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Novela do Orçamento joga balde de água fria no Ibovespa

Inflação em 6,1% também não ajuda. A queda foi de 0,54%. Na semana, quem se deu bem foram as empresas brasileiras que têm a ganhar com o “PAC” de Biden.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 9 abr 2021, 20h35 - Publicado em 9 abr 2021, 18h28

Com um cenário de muitas incertezas em Brasília, a inflação em 12 meses acima do teto da meta, e um quadro internacional morno, o Ibovespa fechou em queda de -0,54% nesta sexta-feira (09), após pequenas perdas e ganhos ao longo do dia que ora ameaçavam manter a marca de 118 mil pontos, ora a perder. No fim, perdeu: 117.669 pontos.

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Os recuos do mercado seguem mais um capítulo da novela da aprovação (ou não) do Orçamento Geral da União, que gera uma disputa entre Congresso e Planalto. Nesta tarde, Senado e Câmara reiteraram, através de seus pareceres técnicos, que o Presidente pode sancionar o Orçamento como está, sem vetos. 

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Bolsonaro, por outro lado, não está tão disposto a colocar seu mandato em risco. O receio é que, se o Orçamento for aprovado como está, pedaladas fiscais poderão ser necessárias para corrigir a falta de dinheiro em setores essenciais. Isso significaria descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal – o que abre uma grande margem para um processo de impeachment, já tão discutido por setores da oposição. 

Quem também não gosta da ideia é o mercado, que teme que a aprovação do Orçamento como está pode tornar o descumprimento do tão estimado teto de gastos algo inevitável. E aprovar um teto para não cumpri-lo seria basicamente assumir que não há mais controle algum sobre as finanças públicas. 

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Eis o impasse.

Essa novela não é nova e já afeta o mercado há um bom tempo, mas um novo capítulo ontem ajudou a deixar tudo mais complicado: o Supremo Tribunal Federal, através do ministro Luís Roberto Barroso, determinou que o Senado abra a CPI da pandemia para investigar a atuação do governo federal durante o combate à Covid-19 no Brasil. Isso, avaliam investidores, pode tornar a relação entre Congresso e Planalto ainda mais belicosa – e adiar a resolução do impasse orçamentário.

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Enquanto isso, a inflação confirmou a tendência de alta: o IPCA, divulgado pelo IBGE nesta manhã, foi de 0,93% em março, maior alta para o mês desde 2015. No período de 12 meses, ficou em 6,10%, puxado principalmente pelos aumentos nos preços dos combustíveis. O teto da meta, ou seja, o máximo que o Banco Central considera tolerável, é de 5,25%. Em fevereiro, o IPCA em 12 meses já tinha fechado em 5,20% (já tirando tinta do teto da meta). Mas só agora dá para considerá-lo oficialmente furado.

O valor de março foi até menor que a mediana das projeções (1,01%). Mesmo assim, preocupou o mercado. Se a perspectiva já era de juros altos, agora começa solidificar-se um cenário de forte alta na Selic (posto que não há outro remédio contra a inflação). Especula-se uma Selic em 4,5% para o fim do ano. E de 6% em 2022.

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Selic alta significa juros mais pesados na praça. Aí não tem jeito: o consumo diminui. Resultado: o setor de varejo protagonizou as maiores quedas do dia, após terem ensaiado uma recuperação ontem: Via Varejo (-3,48%), Pão de Açúcar (−3.24%) e Carrefour (−2,20%) estiveram entre as maiores baixas do dia.

Na outra ponta, a dos ganhos, destaque para a Sabesp. A companhia anunciou hoje uma nova revisão tarifária autorizada pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), considerada positiva pelos investidores. 

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Cenário externo mais positivo

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Já os EUA tiveram mais um dia positivo, com altas firmes no S&P 500 (0,77%) e no Dow Jones (0,89%), com ambos renovando seus recordes de maiores altas históricas. O Índice  Nasdaq, que mede o desempenho do setor de tecnologia, também fechou no azul: 0,51%. 

A alta reflete a confiança no ambicioso pacote de investimentos proposto pelo governo Biden que, tudo indica, deverá ser aprovado. É praticamente um “Programa de Aceleração do Crescimento”, que propõe gastos públicos de US$ 3 trilhões nos próximos anos em infraestrutura (estradas, portos, ferrovias…).

Mas não fica nisso. A expectativa é a de que as empresas americanas de capital aberto reportem seus maiores lucros em 10 anos – por conta da enxurrada de dinheiro novo produzido pelo Fed (o Banco Central deles) e que foi direto para os bolsos dos consumidores americanos.

No balanço da semana, a tendência se manteve: empresas que dependem de um cenário externo positivo se deram bem. A CSN (+17,09%) e a Usiminas (+15,59%), por exemplo, tendem a ganhar mais clientes para o seu aço nos EUA com o pacotão de infraestrutura. A Embraer, que tende a se dar bem quando o cenário nos EUA é positivo, também fechou bonito: 14,82%.

Já as ações ligadas ao comércio e à logística no Brasil sofreram, com Lojas Renner (-3,31%), Lojas Americanas (-2,19%) e Cosan (-3,94%) entre as baixas mais duras da semana.

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Agora é esperar pela próxima. Bom descanso 🙂

Maiores altas

CSN: +4,84%

Usiminas: +3,39%

MRV Engenharia: +2,93%

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Sabesp:  +2,70%

Iguatemi: +2,58%

Maiores baixas

Via Varejo: -3,48%

Pão de Açúcar: −3,24%

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Ultrapar: −2,43%

Petrobras Distribuidora: -2,23%

Carrefour: −2,20%

Ibovespa:  -0,54%, a 117.669 pontos

Em NY:

S&P 500: +0,77% a 4.128 pontos

Nasdaq: +0,51% a 13.900 pontos

Dow Jones: +0,89% a 33.800 pontos

Dólar: 1,81%, a R$ 5,6749

Petróleo

Brent: -0,40%, a US$ 62,95 

WTI: -0,47%, a US$ 59,32

Minério de ferro: +0,25% no porto de Qingdao (China), a US$ 173,54 a tonelada.  

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