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Navio encalhado no Canal de Suez bagunça a logística global e a vida da Petrobras

Enquanto o mercado estava de olho no resgate do navio no Egito, o Carrefour disparou 12% após a compra do Grupo Big.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
24 mar 2021, 18h33

Quando um barco qualquer, um caminhão ou o seu carro quebram por aí, o mercado financeiro não liga. Óbvio. Mas quando um navio resolve encalhar no meio de uma importante rota comercial, aí até os planos da Petrobras, aqui no Brasil, podem balançar — mesmo que por pouco tempo. 

Um meganavio do tamanho do Empire State Building deitado (ou seja, 400 metros de comprimento) encalhou na manhã desta quarta (24) no Canal de Suez, no Egito. A embarcação seguia rumo ao porto de Rotterdam, na Holanda, quando foi atingida por uma forte rajada de vento. Mover 200 mil toneladas que alcançam costa a costa do canal em 45 graus não é uma missão nem perto de trivial e, enquanto esse mastodonte é resgatado, outras 100 embarcações estão esperando o caminho ser liberado. O canal praticamente virou uma Marginal Tietê na véspera de feriado. 

Acontece que o Canal de Suez é uma das principais rotas de transporte de carga, só perde para o Canal do Panamá. E adivinha qual é o principal produto que passa por ali? Sim, o petróleo – o canal é responsável por 10% do fluxo do petróleo global.  

A situação é tão incomum que até interferiu nos preços. Hoje tinha tudo para o petróleo WTI, que é referência nos Estados Unidos, cair. Os estoques do ouro negro no EUA subiram 1,912 milhão de barris na semana passada, ante consenso de queda de 200 mil – o que significa fraca demanda do produto. O tipo Brent subiu 5,95%, enquanto o WTI valorizou 5,92%. As altas só não foram maiores por causa da terceira onda de Covid-19 na Ásia e Europa, que tendem a reduzir a demanda pelo produto novamente.

Esse petróleo em alta foi um balde de água fria na Petrobras. Também nesta quarta, a companhia anunciou a segunda redução no preço dos combustíveis do ano  — isso depois de seis altas seguidas. Esses cortes foram possíveis porque os preços do petróleo finalmente vinham dando uma trégua depois de terem recuperado todas as perdas da pandemia (o dólar parar de subir também ajudou). Hoje, a Petro anunciou a redução de 3,7% no preço do litro da gasolina e 3,8% no litro do diesel.

Aqui vem uma contradição, mas explicamos. A alta da matéria-prima é boa para a Petrobras. Quem não concorda com isso é o governo, claro. Os preços subiram tanto que começaram a bater na inflação e na popularidade do presidente Jair Bolsonaro. O que ele fez? Interferiu na companhia. Tirou do comando da estatal Roberto Castello Branco e colocou no lugar o general Joaquim Silva e Luna. 

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Ter a possibilidade de reduzir os preços dos combustíveis ajuda a Petrobras a acalmar os ânimos do presidente e do mercado, que por muito tempo ainda vai temer novas intervenções do governo. Não à toa, os preços das ações da companhia ainda estão 20% abaixo do patamar pré-troca de presidente.

Nesta quarta, Luna disse esperar que o governo encontre uma solução para evitar volatilidades de preços de combustíveis, mas que não cederá a eventuais pressões políticas; principalmente no que diz respeito à troca de cargos na diretoria da estatal. O que ele não esperava era uma alta do petróleo por causa de um navio encalhado assim às vésperas de começar sua gestão. 

A partir de agora, os preços da commodity vão depender do tempo que vai levar para fazer o navio se mover — tudo indica que é coisa temporária, mas não é tão óbvio. Para além das questões de saúde, um dos grandes problemas da pandemia é que ela desorganizou a logística global. Entregas de tudo que é produto estão atrasadas pelo mundo todo — aqui no Brasil, cinco montadoras decidiram suspender a produção por causa da piora da pandemia, mas também porque faltam peças para os veículos.

No final do dia, a Petro subiu com a recuperação do petróleo e fechou em alta modesta de 0,31%. Durante o dia, a valorização tinha sido maior e ajudava a manter o Ibovespa no positivo. Mas no final da tarde, os ânimos viraram aqui e nos Estados Unidos, culpa do pessimismo do exterior em relação à pandemia. O Ibovespa caiu 1,06% e fechou na mínima de 112.064 pontos. Lá fora, o Nasdaq Composite recuou 2,01% (aos 12.961 pontos), seguida pelo S&P 500 (queda de 0,55%, aos 3.889 pontos). Já o Dow Jones encerrou estável: -0,01%, aos 32.420 pontos.

Aqui tivemos o plus doméstico: no final da tarde, 16 governadores entregaram ao presidente da Câmara, Arthur Lira, uma carta pedindo que o auxílio emergencial seguisse os mesmos critérios do ano passado. Pagamentos de R$ 600 e mesmo número de beneficiados. Se avançar, significará um aumento de gastos e mais dívida. Aí os juros futuros subiram, um sinal de que investidores vão cobrar mais caro para emprestar dinheiro novo ao governo. 

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Quem ignorou a bagunça toda de navio e auxílio emergencial foi o Carrefour. O gigante varejista anunciou a compra do Grupo Big Brasil, do Walmart, por R$ 7,5 bilhões. Desse total, R$ 5,25 bilhões serão pagos em dinheiro aos atuais controladores e o resto por meio de ações da companhia francesa.

Com a aquisição, o Carrefour deve expandir a sua presença em regiões como o Nordeste e Sul. Segundo análise do banco de investimentos UBS, o Ebitda da nova companhia pode chegar a R$ 1,7 bilhão em três anos. Os papéis da empresa dispararam 12,77%, para a alegria dos acionistas. 

Maiores altas

Carrefour: 12,77%

Vale: 2,79%

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Suzano: 2,69%

Gol: 2,46%

CCR: 2,07%

Maiores baixas

IRB Brasil: -6,20%

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Via Varejo: -5,62%

Magazine Luiza: -5,21%

Cyrela: -4,71%

Eneva: -4,62%

Ibovespa: -1,06%, aos 112.064 pontos

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Em NY:

S&P 500: -0,55%, aos 3.889 pontos

Nasdaq: -2,01%, aos 12.961pontos 

Dow Jones: -0,01%, aos 32.420 pontos 

Dólar: +2,25%, a R$ 5,63

Petróleo

Brent: +5,95%, a US$ 64,41

WTI: 5,92%, a US$ 61,18

Minério de ferro: queda de 0,25%, no porto de Qingdao (China)

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