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O canal de Suez continua bloqueado, mas a Eletrobras faz a fila andar

Estatal sobe quase 5% após indicar novo presidente. E investidores nem se importaram que a indicação de Rodrigo Limp veio do governo.

Por Guilherme Eler, Tássia Kastner
Atualizado em 25 mar 2021, 19h01 - Publicado em 25 mar 2021, 18h27

A gente duvida que alguém no planeta Terra tenha passado o dia sem acompanhar a saga do meganavio encalhado no canal de Suez – já se passaram mais de 24 horas e ele segue lá. É quase uma metáfora da vida na pandemia, em que nada parece sair do lugar (agora, nem o comércio mundial). Mas a Eletrobras fez a fila andar e as ações da empresa saltaram quase 5% nesta quinta-feira (25).

O conselho de administração da estatal aprovou o nome de Rodrigo Limp para a presidência da companhia, substituindo Wilson Ferreira Júnior, que renunciou ao cargo no fim de janeiro. 

Limp, que foi secretário de energia do Ministério de Minas e Energia e ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), chega ao cargo por indicação da União. Foi um movimento incomum. Tudo porque o nome não tinha sequer entrado na lista de candidatos da assessoria Korn Ferry, contratada exatamente para pescar no mercado o nome ideal para a sucessão.

Tanto que Mauro Rodrigues da Cunha, que era o representante dos acionistas minoritários no conselho de administração, pediu demissão. Em manifestação de voto e renúncia contra a decisão pela escolha de Limp, Cunha diz que houve “quebra de confiança do processo de governança”. Alguém falou em ESG por aqui? 

Tinha tudo para azedar os ânimos do mercado, que anda dizendo por aí que está farto das intervenções políticas do governo nas empresas estatais foi ontem a troca do presidente da Petrobras e a renúncia do CEO do Banco do Brasil. 

Mas investidores abraçaram a escolha. “De fato, o mercado gostou de ouvir o nome do Rodrigo Limp”, comenta Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. “É claro, existe esse receio por ser uma interferência do governo, que não segue o método natural de contratação de um CEO de uma companhia tão relevante. O ponto é que o nome, pelo currículo, pode dar andamento ao processo de privatização”, completou.

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Quer mais opiniões favoráveis? Tem. Analistas do BTG escreveram em relatório que encontrar no mercado um candidato a presidente era uma tarefa difícil e que Limp trabalhou pela privatização da Eletrobras desde a chegada ao governo. Completaram: “ele é um nome bastante técnico, apesar de não ter experiência em gestão de empresas”.

Música para os ouvidos dos investidores. Quando Wilson Ferreira Júnior deixou a companhia, as ações derreteram. Ele foi o responsável por reequilibrar as contas da estatal, pagou dividendos polpudos aos acionistas e ainda era defensor da privatização. Com a saída, o mercado entendeu que ele havia jogado a toalha pela falta de defesa do governo à desestatização – não só da Eletrobras, mas de todas as outras, já que essa é uma promessa que não foi a lugar algum no governo Bolsonaro.

O governo agora trabalha por uma espécie de privatização. A ideia é vender novas ações da Eletrobras no mercado, colocando mais dinheiro no caixa da companhia. Isso é chamado de capitalização. Quando uma empresa é capitalizada, o acionista majoritário tem o direito de comprar mais ações (chama-se subscrição) para manter a mesma fatia da empresa maior. Pela Medida Provisória enviada pelo governo ao Congresso para a privatização da Eletrobras, a União ficará impedida de fazer a subscrição. No fim, ela continua acionista e fica ainda com uma ação com superpoderes (chamada de golden share, como a que o governo tem na Vale e na Embraer). 

 É esse o plano que agora o mercado espera que Limp toque, apesar de alguns analistas considerarem uma privatização para inglês ver. No fim do dia, as ações subiram +4,96% e fecharam a R$33,89.

O setor elétrico como um todo teve um dia de glória. A Equatorial Energia, holding que controla distribuidoras no norte e nordeste do país, teve alta motivada pelos bons resultados que apresentou no ano passado. A companhia divulgou que seu lucro líquido foi 6,8% maior no quarto trimestre de 2020. Foram R,40 bilhão a mais em relação ao lucro do mesmo período de 2019. Além disso, a Energisa entrou no Top4 das maiores altas do dia.

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A festa do setor elétrico ganhou a companhia dos bancos, que também subiram em bloco com as falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a inflação e o ciclo de alta de juros. 

E teve ainda a Petrobras. Acionistas da companhia estão dentro do meme do John Travolta, olhando pros lados e tentando entender o que levar em conta para decidir o preço justo das ações.

Ontem as ações tinham subido. Natural. O petróleo havia se valorizado depois que o navio encalhou lá no Egito, travando o transporte da matéria-prima. Aí que hoje ninguém mais se importou com a possibilidade de que o canal de Suez passe semanas interrompido (a empresa dona da embarcação mandou um “foi mal aê, galera” por atrapalhar o comércio global).

O petróleo voltou a cair com força. Hoje investidores pensaram que “tanto faz” aqueles 10% do produto que passam pelo canal, já que mais países fecham as economias para conter a disseminação do coronavírus. O tombo do petróleo Brent foi de -3,81% – e do WTI, -4,28%.

E a Petrobras? Contrariando as expectativas, subiu 1,91%. Uma explicação vem daquilo que dissemos ontem: o cenário de intervenção do governo da companhia é tão complexo que a queda do petróleo permite reduções de preços e isso diminui o impacto na inflação e o ímpeto intervencionista de Bolsonaro. A outra explicação é que a Petrobras pega carona no bom momento da irmã Eletrobras.

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Juntas, elas ajudaram a colocar o Ibovespa de volta no positivo depois de três dias de baixa. O índice subiu 1,50% e terminou em 113.749 pontos. Melhor que o exterior, que terminou com alta mais modesta. +0,52% no S&P e +0,12% na Nasdaq. Que a semana vai terminar com o Ibovespa voltando aos 114.000 pontos, fica difícil apostar. De certo, mesmo, só o navio Ever Given bloqueando a passagem no Canal de Suez.

Maiores altas

Equatorial Energia: 6,95%

Pão de Açúcar: 5,25%

ViaVarejo: 5,24%

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Energisa: 5,11%

Eletrobras: 4,96%

Maiores baixas

SulAmérica: -2,82%

CCR: -2,11%

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Minerva Foods: -1,51%

EcoRodovias: -1,42%

Vale: -0,76%

Em NY:

S&P 500: +0,52%%, aos 3.909 pontos

Nasdaq: +0,12%, aos 12.977 pontos 

Dow Jones: +0,62%, aos 32.619 pontos 

Dólar: +0,55%, a R$ 5,67

Petróleo

Brent: 3,81%, a US$ 61,95

WTI: 4,28%, a US$ 58,56

Minério de ferro: alta de +2,7%, na bolsa de Dalian (China).

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