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Não, você não é imune a golpes. Um guia definitivo de como se proteger na internet

Está achando que é mais esperto que o golpista? Não se esqueça que ele é um profissional especializado em te sabotar. Entenda como se blindar de possíveis armadilhas no mundo digital – ou ao menos tentar.

Por Luana Franzão
Atualizado em 10 set 2024, 12h22 - Publicado em 10 set 2024, 12h05
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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I

magine a seguinte cena: em um sábado ensolarado de manhã, perto do Natal, você decide descer a ladeira Porto Geral – ponto mais cheio da 25 de Março, polo de comércio popular de São Paulo, com a sua carteira dando sopa no bolso de trás da calça. Ao chegar no final da empreitada, acha que ainda estaria com todos os cartões no lugar?

É fácil apostar que você nunca seria inocente o bastante para fazê-lo. Mas talvez você esteja tão vulnerável quanto passeando despreocupado por vias virtuais.

Segundo Adriano Volpini, diretor de Segurança Corporativa do Itaú,  a população brasileira ainda é pouco informada sobre segurança no ambiente digital.

A questão é que não dá mais para navegar despreocupado. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em julho deste ano, os crimes de rua caem no Brasil, enquanto os estelionatos crescem – muito ajudados pela tecnologia. É registrado um golpe a cada 16 segundos, mostrou o levantamento.

Uma pesquisa do Datafolha, divulgada em agosto, mostrou que os prejuízos causados por golpes bancários nos doze meses anteriores ao levantamento chegaram a R$ 186 bilhões.

A mesma investigação apontou que 25% da população brasileira já sofreu tentativas de golpes – e percebeu. Aliás, essa é outra parte do problema: a maioria das pessoas não se toca que já sofreu uma tentativa ou um golpe de fato.

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Facilitando o trabalho do golpista

O especialista do Itaú destaca que grande parte das vítimas não se entende como vítima. Não absorve mensagens de segurança,  pensa que nunca vai acontecer nada do gênero. Talvez, inclusive, você mesmo esteja lendo essa matéria e pensando que nada disso lhe cabe. 

Sentimos informar que este não é o caso. Volpini destaca que não existe perfil de vítima – pessoa mais esperta ou mais lenta –, e sim comportamento de risco. “Todo mundo tem um golpe potencial para chamar de seu”, disse.

Crimes de rua caem no Brasil, enquanto os estelionatos crescem

Grandes vazamentos de dados nos últimos anos tornaram mais fácil a vida de quem quer te trapacear na internet. Informações como dados do CPF (nome, data de nascimento, endereço), fotos de rosto, score de crédito, renda, Imposto de Renda, escolaridade, benefícios do INSS… podem estar circulando por aí.

A vida corrida, além de te tirar a oportunidade de dormir bem e ter hobbies, também tira sua segurança. A falta de tempo faz com que as pessoas não dêem aquele passo a mais que poderia protegê-las de muitas dores de cabeça. Alguns exemplos desse comportamento arriscado são: usar a mesma senha para tudo, clicar em links sem cautela e atender a solicitações sem o devido senso crítico, pela correria do momento.

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Especialistas

Se você acha que o golpista está fazendo tudo no improviso, novamente, achou errado. Na verdade, talvez ele saiba usar o seu aplicativo de banco melhor do que você.

O especialista em segurança digital aponta que os estelionatários estudam processos de bancos e lojas, e, muitas vezes, manjam da tecnologia. Além de serem criativos na hora de inventar moda.

A Febraban aponta que 70% das fraudes e golpes bancários não decorrem de falhas na tecnologia, e sim de engenharia social – nome formal para a capacidade de te tapear. É a manipulação psicológica com o objetivo de fazer com que você atenda a uma solicitação.

Vamos a um exemplo: quando você compra algo em um site falso, e “comprando” um produto em uma loja que não existe, o site não roubou seu dinheiro sozinho. Você decidiu fazer o Pix para o lugar errado. Faz sentido?

Isso tudo não é para dizer, claro, que é culpa sua ter caído em um golpe. E sim alertar para a engenhosidade de quem quer te enganar.

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O objetivo do golpista é te tirar da zona de conforto: uma vez fora do seu lugar comum, não pensará em gatilhos de segurança que normalmente te viriam à cabeça. Afinal, o golpe nunca vem sem um charme: é sempre alguém muito simpático precisando de ajuda, ou um descontão naquele produto dos sonhos, entre outras armadilhas.

Em geral, esses golpes seguem uma linha do tempo, que você deve prestar atenção.

1. Captura dos dados

Por meio de vazamentos, informações disponíveis nas redes sociais e outros mecanismos, o golpista saberá mais sobre você. Volpini alerta: quanto mais personalizadas as informações que o perpetrador tiver, mais simples ficará a manipulação. Afinal, é mais difícil desconfiar quando alguém parece ter todos os seus dados.

Por isso é tão importante proteger suas informações pessoais adequadamente. Sem elas, é mais penoso para quem quer te fazer mal conseguir te enganar.

celular

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2. Contato

Esse é o momento em que você recebe aquela ligação estranha do banco, aquela mensagem no Whatsapp te pedindo para salvar o novo número de alguém, vê uma promoção raríssima de produtos de alto valor. Aqui, a missão mais importante do golpista é te passar credibilidade.

3. Exploração

A manipulação psicológica acontece, em geral, através desses quatro mecanismos:

  • Medo: “seu nome está negativado”, “sua conta foi bloqueada”, etc.;
  • Ganância: descontos e ganhos fáceis;
  • Solidariedade: pedidos de ajuda;
  • Curiosidade: “veja as fotos”, “faça o teste”.

Um prazo curto também pode pressionar ainda mais a vítima a ceder às pressões.

4. Finalização

Nesta hora, provavelmente algo será solicitado à vítima: um Pix, uma transferência, um número de cartão de crédito. Essa é a sua melhor oportunidade de fugir da situação antes de tomar prejuízo.

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(SOPA Images/Getty Images)

Mapa das fraudes atuais

O Itaú mapeou alguns dos golpes mais comuns por aí, para que você fique atento:

  • Golpe da falsa central: alguém te liga para lhe informar sobre alguma compra ou informação bancária. Costuma pedir informações de cartões de crédito e débito para realizar compras não autorizadas;
  • Golpe do falso motoboy: usa máquinas falsas para roubar dados do cartão e fazer compras não autorizadas;
  • Golpe no WhatsApp: pede transferências usando nome e foto de outra pessoa;
  • Phishing: golpe do link falso;
  • Golpe do aniversário: alguém tenta lhe entregar um presente supostamente enviado em seu aniversário, do qual você precisaria pagar apenas o frete. Nesse pagamento, usando máquinas adulteradas, fazem transações maiores;
  • Golpe da troca de cartão: enquanto a vítima não presta atenção, troca seu cartão por um outro e faz compras por ela;
  • Falso boleto: Quando pago, o dinheiro é enviado para outra pessoa;
  • Falso investimento;
  • Falsa venda;
  • Roubo do celular.

Melhor que remediar

Agora que temos uma noção melhor dos perigos lá fora, concordamos que é melhor prevenir do que remediar.

O principal é manter-se atento. Parece óbvio, mas se fosse, essa reportagem não teria razão de ser. É fundamental saber como as coisas acontecem normalmente: como é um Pix normal, uma transferência normal, uma ligação normal ao banco. Dessa forma, quando algo estranho acontecer, o desconfiômetro apitará.

Os especialistas do Itaú aconselham  que você assuma que seus dados sensíveis já estão expostos, e desconfiar que um golpista também pode saber de informações pessoais que você considerava secretas. Portanto, sem dar confiança para estranhos, ainda que eles aparentemente saibam muito sobre você.

Assuma que seus dados sensíveis já estão expostos

Durante um golpe, sempre é feita uma solicitação: seja um Pix, uma transferência, um número de cartão, um código de segurança. Não atenda nenhuma solicitação imediatamente.

O desconfiômetro apitou? Tente verificar em canais confiáveis se a solicitação feita por alguém é verdadeira. Se ligaram dizendo que há uma fraude em sua conta bancária, desligue a chamada e faça uma ligação para o canal oficial do banco. Eles saberão informar se o aviso é verdadeiro ou falso. Via de regra, o banco não te liga – portanto, suspeite sempre desse tipo de chamada.

O mesmo vale para mensagens esquisitas no WhatsApp ou promoções maravilhosas.

Proteja suas senhas

O banco aconselha que sejam criadas senhas diferentes para acessos que requeiram dados financeiros: bancos, e-commerces, assinaturas, etc. Ah, e na hora de criar as senhas, vamos evitar dados óbvios. Você sabe quais: datas de aniversários, números sequenciais, anos importantes, por aí vai.

As plataformas, como redes sociais e e-mails, oferecem a autenticação em dois fatores: ative-a. Procure a função nos aplicativos e mantenha-a acionada.Usar aplicativos que funcionam como cofres de senhas também é prudente.

Proteja seu celular

O aplicativo Celular Seguro BR já está disponível para download para diferentes sistemas operacionais nos celulares. A partir dele, é possível bloquear seu número e dados pessoais no caso de roubo de celular.

Deixe os limites para transferências em patamares baixos e configure o recurso de localização remota do celular.

Muito importante: anote o código do IMEI do seu aparelho. Não no seu bloco de notas do celular, evidentemente, porque ele irá embora junto com o seu iPhone querido em caso de roubo. Pegue um lápis e um caderno, e anote. Esse número será essencial para o bloqueio do aparelho perdido.

É possível verificar o IMEI do celular discando *#06# no telefone.

A senha do seu bloqueio de tela também precisa ser diferente de todas as outras, e não salve senhas de sites em navegadores.

Para lembrar de todos esses códigos diferentes, faça como os astecas e anote com papel e caneta em um lugar muito bem guardado, dentro da sua casa. 

Bom mesmo seria ser mais esperto que todo mundo. Ou que ninguém tentasse dar golpes nos outros. Mas, por agora, o que resta é ficar atento – e não se achar a última bolacha do pacote.

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