Binance tem saída de quase US$ 2 bi em 24 horas em meio a crise no mundo cripto
Oficialmente, CEO diz que situação já estabilizou, mas comunicado para seus funcionários, Changpeng Zhao afirmou que os próximos meses serão 'turbulentos'.
A Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, viveu uma terça-feira daquelas: viu US$ 1,9 bi serem sacados em apenas 24 horas, justamente quando o mundo cripto passa por uma crise de confiança e o temor de novas e mais duras regulações no setor cresce.
Duas notícias levaram a retirada generalizada de dinheiro da corretora. A primeira foi a prisão de Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, na noite de segunda-feira. O empreendedor de 30 anos foi preso nas Bahamas após um pedido do governo americano seguindo a quebra da FTX, que era a quinta maior exchange do setor até seu colapso em novembro, quando vieram à tona os balanços internos da companhia que mostravam um esquema fraudulento.
Bankman-Fried enfrenta agora pelo menos dois processos separados, um de procuradores de Nova York e outro da SEC (a CVM americana) por crimes como fraude e conspiração. Um dos procuradores chegou a dizer que o esquema configura “uma das maiores fraudes da história” dos Estados Unidos – e olha que estamos falando de um país em que o páreo é duro: Bernie Madoff, Charles Ponzi, o Lobo de Wall Street…
Explicamos em detalhes todo o esquema que levou a empresa à derrocada aqui, mas, em linhas gerais, Bankman-Fried inflava o valor da FTT, a cripto própria da FTX, de forma artificial, usando para isso a Alameda, sua empresa de investimentos, que comprava FTT aos montes. E, claro, mentindo para investidores sobre a sustentabilidade do modelo da empresa.
Bankman-Fried foi preso justamente no dia em que o Congresso americano fez uma audiência sobre o caso (ele havia sido convidado a depor). Em Washington, cresce a pressão de políticos para que a regulação do setor cripto seja engrossada.
Desse ponto vem a segunda notícia que explica o dia infernal da Binance: a Reuters revelou que o Departamento de Justiça dos EUA está considerando acusar a maior corretora de criptos do mundo após quatro anos de extensa investigação criminal da empresa.
A reportagem afirma que os procuradores envolvidos ainda estão divididos na decisão; alguns acreditam que as evidências colhidas até agora justificam um movimento mais agressivo de acusação contra a Binance, enquanto outros querem mais tempo para analisar as provas.
As possíveis acusações se concentrariam no fato da corretora não cumprir com as leis e regras americanas contra a lavagem de dinheiro e seriam direcionadas também ao fundador e CEO da Binance, Changpeng Zhao.
Zhao, aliás, confirmou em seu Twitter que a Binance viu mais de US$ 1 bi em saques (o valor ainda não tinha chego aos 1,9 bi quando ele twittou), mas tratou a questão como um detalhe menor, citando outros episódios que levaram a um total de retiradas maior, como o colapso da Luna. Na quarta, disse que a situação se estabilizou e que os depósitos voltaram.
A Bloomberg, porém, revelou que o CEO da Binance tem uma postura menos otimista do que a apresentada no seu Twitter: em um comunicado para seus funcionários, afirmou que os próximos meses serão ‘turbulentos’ para a empresa.
De qualquer forma, a mini-crise vivida pela Binance na terça-feira não causou grandes turbulências no preço do bitcoin. Nas últimas 24 horas, a cripto sobe 1%; nos últimos sete dias, acumula alta de 6,5%. Algo de errado não está certo.