Como começar a tratar a diversidade e privilégios no ambiente de trabalho
Refletir sobre seus privilégios e seu lugar de fala são passos importantes para compreender a diversidade, afirma o colunista da VOCÊ S/A, Ricardo Sales
É comum a conversa sobre diversidade e inclusão nas organizações começar pelos números. Compreensível. De um lado, os dados sobre desigualdade e preconceito no Brasil são alarmantes; de outro, as pesquisas que associam diversidade a melhores resultados para os negócios são mesmo argumentos irresistíveis para avançar com essa agenda no meio empresarial. Números importam, sem dúvida. Mas eu prefiro começar esta discussão pelas pessoas.
Falar de diversidade é falar de gente, de todas e todos nós, e do conjunto de características que nos tornam únicos. Por isso, antes de tratar desse tema sob a perspectiva da gestão, é preciso compreender de que lugar falamos e entender quem somos nós nesse debate. Um bom começo é realizar o exercício de “reflexividade” e de “posicionalidade”.
O primeiro é uma prática de autoconsciência. Pensar em reflexividade envolve, necessariamente, discutir privilégios, aquele conjunto de coisas que a gente pode fazer apenas por ser quem somos — e que o outro, a outra, não pode fazer justamente por ser quem é. Exemplo: casais heterossexuais andam de mãos dadas na rua sem se preocupar em ser agredidos por isso; casais homossexuais, não.
Falar de privilégios não é tratar de culpas. Ninguém pediu para nascer homem, branco, heterossexual, rico ou sem nenhuma deficiência. Mas ocupar esse espaço no mundo traz vantagens e oportunidades que não são distribuídas da mesma maneira para todo mundo.
Quando se diz que uma pessoa caucasiana tem privilégios, isso não quer dizer que a vida dela tenha sido fácil, e sim que a raça não a dificultou ainda mais. Privilégio é menos sobre culpa e mais sobre responsabilidades. Se eu cheguei até aqui, como posso apoiar aquelas e aqueles que ainda não chegaram?
O exercício de posicionalidade, por sua vez, nos convida a questionar de onde partimos. Ele é importante porque nosso lugar de fala pode nos levar a tomar decisões com base em vieses ou em generalizações indevidas.
O lugar de fala é o espaço a partir do qual nos relacionamos com o mundo. O homem tem lugar na discussão sobre gênero nas empresas? Uma resposta possível é: sim, mas um lugar de saída limitado, pois não é ele o alvo principal do machismo.
Desse modo, quando essa pauta surgir, o protagonismo é das mulheres, porque elas têm vivência com o tema. Homens aliados, no entanto, podem e devem sempre se manifestar a favor da equidade.
Diversidade não é um assunto de gestão como qualquer outro. É, sim, um tema de negócios, mas que não deve ser encaminhado apenas com planilhas e números.
O melhor planejamento e a liderança mais comprometida podem dar poucos resultados se as pessoas envolvidas no processo de inclusão não forem capazes de refletir sobre seus privilégios e preconceitos. Quais são os seus? Pense nisso.