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Ibovespa passa 1º de abril preocupado com o Orçamento “de mentira”

Índice recuou 1,18% e perdeu o bonde do S&P 500, que fechou pela primeira vez na história acima dos 4.000 pontos

Por Guilherme Eler, Tássia Kastner
Atualizado em 1 abr 2021, 19h39 - Publicado em 1 abr 2021, 19h26
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 (Tiago Araujo/Reprodução)
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No dia da mentira, a baixa do Ibovespa foi verdadeira: 1,18% de queda. A bolsa brasileira se descolou do bom humor do exterior: nos Estados Unidos, o índice S&P 500 passou pela primeira vez a marca simbólica de 4 mil pontos e terminou o dia com um novo recorde.

Por aqui, o que ajudou a derrubar o índice foi a cautela com os problemas de ordem fiscal, isso depois de dias fingindo que nada estava acontecendo em Brasília. O impasse é o seguinte: quem vai sofrer cortes para que o Orçamento, classificado como fictício, seja viável.

Para a conta fechar, é preciso cortar R$ 31,9 bilhões. Depois de muitos apelos da equipe econômica, o senador Márcio Bittar, relator do orçamento, prometeu na última quarta-feira, 31, cortar R$ 10 bilhões em emendas extras – como na realização de obras pelo governo. Depois, aceitaram elevar o corte para R$ 13 bilhões.

É pouco se o objetivo é cumprir o tal do teto de gastos (garantir que as despesas cresçam apenas pela inflação de um ano para o outro) tão defendido pelo mercado financeiro para controlar o crescimento da dívida pública. Na quarta, o Banco Central anunciou que a dívida alcançou 90% do PIB. No cenário mais pessimista, a dívida poderia chegar a comprometer 100% do PIB entre 2022 ou 2023.

Não é só uma questão de tamanho do corte de gastos. O plano de gastos subestimou despesas obrigatórias, como aposentadorias e benefícios sociais, por exemplo. Então, ainda é preciso remanejar gastos. Isso significa que parlamentares perderiam verbas para investimentos, tão caras para ajudar os estados de origem e garantir votos nas próximas eleições.

Sem reduzir gastos, o presidente Bolsonaro fica em uma sinuca de bico: sancionar o relatório é ensaiar futuras pedaladas para corrigir a falta de grana em setores essenciais. Isso significaria descumprir a Lei de Responsabilidade fiscal e, por tabela, alimentar a pressão por um processo de impeachment – algo especialmente perigoso em meio à crise sanitária causada pela pandemia. 

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O ministro Paulo Guedes (Economia) recomendou que Bolsonaro vete o texto. Arthur Lira diz que não há crime de responsabilidade enquanto o gasto não é feito, o que é praticamente matar no peito e dizer “libera a chave do cofre que eu te garanto”.

O ponto é que o mercado financeiro comprou, em fevereiro, a ideia de que a saída de Rodrigo Maia da presidência da Câmara dos Deputados ajudaria no diálogo de Guedes com o Congresso e faria avançar as reformas. Essa disputa pela chave do cofre azedou os ânimos.

Enquanto isso, o cofre parece cada vez mais aberto. Enquanto tenta ajustar o Orçamento, a equipe econômica debate a reedição do decreto de calamidade pública pela pandemia. Foi essa a medida que permitiu ao governo, no ano passado, fazer o pagamento do auxílio emergencial e compensar trabalhadores que sofreram redução de salário e de jornada. Com o decreto, essas despesas novamente ficariam de fora do teto em 2021, preservando mais uma vez o presidente de ser responsabilizado por não obedecer a lei de responsabilidade fiscal. As medidas são necessárias para minimizar os impactos econômicos da segunda onda do coronavírus no país, que já mata quase 4.000 pessoas por dia. 

No entanto, os gastos extras, fora ou dentro do teto, precisam ser financiados de alguma forma, o que eleva a dívida pública. Aí investidores cobram taxas mais gordas para financiar o governo, pelo medo de um calote, tornando a situação fiscal do país ainda mais complexa.

Os contratos de juros futuros negociados na B3 avançaram. O vencimento em 2021 subiu para 4,625% e o 2029 avançou para 9,11%. Na mesma toada do medo fiscal foi o dólar, que avançou 1,45% e fechou em R$ 5,71.

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Nesse caos político e risco fiscal, não deu para o Ibovespa, que cedeu 1,18% e terminou o dia em 115.253 pontos. O balanço da semana curta, que teve também reforma ministerial e queda de todos os comandantes das Forças Armadas, o resultado não foi tão ruim – alta de 0,41%. Isso claro, se não for colocado em perspectiva: o mês de março, o primeiro do ano em que o Ibovespa terminou no azul, fechou em alta de 6%.

Os 4.000 pontos

A história complicou tanto por aqui que o Brasil perdeu a carona da alta do S&P 500. O índice fechou na máxima de 4.019 pontos. Foi a primeira vez que ele superou os 4.000 pontos. Os índices Nasdaq e Dow Jones também avançaram.

As bolsas foram puxadas pelo anúncio de um pacote de investimentos em infraestrutura que pode alcançar os US$ 2,25 trilhões, a serem distribuídos em oito anos . É mais uma rodada de estímulo à economia do governo Biden, que tenta forçar a recuperação após a pandemia. 

No início de março, o senado dos EUA aprovou um pacote econômico do presidente Joe Biden, que injetou US$ 1.9 trilhões na economia. A medida liberou o pagamento de cheques de socorro às famílias, no valor de US$ 1,4 mil.

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Sem a festa em Nova York, o que nos resta é ir para o feriado lamber as feridas do país.

Maiores altas

Braskem: 2,19%

Assai: 1,63%

Klabin: 1,52%

ViaVarejo: 1,49%

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B2W: 1,35%

Maiores baixas

Qualicorp: -4,42%

Bradesco (BBDC3): -3,66%

Gerdau: -3,50%

Bradesco (BBDC4): -3,45%

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Eneva: -2,93%

Ibovespa: -1,18%, aos 115.223 pontos

Bolsas americanas

Dow Jones: 0,52%, a 33.153 pontos

S&P 500: 1,18%, a 4.019 pontos

Nasdaq: 1,76%, a 13.480 pontos

Dólar: 1,45%, a R$ 5,71

Petróleo

Brent: 3,37%, a US$ 64,86

WTI: 3,87%, a US$ 61,45 

Minério de ferro

Alta de 1,5% no porto de Qingdao, negociado a US$ 167,60 por tonelada.

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