, o IPCA sairia do controle. E tornou-se o primeiro entre os bancos centrais das grandes economias a subir sua taxa.   

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Os EUA, para comparar, demoraram. Naquele mesmo março de 2021 a inflação por lá estava em 2,6% – versus uma meta de 2%. Mas o Fed (BC deles) preferiu não mexer nos juros, mantendo a taxa na banda entre 0% e 0,25%. A alta por lá só viria em março de 2022, quando a inflação deles já estava em 8,5% – a maior dos últimos 40 anos nos EUA.    

Na mesma época, a Selic por aqui já estava em 11,25%. E nem assim a inflação dava trégua. Ela chegaria ao pico em abril (12,13%). E o alívio para valer só viria em julho. A inflação dos primeiros 15 dias daquele mês (IPCA-15) veio baixa, em 0,13%. O mercado, então, passou a esperar uma deflação para o IPCA do mês cheio – puxada pelas reduções nos preços dos combustíveis e da energia elétrica.

Nesse cenário, o BC sinalizou que pararia de aumentar os juros. Quando o IPCA veio de fato com uma deflação (-0,68%, reduzindo o índice dos últimos 12 meses para 10,07%), ficou claro que a Selic entraria mesmo num período de estabilização.

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E o mercado respondeu com força. No dia 3 de agosto, o Ibovespa estava em 103,7 mil pontos. Basicamente a mesma pontuação do início do ano. No dia 25 (fechamento desta edição), eram 113,8 mil pontos – um salto de 9,7%. 

O iFix, que é o Ibovespa dos fundos imobiliários, também estava zerado em relação ao início do ano. Do dia 3 em diante, subiu 4,4% – nada mal para um índice pouco dado a altas bruscas. 

É a magia da expectativa por juros mais baixos no futuro. Um feitiço que faz o dinheiro sair da renda fixa e correr para investimentos mais produtivos. E que traz oportunidades mesmo dentro da renda fixa – caso dos títulos IPCA+, que podem passar por uma valorização histórica. Eles são o tema da nossa reportagem de capa.

Que os mercados se movam. Porque é a ascensão deles que faz a humanidade andar para a frente. O resto é consequência.

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