Esta é a chave para sucesso na carreira, segundo escritor
Em entrevista, Alê Prates, autor de Não Negocie com a Preguiça, fala sobre mitos do mercado de trabalho e o segredo para o sucesso
Para Alê Prates, coach e escritor, os conceitos pregados pelas empresas, como motivação, desempenho, eficiência e gestão de tempo, podem ser alcançados com uma simples prática: o engajamento.
É o que ele defende em seu terceiro livro, Não Negocie com a Preguiça (Editora BestSeller), em que contesta mitos como a obsessão por resultados e a ilusão de conseguir ser totalmente feliz no trabalho.
Depois de atuar como executivo em grandes empresas, como Skill Idiomas, Rede Microlins e Instituto Embelleze, ele fundou, em 2008, o Instituto de Coaching Aplicado (ICA), e mais de 1 milhão de pessoas já foram impactadas por suas palestras e treinamentos.
É autor dos livros A Reinvenção do Profissional: Tendências comportamentais do profissional do futuro e Resultado: A liderança além dos números.
Nascido em Santo André (SP) há 37 anos, ele se formou em Ciências da Computação e fez várias especializações em coaching. Formado pelo Behavioral Coaching Institute e pela Graduate School of Master Coaches, Prates cursou Leading Innovative Teams no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Começou a trabalhar aos 15 anos como office boy, aos 16 foi monitor de informática, tornou-se professor, depois foi gerente de franquia, coordenador pedagógico e liderou todos os professores na Skill Idiomas, onde foi responsável pelo treinamento das escolas da rede.
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Na entrevista a seguir, ele explica por que o engajamento é tão importante na vida profissional e pessoal.
Qual a diferença entre um coach e um educador executivo?
A educação executiva engloba, além do coaching, mentoria, consultoria, treinamento, formação e desenvolvimento de lideranças. É uma prática mais abrangente e completa que o coaching.
Esse mercado de desenvolvimento corporativo e de pessoas evoluiu muito nos últimos anos, chegando às pequenas e médias empresas. Só que há uma certa confusão
entre os RHs e os gestores na hora de escolher um profissional dessa área. Há no mercado muitos cursos com mais de 300 alunos e carga horária reduzida, de uma semana ou apenas um fim de semana, que não entregam o que deveriam.
As organizações têm que olhar as referências desses profissionais, pois é isso que conta. Tem que conhecer a metodologia do coach, os livros que já lançou, os resultados que já deu, os cases de sucesso.
Quais são os principais mitos do mundo corporativo?
O maior é a obsessão por resultados. As empresas que só focam no resultado estão com os dias contados. As pessoas não se motivam por resultados, elas se motivam pelo caminho a ser percorrido, e as empresas têm que traçar um caminho que seja estimulante e gratificante.
Ficar cobrando resultado agressivamente só vai estressar, esgotar e adoecer as pessoas. É preciso trocar as metas por incentivos. Outro problema é o raciocínio “eu fiz o melhor possível”. Essa atitude tira de mim a responsabilidade de fazer o que é necessário, é como uma desculpa. É
preciso ter um método claro e que possa ser mensurado, desenhar o caminho e fazer o que tem que ser feito, e não justificar o fracasso. Outro mito são as campanhas motivacionais internas. Não adianta fazer campanhas temporárias, porque, quando a campanha acaba, volta tudo a ser como era antes.
É preciso investir no engajamento, proporcionar às pessoas um ambiente para que elas se empenhem por livre e espontânea vontade, e não por obrigação. Só que promover engajamento dá trabalho.
Você acha que a felicidade no trabalho é outro mito?
Não. As pessoas só precisam atribuir o valor certo para o trabalho. Todo trabalho tem um lado prazeroso e uma parte repetitiva e chata. Só temos que aprender a conviver com isso. Porém, se a parte negativa é 70% do seu trabalho, então é preciso repensar e talvez mudar de emprego ou de carreira.
Mas, tenha em mente que nada vai te dar 100% de prazer. Não adianta ficar buscando essa utopia. Uma das causas do clima ruim nas empresas está na liderança, que é pouco presente e participativa.
Os líderes deveriam ensinar, treinar, desenvolver as pessoas, delegar, resolver problemas juntos, dar feedback, reconhecer o mérito. No entanto, muitos só se concentram em cobrar resultados, só veem números e planilhas de Excel e não sobra tempo para lidar com o desenvolvimento humano.
O que é “negociar com a preguiça”? Seria a famosa procrastinação?
É quando você sabe fazer, pode fazer e não faz. Pode ser um tipo de procrastinação, ou pode ser mentir para si mesmo para diminuir a própria expectativa e não se frustrar. É você baixar a própria régua quando vê que não consegue ou não quer fazer alguma coisa.
Vemos isso em atitudes e frases como “As coisas se ajeitam”, “O universo conspira” e “Deus está no comando”. Não, as coisas não se ajeitam, o universo não conspira nada e quem está no comando é você. As pessoas têm que assumir as responsabilidades para conquistar o que querem.
No livro você afirma que não basta ser comprometido, é preciso ser engajado…
Engajamento é fazer por livre e espontânea vontade tudo aquilo que tem que ser feito. É ter liberdade. Comprometimento é necessidade.
O engajado faz por que quer, o comprometido faz porque é obrigado a fazer. O comprometido precisa de um grande esforço emocional para fazer as coisas, o engajado não.
E como se “autoengajar”?
Precisa se disciplinar para obter engajamento, se comprometendo a fazer algo com intensidade e frequência. Você começa a ter resultados com aquilo. O engajamento surge, inicialmente, da obrigação de fazer alguma coisa, de um esforço, é como desenvolver um hábito.
É como atividade física: é preciso sair da inércia, se forçar a fazer, ter persistência. Os resultados aparecem e você passa a querer fazer atividade física, não mais por obrigação, mas porque você passou a querer, e aí vira engajamento. Tudo na vida requer esforço.
Como conseguir o engajamento das pessoas de uma equipe?
Em primeiro lugar, é preciso entender que não existe “campanha de engajamento”. O engajamento é interno, ele vem 100% de dentro, e não de fora. Para os líderes, antes de tudo, é preciso desenvolver as pessoas, ensinando, orientando, treinando, delegando e compartilhando decisões.
Isso vai gerar reconhecimento e realização, e aí o engajamento acontece porque as pessoas ficam boas naquilo e começam a fazer espontaneamente, para obter mais reconhecimento. É um círculo virtuoso.
Esse tipo de atitude também funciona na vida pessoal? Na saúde, nos relacionamentos…
Claro! Você precisa se engajar se quiser realmente perder peso, por exemplo, ou se quiser melhorar o relacionamento com a sua família ou com o seu cônjuge.
Se ficar criando desculpas para si mesmo, você nunca vai conseguir ter mais tempo para conviver com seus filhos, com seus pais ou para jantar com a sua esposa ou marido. O raciocínio empregado na vida profissional vale para a vida pessoal também. Nosso instinto natural é sempre a imobilidade, é não fazer nada. Toda mudança requer muito esforço e no início dói, mas vale a pena.