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2020: o ano em que o aço brilhou como ouro na bolsa

A demanda por minério e aço tinha tudo para ser um fracasso, mas a China (e até o Brasil) ajudaram a sustentar as ações das siderúrgicas .

Por Luciana Lima e Tássia Kastner
Atualizado em 17 out 2024, 10h25 - Publicado em 22 dez 2020, 20h31
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 (Tiago Araujo/Você S/A)
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Crise, que crise? Olhando para as ações das empresas de mineração e siderurgia no Ibovespa, o coronavírus e seus impactos dramáticos na economia até parecem um delírio coletivo.

É que já tem alguns meses que os papéis das siderúrgicas vêm se valorizando pregão após pregão. A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) foi quem mais brilhou. No acumulado de 2020, as ações da companhia tiveram alta de impressionantes 115,11%. É a maior alta do Ibovespa. Passou até a WEG, que reinava absoluta, e agora tem alta de 111,84% no ano.  

Seus pares também não têm do que reclamar. A Usiminas valorizou 48,15% e, mesmo na lanterna, a ação da Gerdau está terminando o ano 20,86% mais alta. E essa turma toda consome o quê? Minério de ferro, exatamente como o produzido por elas mesmas (risos) e pela Vale. E a mineradora também tem uma bela alta em 2020: ganhou 69,94% até agora.

Só para lembrar, os ganhos do Ibovespa em 2020 são de meros 0,85%.

Tem um motivo pra isso tudo ter acontecido, claro. Lá no auge da primeira onda da pandemia, entre abril e maio, algumas siderúrgicas paralisaram fornos por causa da baixa demanda. Religar fornos de siderúrgicas não é como dar partida num carro (nem que a comparação seja com os a álcool dos anos 1980 num dia de inverno). Leva muito tempo, muito mais do que a economia no geral demorou para retomar.

Para ter uma ideia, o IBGE apontou que a atividade industrial do Brasil recuperou, em setembro, o patamar pré-pandemia (ainda que continue menor que a registrada um ano antes).

Foi o bastante para faltar matéria-prima. Aí o preço sobe, mais de 10% apenas entre o terceiro e o quarto trimestre. Aí a receita da empresa engorda e o valor da ação também. O BTG Pactual escreveu, em relatório da semana passada, que o equilíbrio do mercado só deve voltar no segundo semestre de 2021. Haja alta de preço até lá.

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Não é que o Brasil esteja de vento em popa, claro. O que puxa mesmo a demanda é a China, que apresenta crescimento consistente em seus principais indicadores. Em novembro, a atividade industrial chinesa atingiu os 57,5 pontos. Para ter uma ideia, é o maior patamar desde março de 2010. No ano, os ganhos das empresas ligadas à indústria somam uma alta de 7%. No varejo, outros 5%.

Os chineses já viveram outras pandemias e estavam preparados para ajudar a economia enquanto a doença persiste. O governo chinês injetou dinheiro pesado na economia, e fez isso através de investimentos em infraestrutura. E qual é um dos principais materiais usados na construção civil? Isso mesmo, o aço – que deriva do minério de ferro, beneficiando as nossas queridas siderúrgicas (e mineradora) lá do começo do texto.

O primeiro efeito do apetite da China foi fazer o preço do minério de ferro disparar. No começo de dezembro, a commodity atingiu o seu maior patamar desde 2013 – e somava uma alta de 57% no ano. Com a perspectiva de que outras economias também vão engrenar depois da vacina, havia muita gente apostando que a procura seria tanta que faltaria minério de ferro em meados de 2021. 

Diante da perspectiva, os investidores foram enchendo os bolsos com ações de CNS, Vale e cia. pregão após pregão. E também de minério de ferro, na forma de contratos negociados no mercado futuro. Se vai faltar, eu compro agora para vender mais caro lá na frente, quando todo mundo tiver implorando pelo produto. Oferta, demanda e muita especulação: alta de 140% no ano.

O governo chinês não gostou e decidiu intervir na brincadeira. No começo de dezembro, pressionado por empresas siderúrgicas chinesas que estavam achando o minério caro demais para comprar, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) já havia limitado o número de negócios com o contrato mais ativo de minério de ferro, que vence em maio.

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E hoje, veio outra bordoada nos especuladores. A CVM chinesa limitou a quantidade de abertura de posições em um único dia de contratos futuros da commodity. Ou seja, limitou a quantidade de pessoas que podem apostar na alta. Resultado óbvio: o minério de ferro levou um tombo e caiu 6,76%, passando a ser comercializado a US$ 164,53 no porto chinês de Qingdao. 

Já dizia o Chorão, existem dias de luta e de glória. E hoje foi dia de as siderúrgicas, tão faceiras, experimentarem o gostinho da lona. Depois de cair quase 3%, CSN terminou o dia perdendo 1,78%, Gerdau recuou 1,56% e Usiminas caiu 1,89%. Só a Vale escapou, fechando o dia estável, a +0,09%.

Claro, cair 1,78% depois de uma alta de mais de 100% não é nada. Diga-se de passagem, tem mais motivos do que a alta do minério e a demanda chinesa para uma companhia registrar valorização dessa magnitude. Uma das explicações, a que fez a CSN se tornar a maior alta do Ibovespa no ano, é que a companhia planeja abrir capital de suas divisões de mineração e de cimentos em 2021. Quando isso acontece essas operações conseguem dinheiro mais barato para investir e, de quebra, vai pagar um trocado no bolso da empresa-mãe. O jargão do mercado diz que isso é “destravar valor”.

De resto, a terça foi modorrenta para os mercados. É que os investidores também estão doidos para esse ano acabar (leia-se: estão reduzindo os negócios). Nem a aprovação, enfim, do novo pacote de estímulos animou Wall Street. No final, S&P 500 encerrou a terça-feira perdendo 0,21%, aos 3.687.26 pontos. O Dow Jones seguiu o pessimismo e recuou -0,67%, aos 30.015.51 pontos. Na contramão, Nasdaq ganhou 0,51%, aos 12.807.92. E o Ibov teve alta de 0,7%, aos 116.636 pontos.

Maiores altas

PetroRio: 5,44%

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Suzano: 4,45%

Minerva Foods: 4,09%

JBS: 3,57%

Klabin: 3,49%

Maiores baixas

CVC: 6,32%

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Embraer: 3,98%

Azul: 3,37%

Cogna: 3,02%

Hering: 2,82%

Dólar: +0,76%, a R$ 5,16

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Petróleo:

Brent: -1,63%, a US$ 50,08

WTI: -0,77%, a US$ 46,66

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