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Como funcionava o golpe com penny stocks do Lobo de Wall Street

Entenda como Leonardo DiCaprio – quer dizer, Jordan Belfort (rs) – manipulava o preço das ações de empresas pequenas para roubar investidores nos anos 1990.

Por Bruno Vaiano | Design: Brenna Oriá | Ilustrações: Estevan Silveira | Edição: Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 set 2022, 08h24 - Publicado em 5 set 2022, 20h09

Uma bolsa de valores não negocia qualquer ação – as empresas precisam preencher certos pré-requisitos para participar do pregão de gente grande. A NYSE, por exemplo, exige que haja no mínimo 1,1 milhões de papéis disponíveis aos investidores – os que pertencem a dirigentes da companhia e suas famílias não contam. Nenhum papel pode estar cotado a menos de US$ 4 cada um, e o valor somado somado deles deve superar US$ 40 milhões. 

Isso não significa que firmas menores não possam abrir capital. Mas suas ações acabam negociadas em um mercado paralelo chamado over the counter – “mercado de balcão” –, sem intermédio nem fiscalização de um órgão como a NYSE. Muitos desses papéis custam centavos, e por isso são apelidados de penny stocks (penny é o nome da moeda de um cent). 

Em 1989, os sócios Jordan Belfort e Danny Porish – dois corretores americanos de vinte e tantos anos – fundaram a Stratton Oakmont, uma corretora especializada em negociar ações de peixes pequenos. Eles organizaram 35 IPOs, e montaram o esquema criminoso que rendeu a Belfort a alcunha de Lobo de Wall Street. 

Primeiro, Belfort comprava um montão de penny stocks de uma só empresa. Para não levantar suspeitas, usava um arsenal de nomes falsos – nada de envolver a Stratton; a ideia era simular uma alta na demanda, o que fazia o preço subir. E com penny stocks, qualquer alta de US$ 0,10 já pode representar uma ascensão de 100%. 

Então, vinha a loucura. Um exército de corretores – no auge da Stratton, eram mais de mil – começava a ligar para potenciais otários e oferecer essas ações que subiam loucamente. “Olha só, temos uns papéis de uma empresa de material de escritório, a Dunder Mifflin, subindo 30% ao dia. É lucro líquido e certo. Quer comprar? Quer, né?”

Eles botavam tanta pressão (e trabalhavam tão estressados) que o call center chamava boiler room – o porão de um navio ou fábrica, onde se queima carvão para evaporar a água que move as máquinas. 

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O nome disso é pump and dump. Essa é a fase pump (“bombear”), em que você infla artificialmente o preço da ação. Agora é só arrematar com o dump (“largar”). Quando a bolha estava no auge, Belfort vendia tudo o que tinha comprado lá atrás numa tacada só, e embolsava um lucro monstruoso. O preço da ação desabava imediatamente após a venda em massa – deixando todos os clientes na mão. O esquema fez 1.513 vítimas.

A Finra (um órgão privado que regula o mercado financeiro nos EUA) fechou a Stratton Oakmont em 1996. Em 2004, Belfort foi preso; depois fechou um acordo para devolver US$ 110,4 milhões às suas vítimas. Da última vez que a Bloomberg checou, em 2018, ele ainda devia 97 milhões. Após cumprir 22 meses dos quatro anos de pena, o Lobo se reinventou como palestrante e autor – sua autobiografia virou best seller e rendeu o filme de Scorsese.

Triste, mas o Lobo é um pug perto do maior malandro que o Brasil já viu: o libanês Naji Nahas. Ele também fez fortuna manipulando preços de ações. Mas não de penny stocks. Da Petrobras e da Vale, mesmo. Leia no próximo texto da série, aqui. 

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