6 erros comuns ao falar (e treinar) inglês

Traduzir tudo do português, ter vergonha de errar e treinar o idioma só pela metade são alguns dos vacilos – mesmo entre gente que já tem um bom domínio do idioma. Veja como evitar esses erros e destravar a língua de vez.

Por Bruno Carbinatto | Ilustração: Yasmin Ayumi | Design: Brenna Oriá | Edição: Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 jul 2022, 11h47 - Publicado em 8 jul 2022, 06h00
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 (Yasmin Ayumi/VOCÊ S/A)
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62% dos empregadores brasileiros consideram o domínio do inglês uma “habilidade importante”, de acordo com uma pesquisa conduzida pela Universidade de Cambridge em 38 países. Até aí, zero novidade. O plot twist vem de outro dado: apenas 5% dos empregadores planejam investir na melhoria das habilidades no idioma entre suas lideranças.

A contradição é clara: o mercado de trabalho quer profissionais habilidosos em inglês, mas não está disposto a ajudar nessa jornada. Cada um tem de correr atrás por conta própria. O lado bom é que, hoje em dia, existem diversos recursos para facilitar isso – de apps gamificados a videoaulas e bons conteúdos gratuitos na internet.

Mesmo assim, é comum se deparar com problemas no meio do caminho – e insistir em erros que dificultam o aprendizado para valer. Nas próximas páginas, vamos examinar quais são os pontos que podem frear seu inglês sem que você perceba, e ver como evitá-los. Let’s go.

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(Yasmin Ayumi/VOCÊ S/A)

1. Ficar no feijão com arroz

Como você responderia à pergunta: “Hi, how are you?”?

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As chances de um brasileiro dizer “I’m fine, thanks. And you?” são altas. É o modo clássico que aprendemos nos livros didáticos, afinal.

Não está errado, é claro. Mas é só feijão com arroz. Na prática, o cardápio da língua varia muito no dia a dia, e não conhecer os ingredientes dessas variações pode, e vai, gerar uma comunicação mais pobre com nativos.

“Um bom falante de inglês é aquele que sabe usar a língua para diferentes propósitos em diferentes contextos”, diz Alberto Costa, senior assessment manager da Cambridge English, que promove qualificações para alunos e professores de inglês.

Ou seja: um dos problemas de quem já tem um certo nível no idioma é se manter sempre nas fórmulas básicas. Para evoluir na língua, é preciso ir além – e as saudações são só o exemplo mais básico.

Para dar uma ideia melhor: a própria pergunta pode vir de muitos jeitos. “How’s it going?”, “How are you doing?” e “You good?” são alguns substitutos comuns.

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Nas respostas: “I’m all right”, “Not bad”, “Pretty good”, “Doing good”, “I’m getting by”, “I’m making it”…

E tem também o clássico e informal “What’s up?” – que é uma pegadinha, diga-se. Por mais que a tradução “E aí?” esteja correta, o sentido da pergunta é um “O que tá pegando?”, e a resposta mais precisa é “Not much” (“Nada de mais”).

A escolha de qual frase usar vai depender do contexto e do nível de intimidade com o interlocutor. Aqui, vale ressaltar que um erro clássico de quem aprende o idioma com foco no mercado de trabalho é mirar apenas no inglês mais formal, já que se pensa que esse seria o único que importa para a carreira. Um engano, é claro, já que as relações de trabalho também têm muito espaço para a informalidade. Quem trabalha diretamente com as redes sociais, então, tem que ficar ainda mais antenado às variações da língua, incluindo gírias e abreviações comuns da internet – e há muitas além do LOL (“Laughing out loud”); tipo IMO (“In my opinion”) e TIME (“Tears in my eyes”).

O ponto aqui é que o inglês dos livros não basta; é preciso ir além. Nisso, a dica que sempre surge é consumir conteúdos em inglês – músicas, filmes, séries, podcasts, vídeos nas redes sociais – para tentar entender e absorver o modo de falar nativo.

Mas também é preciso ter alguns cuidados. O que nos leva ao próximo ponto.

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2. Treino pela metade

Exercitar o inglês via músicas, séries e afins é fundamental, e ainda serve para incluir o estudo nas horas livres, de maneira divertida. Mas é preciso alguns cuidados.

Esse é um ato meramente passivo, enquanto a maior parte do aprendizado acontece de forma ativa – quando você estimula o seu cérebro a formar a própria linha de raciocínio na outra língua. Isso facilita na fixação do conhecimento. Ficar na frente da televisão ou plugar os fones de ouvido é bom, mas não basta. E pior: ficar só nisso pode passar a ilusão de aprendizado.

Quem se dedica a aprender inglês dessa maneira deve estudar de fato o idioma durante as sessões de lazer. Isso inclui anotar palavras desconhecidas para procurar o significado depois, reouvir pronúncias difíceis e tentar adivinhar o significado de expressões novas só pelo contexto.

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O maior problema, porém, é que esse tipo de estudo só treina uma competência: o listening. Apenas ouvir pessoas falando inglês não te ensina a falar de fato. São habilidades diferentes – sendo que falar envolve toda a atividade do seu cérebro de formular frases e também o esforço dos seus músculos faciais e da sua boca para articular as palavras na pronúncia correta. Esse processo, afinal, não é automático. O mesmo vale para textos: ler em inglês não aprimora de cara sua habilidade de escrever na língua de Shakespeare.

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“Pode variar dependendo do contexto, mas, em geral, um falante competente desenvolve as quatro habilidades mais ou menos na mesma proporção”, diz Alberto, se referindo ao listening (“audição”), reading (“leitura”), speaking (“fala”) e writing (“escrita”). O risco aqui é desbalancear essa equação.

Quem aprende inglês via aulas enfrenta menos esse problema, já que os cursos são pensados para abranger a gama toda. Mas, mesmo assim, ainda é preciso treinar no dia a dia – e as habilidades ativas podem acabar ficando de lado.

No caso da escrita, o problema é menor: dá para facilmente incluir a produção de pequenos textos na semana – não precisam ser redações formais, mas coisas como diário ou relatos curtos.

O caso da fala é um pouco mais difícil, já que você precisa de um interlocutor (conversar com as paredes, ainda que possível, não é o mais eficiente). Nesse caso, quem precisa treinar o speaking e não possui uma ajuda fácil pode recorrer a plataformas pagas que oferecem conversas com professores nativos em reuniões online. É o caso da Cambly e da Italki.

3. Falta de planejamento

Outro erro comum é tratar a tarefa como algo a ser feito irregularmente, para quando sobra tempo ou nos momentos em que surge uma oportunidade de colocar o inglês em prática. Não. É preciso manter algum tipo de rotina para garantir que os esforços vão dar certo.

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Além de incluir momentos de dedicação para as quatro habilidades do item anterior, é importante tentar espaçar os estudos em sessões ao longo da semana em vez de concentrar tudo em um ou dois dias, por exemplo. Isso ajuda a manter o conhecimento fresco e acostuma seu cérebro a pensar em inglês, mesmo que um pouquinho por vez.

O planejamento deve ser personalizado: qual seu objetivo final em aprender a língua? Em qual das quatro habilidades você tem mais dificuldade e terá de focar mais? Aplicativos e softwares que ensinam o idioma de forma gamificada, como o Duolingo, funcionam mesmo para você? Você tem um prazo para tentar desenvolver algum ponto específico até lá? (Por exemplo, uma viagem ou uma apresentação importante em inglês.)

O cuidado aqui é não cair na cilada de planejamentos prontos. Não faltam métodos milagrosos internet afora, que prometem o aprendizado do inglês em pouco tempo. Balela. O melhor mesmo é fazer um mapa próprio. E, se tiver dificuldade, buscar um bom professor.

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4. Insistir na tradução

Boa parte dos problemas vem de um vício: traduzir literalmente as coisas do português para o inglês. As duas línguas não possuem diferenças estruturais tão grandes, então, na maioria das vezes, essa lógica não causa erros. Mas, em alguns casos específicos, ela falha, e feio.

Um exemplo clássico: o present perfect, tempo verbal que não tem equivalente exato em português. Nas frases “Eu já morei na Inglaterra” e “Eu morei na Inglaterra em 2012”, o verbo fica igual na nossa língua. Em inglês, não. Como o tempo da primeira não é especificado, usa-se o present perfect: “I have lived in England”. Na segunda, past simple: “I lived in England in 2012”. A mera tradução não capta essa nuance.

Outro exemplo, segundo Alberto, são os phrasal verbs, verbos que vêm acompanhados por preposições ou advérbios. A combinação das duas palavras tem um sentido próprio, diferente do verbo inicial, algo que a tradução não capta. “Get”, por exemplo, é “pegar”, já “get out” “sair”, e “get up”, “levantar”. O truque aí é fazer como as crianças: focar no significado de cada expressão e pronto, não no do verbo que faz parte dela.

Um tópico parecido são os falsos cognatos: palavras que parecem com algumas do português, mas não são. “Pretend” é fingir, não pretender (que é “intend”). “Exquisite” não é esquisito, e sim “requintado” ou “excelente”. A saída aqui é dedicar mais tempo a essas pegadinhas – até que a palavra “sensible”, por exemplo, fique gravada no seu cérebro a ferro e fogo com o significado correto dela: “sensato”, em vez de “sensível”.

5. Medo de errar

Ter alguma timidez ao falar uma língua que não domina com maestria é algo totalmente normal. O problema é quando isso impede o falante de colocar em prática as habilidades que já tem – o que vai enferrujar o seu inglês. Afinal, é clichê, mas é verdade: errando que se aprende.

Mais: o medo de errar costuma ser infundado. O que você deve evitar na fala são erros gramaticais e de pronúncia que realmente dificultam a comunicação. Mas muita gente acaba colocando outros quesitos na análise, o que faz o julgamento da própria performance cair (e a timidez aumentar).

Um deles é o ritmo. “Uma das coisas que os brasileiros acham é que falar inglês bem é falar inglês rápido”, diz Alberto. “Isso, infelizmente, é um obstáculo pessoal. Focar na articulação da pronúncia para ficar mais claro é mais importante que a rapidez.”

Outra fonte de temores infundados: o sotaque. Muitos receiam que ele torna o seu inglês inferior. Não faz sentido. Afinal, todo não nativo mundo tem algum sotaque. E perder totalmente o sotaque é uma tarefa impossível para a grande maioria (ao menos entre adultos).

Vale lembrar também que a própria língua inglesa é recheada de sotaques diferentes. Um exemplo: o som de “th” varia muito de lugar para lugar. Geralmente aprendemos que é preciso colocar a língua entre os dentes para pronunciá-lo, mas nem isso é uma regra. Em algumas regiões da Inglaterra, por exemplo, o som pode ter simplesmente som de “t” ou “d”: “thing” vira “ting”, por exemplo, e “this” soa como “dis”.

Claro que isso pode soar estranho para alguém que nasceu em Nova York. Mas boa parte dos nativos está mais do que acostumada a ouvir todo tipo de entonação. Se quiser falar um inglês mais americano, tente e treine. Mas não deixe que o medo de errar certas pronúncias trave a sua língua.

6. Ter pressa

Você já colocou “inglês fluente” no seu currículo?

A exigência do inglês é tão grande no mercado de trabalho que muita gente faz isso – e, na hora da entrevista, acaba passando vergonha.

De fato, a fluência para falantes não nativos é algo que demora, e poucos são de fato fluentes.

A boa notícia é que a fluência não é uma necessidade. Um nível de inglês avançado é mais do que suficiente para entender conversas facilmente e escrever textos complexos. Mesmo alguém com nível intermediário consegue manter uma boa conversa com um nativo, com ruídos mínimos. E isso quem diz é a descrição do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, uma das classificações de nível de inglês mais usadas no mundo.

É claro que essa supervalorização do “inglês fluente” vem de uma característica do próprio mercado de trabalho, que exige tal qualificação sem, muitas vezes, especificar o que ela significa. Seria melhor se toda vaga elencasse exatamente quais atividades no idioma o candidato precisa cumprir: enviar e-mails em inglês, transcrever áudios, participar de reuniões etc.

O ponto aqui é: não coloque o carro na frente dos bois. Seu inglês pode já ser suficiente para aquilo que sua vida profissional vai exigir. O importante é seguir aprendendo. Tal como você faz, sem querer, com o português mesmo. E lembre-se: se você chegou até o fim deste texto, significa que está realmente interessado em progredir. Já é meio caminho andado. Well done. 

Em resumo: 

1. De tudo um pouco
O aprendizado é dividido em quatro competências: listening (“audição”), reading (“leitura”), speaking (“fala”) e writing (“escrita”). Os dois últimos, mais ativos, costumam ser negligenciados nos estudos. É importante balancear um pouco de cada na sua rotina.

2. Cuidado com o lazer

Filmes, séries e músicas em inglês podem ajudar no treino do idioma. Mas não se pode confundir lazer com estudos: é preciso entender que isso é só um complemento, e ainda exige uma atenção especial ao idioma enquanto você consome o conteúdo.

3. Aprendizado constante

Nada de concentrar todos os estudos apenas na aula ou em algum dia da semana. Para seu cérebro se acostumar com o idioma e pensar nele com a mesma naturalidade do português, é preciso ter contato frequente com o inglês – de preferência, um pouquinho por dia.

4. Coloque-se à prova

Mesmo que o objetivo não seja passar em provas formais, é importante se testar constantemente – chamando alguém para uma conversa em inglês, por exemplo. Isso ajuda a mapear onde estão as principais deficiências que precisam de reforço nos estudos.

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