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Todo mundo resolveu comprar a ação mais cara do mundo. Só que não.

Em 2021, o volume de negociações dos papéis de US$ 440 mil da Berkshire Hathaway aumentou quase dez vezes. Mas foi uma ilusão contábil. Entenda o mistério.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 17 ago 2022, 15h04 - Publicado em 10 ago 2022, 10h50

Conforme uma empresa cresce, suas ações podem ficar muy gorditas. Por exemplo: você fez o IPO do seu trailer de hot dog em 1990. 10 mil ações de R$ 10 cada. Deu tudo (bem) certo: agora você é CEO da maior fabricante de embutidos do país, com valor de mercado de R$ 18 bilhões. Cada papel, agora, vale R$ 1,8 milhão. O problema: sua ação vai ter pouca demanda na bolsa, já que pouca gente tem essa grana toda.

O jeito é fazer como fazem as empresas comuns: dar um split – picar esses gigantes. Se cada papel de R$ 1,8 milhão virasse 100 mil papéis de R$ 18, teríamos uma realidade mais próxima da B3, onde dificilmente uma ação passa muito tempo negociada por mais de R$ 100.

Warren Buffett, porém, pensa diferente. Ele nunca fez o split do primeiro lote de ações da Berkshire Hathaway, sua empresa de investimentos. E hoje cada uma delas custa um apartamento de alto padrão: US$ 440 mil. Por isso, até 2020, essas caríssimas ações BRK-A trocavam de mão na bolsa, em média, só 375 vezes por dia. É nada comparado às 90 milhões de transações por dia com papéis da Apple (de US$ 160 cada um).

Então veio o mistério: em fevereiro de 2021, o volume diário de negociações de BRK-A pulou para o patamar dos 2 mil, com picos de 4 mil. Nem Buffett soube explicar; correu o boato de que um investidor secreto estaria passando o rodo.

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Agora, três pesquisadores americanos mataram a charada. É o seguinte: as corretoras DriveWealth e Robinhood permitem a “compra fracionada” de certas ações – você paga US$ 1 e leva 0,006 ação da Apple, por exemplo. O pulo do gato é que eles decidiram fazer justamente isso com a aristocrática BRK-A, oferecendo pedaços da ação mais cara do mundo a seus clientes a preços pagáveis.

Bom, uma norma recente da Autoridade Reguladora da Indústria Financeira (Finra) determina que mesmo a negociação de um centésimo de ação entra como uma ação inteira nas planilhas do governo. Mistério resolvido: as milhares de negociações por dia eram de pedaços das ações de Warren. A Finra prometeu que vai mudar essa norma, para evitar distorções.

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