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Mais inteligência não se traduz necessariamente em maiores salários, diz estudo

Pesquisa mostra que maior QI só leva a melhores remunerações até certo ponto. E mais: o 1% do topo da pirâmide tende a ter uma performance cognitiva pior que a dos 3% mais ricos.

Por Bruno Carbinatto
10 mar 2023, 06h11

Pessoas mais inteligentes costumam ter salários melhores. Mesmo assim, a correlação é limitada. A conclusão é de um novo estudo feito por cientistas da Universidade de Linköping, na Suécia, e publicado na revista European Sociological Review.

A pesquisa se baseia em números coletados no serviço militar do país nórdico – o alistamento foi obrigatório para os homens suecos até 2010. No processo, os cidadãos passavam por um teste que media as capacidades cognitivas dos participantes em questões como lógica, habilidades espaciais, compreensão de texto e de conceitos técnicos – basicamente, um teste de QI.

Os pesquisadores reuniram dados de mais de 59 mil homens suecos que passaram pelo alistamento entre 1971 e 1999. Depois, buscaram os salários que esses mesmos homens recebiam quando tinham entre 35 e 45 anos, para analisar se havia alguma relação. E os resultados mostraram: quando a inteligência medida pelo teste aumentava, os rendimentos dos indivíduos também, mostrando uma correlação clara. Mas só até certo ponto: mais especificamente, até salários anuais de US$ 57.300 – o salário médio anual de um sueco hoje é de US$ 42 mil.

A partir desse patamar de ganhos a inteligência entrava em um platô, mas os salários continuavam crescendo, mostrando que, especialmente entre os mais endinheirados, maiores inteligências não significam mais grana.

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O top 1% dos mais ricos, curiosamente, apresentava pontuações na inteligência um pouco menores do que quem vinha logo atrás deles na pirâmide salarial. Pode parecer um detalhe, mas os pesquisadores lembram que essas pessoas chegam a ganhar o dobro da média de quem está no top 3% dos mais ricos.

A conclusão do estudo foi a seguinte: não dá para prever a remuneração de uma pessoa só pela inteligência. Outros fatores são importantes – a renda da família do indivíduo, por exemplo, é um dos principais que influencia o fenômeno, especialmente nas camadas mais bem pagas. Daí o fato de o 1% tender a ser menos inteligente que o 3%. Eles estão num estrato no qual a obtenção de riqueza depende menos da capacidade do indivíduo, e mais daquilo que seus antepassados conquistaram.

A pesquisa tem limitações, é claro. A mais óbvia: baseia-se só em homens suecos, devido ao caráter obrigatório do alistamento militar, não incluindo mulheres (metade da força de trabalho) e imigrantes. Além disso, os testes de inteligência medem apenas um tipo de performance cognitiva – e excluem outros fatores que também são importantes na progressão de carreira, como habilidades sociais e de comunicação. Mesmo assim, o artigo mostra que a associação automática entre dinheiro e inteligência é um mito.

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