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Americanas (AMER3): os estilhaços da bomba

A BlackRock engoliu um prejuízo equivalente a uma Mega-Sena da virada. E o Nu Reserva Imediata, fundo do Nubank, perdeu 261 mil cotistas e R$ 800 milhões em patrimônio.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 10 fev 2023, 22h56 - Publicado em 10 fev 2023, 04h00

Parece que faz um ano. Mas foi outro dia. Em 28 de dezembro de 2022, a BlackRock comunicou à CVM ter comprado 45,5 milhões de ações da Americanas (AMER3). Isso tornava a maior gestora de investimentos da galáxia (com US$ 10 trilhões em patrimônio) dona de 5% da varejista. 

O investimento veio a reboque da virada que a empresa prometia para 2023. Sergio Rial, o executivo carioca que tinha transformado o Santander no banco mais rentável do Brasil, chegava para assumir como CEO logo após o réveillon. 

E não faltou quem seguisse os passos da BlackRock nos primeiros dias da gestão Rial. Só entre os pregões dos dias 3 e 11 de janeiro, as ações da empresa passaram por uma alta de 41%, de R$ 8,52 para R$ 12,00. A posição da BlackRock sozinha valia agora R$ 546 milhões.

Então veio a bomba: na noite de 11 de janeiro, a companhia informou “que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis (…) da dimensão de R$ 20 bilhões”. O comunicado informava também que Rial estava abandonando o barco, após 10 dias como CEO.  

No dia seguinte, as ações caíram 77%, a R$ 2,72.

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Mais tarde, ficou claro que a dívida total da empresa era de R$ 41,2 bilhões. No último balanço, divulgado em setembro do ano passado, a varejista só reconhecia R$ 19,3 bilhões – uma diferença de R$ 21,9 bilhões. 

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A Americanas tentou colocar panos quentes, dizendo que tinha R$ 7,8 bilhões em caixa para bancar as dívidas de vencimento mais curto. Era outra “inconsistência”. No dia 19, assumiram ter só R$ 800 milhões. E entraram com o pedido de recuperação judicial

AMER3, então, caiu a R$ 0,71. Um tombo adicional de 73% – quebrando as pernas de quem tinha entrado a R$ 2,72 achando que estava “comprando barato”. A BlackRock, definitivamente, não foi uma dessas. Vendeu seus 45,5 milhões de ações ao longo dos dias de ruína. Abraçaram o prejuízo e partiram outra.  

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Na reportagem de capa deste mês, a editora Tássia Kastner mostra que esse tipo de atitude muitas vezes pode ser a melhor para pequenos investidores também – mesmo em casos que não envolvem uma explosão atômica como a da Americanas.

Os estilhaços desse estouro, aliás, foram parar até nos fundos de renda fixa. As debêntures da varejista passaram a valer quase nada, dado o risco de calote iminente. Isso abalou os fundos que tinham esses papéis na carteira. Incluindo aí o maior do país: o Nu Reserva Imediata, do Nubank

Ele tinha 1,32 milhão de cotistas, que, juntos, somavam um patrimônio de R$ 2,56 bilhões. Em condições normais, esses fundos rendem acima do CDI – já que uma parte da carteira é composta por títulos privados, e eles pagam um pouco melhor do que os títulos públicos. Só que são mais arriscados também, como ficaria claro com o caso Americanas. 

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Após a vaporização das debêntures, o saldo dos cotistas levou um tombo de 1,21% entre os dias 13 e 20 de janeiro. Não é pouco para um fundo de baixíssima oscilação. Com a pancada, 261 mil clientes saíram do Nu Reserva Imediata, e o patrimônio do fundo caiu para R$ 1,76 bilhão – R$ 800 milhões a menos. Que sirva para deixar claro às instituições financeiras: boa parte dos clientes são mais sensíveis a risco do que elas imaginam. Se for para oferecer um produto ideal para reserva de emergência, que não seja um fundo carregado em debêntures.  

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