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IA pode substituir mais de 20% dos trabalhos intelectuais – mas nem tudo está perdido

Dois artigos, do MIT e do FMI, calcularam a velocidade e o impacto da inteligência artificial na economia. Veja os resultados.

Por Bruno Carbinatto
13 fev 2024, 09h26

Desde que o ChatGPT foi liberado ao público, em novembro de 2022, o mundo ficou maravilhado com as novidades da inteligência artificial generativa. E também um pouco apavorado com a possibilidade de as máquinas substituírem os humanos e causarem uma onda de desemprego em massa.

Mas qual a chance real de isso acontecer? Dois novos artigos publicados recentemente se debruçam sobre essa questão.

Um deles, do MIT, buscou calcular qual porcentagem dos empregos americanos estão de fato sob risco usando uma métrica mais concreta: quais funções as empresas podem terceirizar para os robôs de forma economicamente eficiente, ou seja, que a IA seja mais barata para a companhia do que os humanos. Isso porque há um investimento em adquirir, treinar e manter a tecnologia – e, em alguns casos, sai mais caro do que mais gente de carne e osso.

Para isso, o artigo só considerou empregos que já têm exposição à IA, ou seja, funções que podem de fato usar inteligência artificial – basicamente, o trabalho intelectual. Todos os empregos que envolvem tarefas braçais e mecânicas, por exemplo, foram excluídos. Desses que sobraram, só 23% estariam sob risco real. Os outros 77% dos empregos que eles analisaram até podem, em teoria, ser substituídos, mas não faria sentido financeiro para a empresa.

Esses 23%, porém, podem aumentar conforme os avanços da área, que evolui freneticamente. Mesmo assim, o desfecho do estudo é menos apocalíptico do que algumas previsões anteriores. Ele afirma que temos tempo para lidar com essas mudanças. “No geral, nossas conclusões sugerem que a substituição dos empregos pela IA será substancial, mas também gradual – e, portanto, há espaço para políticas que mitiguem os impactos do desemprego”, escreve a equipe.

Um outro artigo, do FMI, vai pela mesma linha. Ele estima que, em média, 40% dos empregos mundiais vão ser “afetados” pela inteligência artificial nos próximos anos, mas ressalta que tudo depende de como vamos lidar com ela – em alguns casos, isso pode levar à substituição dos humanos e ao desemprego. Em outros, a ganhos de produtividade e mais bem-estar e riqueza em geral.

Com um detalhe a mais, inédito até então na história: o dilema é ainda maior em países ricos. “Historicamente, a automação tende a afetar as tarefas manuais, mas uma das coisas que diferencia a IA é a sua capacidade de impactar empregos altamente qualificados”, diz o artigo. Como resultado, 60% dos cargos dos países desenvolvidos estão expostos a ela. O FMI calcula que metade deles pode se beneficiar dela, enquanto a outra metade está ameaçada.

A equipe conclui: “Neste cenário, as economias avançadas e os mercados emergentes precisam se concentrar em atualizar seus quadros regulatórios e em apoiar a realocação de mão de obra, salvaguardando os que são negativamente afetados”.

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