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Ibov tenta reparar estrago com alta de 1,5% enquanto dólar brinca de montanha-russa

Dia positivo no exterior ajudou a bolsa brasileira. Já a moeda americana continua como melhor termômetro do caos da reforma tributária e dos escândalos com vacinas.

Por Juliana Américo
7 jul 2021, 18h43

É o que dizem: depois da tempestade, vem a calmaria. Ok, hoje não foi exatamente esse dia, já que várias nuvens ainda atormentam a Faria Lima. Só que, comparado com dois dias seguidos de quedas que somavam quase 2% de perdas no Ibovespa, o pregão desta quarta foi um céu de brigadeiro. 

Sem nada que justificasse de verdade, o clima foi positivo para a bolsa desde cedo. Às 15h, veio o endosso do Federal Reserve (o banco central americano) para o bom humor. Foi na forma de ata da última reunião do Fed, realizada em junho. O documento divulgado nesta tarde detalha a visão dos membros do BC americano para a economia e o que eles pretendem fazer para manter a atividade nos trilhos. De novo, é aquela história da inflação americana estar subindo rápido demais ou não. 

O lance é que ela até está acima da meta, mas o Fed tem também o compromisso de melhor nível de emprego. O último payroll, que é o relatório de empregos, foi positivo: foram criados 850 mil postos de trabalho em junho. Além disso, a vacinação está avançando no país (ainda que longe da meta de 70% dos, que Joe Biden queria ter alcançado até 4 de julho). Os dirigentes entendem, ainda assim, que dá para melhorar mais antes de sair retirando os estímulos.  

Disso, o mercado entendeu que os juros ficam em 0% a 0,25%, assim como a injeção de US$ 120 bilhões por mês em compra de títulos públicos (essa é a parte que investidores esperam que seja cortada primeiro).

Com tudo dentro do esperado, o S&P 500 subiu 0,34%, aos 4.358 pontos. Já o Nasdaq ficou estável (+0,01%) nos 14.665 pontos.

Por aqui, o Ibovespa ganhou respaldo e aproveitou para recuperar as perdas dos últimos dias: alta de 1,54%, aos 127.018 pontos. Os ganhos foram generalizados e 78 ações, das 84 listadas no Ibov, fecharam no positivo. 

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Montanha-russa do dólar

Só que a gente continua com as nossas questões domésticas mal resolvidas, e isso apareceu no dólar, que brincou de montanha-russa. O dólar amanheceu nos R$ 5,20, caiu para R$ 5,17 e chegou a bater a marca dos R$ 5,28, voltou para R$ 5,21 após o Fed, mas terminou com alta de 0,60%, nos R$ 5,2403. Haja coração. 

Esse já é o sétimo dia seguido de alta da moeda – uma valorização de 6% no período. Pobre do planejamento de quem precisa importar matéria-prima. Fica impossível. 

Nesta quarta, o mercado financeiro começou a desconfiar que estrangeiros também não curtiram a tal da reforma do IR de Paulo Guedes e a ideia de cobrar imposto sobre dividendos.

Bem, ninguém gosta de pagar imposto mesmo. Risos. Só que nada mudou desde a divulgação da proposta, há quase duas semanas. E mesmo depois do anúncio, a B3 continuava a apontar entrada de recursos de gringos em ações.

Enroscado mesmo está o cenário em Brasília, com todas as denúncias de corrupção envolvendo a compra de vacinas. Estrangeiro detesta essa confusão porque isso atrapalha, inclusive, o andamento das reformas, como essa do IR. 

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Por sinal, o pai da proposta, o ministro Paulo Guedes, falou sobre o dólar enquanto a moeda escalava para perto de R$ 5.30. O ministro da economia disse que já era para o dólar ter “afundado”, depois do aumento das exportações. 

Ele afirmou ainda que a moeda em R$ 5 favorece o turismo brasileiro. A justificativa é de que famílias ricas estão trocando viagens para o exterior por destinos dentro do país. Ele só parece ter esquecido que as pessoas não viajam para fora porque não as fronteiras estão fechadas mesmo, isso sem falar no impacto direto que o dólar tem nos preços de produtos. O combustível entre eles.

Longe da agenda liberal

Um dia após a entrada em vigor de um aumento de combustíveis, Bolsonaro chiou. O presidente disse durante uma entrevista à rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, que conversou com o presidente da Petrobras sobre o tema e disse que planeja abrir os preços dos combustíveis nas refinarias, com o detalhamento de impostos. “O povo tem que saber quem é o responsável pelo aumento do preço da gasolina. Eu quero divulgar o valor do imposto federal”, afirmou. 

Faz tempo que Bolsonaro coloca a culpa da alta dos combustíveis nos governadores. Só que esse é um problema maior. O petróleo está acima dos US$ 70, no maior patamar desde 2018. O outro componente do preço é o dólar, que sobe – entre outras razões – quando há uma crise política.

Nisso, o presidente dizer que “conversou” com o CEO da estatal não ajuda. Esse foi o primeiro aumento destes combustíveis desde que General Joaquim Silva e Luna assumiu o comando da estatal, a pouco mais de dois meses. Vale lembrar que foi a insatisfação de Bolsonaro com a alta nos combustíveis que fez a cabeça do ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, rolar lá em fevereiro. E isso não deixou o mercado nem um pouco feliz. Os investidores têm receio de que essas interferências do governo acabem com a agenda liberal prometida nas eleições de 2018. 

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Hoje, porém, a estatal teve alta de 1,37%, seguindo o movimento positivo do Ibov e se desviando da queda no preço do petróleo.

No fim, quando a vontade de recuperação no mercado bate, ninguém se importa com as nuvens que recomeçam a se formar no céu.

Maiores altas

Locamerica: 5,46%

Localiza: 5,30%

Weg: 4,93%

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Eneva: 4,85%

Magalu: 4,71%

Maiores baixas

PetroRio: -2,12%

CVC: -0,76%

Banco Inter: -0,62%

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BRF: -0,38%

Braskem: -0,24%

Ibovespa: alta de 1,54%, aos 127.018 pontos

Em NY:

S&P 500: alta de 0,34%, aos 4.358 pontos

Nasdaq: estável (+0,01%), aos 14.665 pontos 

Dow Jones: alta de 0,30%, aos 34.681 pontos 

Dólar: alta de 0,60%, a R$ 5,2403

Petróleo

Brent: queda de 1,48%, a US$ 73,43

WTI: queda de 1,59%, a US$ 72,20

Minério de ferro: estável (+0,01%), US$ 222,39 no porto de Qingdao (China)

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