Estes 3 filmes do Oscar têm mais a ensinar do que você imagina
O que aprender sobre carreira e liderança com os longas "Coringa", "História de um Casamento" e "Dois Papas"
Se a vida imita a arte, nada melhor do que aproveitar os filmes que estão concorrendo ao Oscar para, além de se divertir, refletir sobre algumas questões de carreira e liderança.
Pensando nisso, VOCÊ S/A pediu para que Maiti Junqueira, gerente de desenvolvimento de talentos da consultoria Lee Hecht Harrison (LHH) e psicóloga, analisasse três dos filmes que passarão pelo tapete vermelho mais famoso do mundo.
Tome cuidado: os textos podem conter spoilers.
Coringa: crises e fracassos
Com sérios problemas emocionais, o palhaço Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) entra em uma crise enorme quando é demitido do seu trabalho numa agência de talentos. Esse é um dos elementos que o levam a liderar uma onda de revolta — e assassinatos — em Gotham City. Além da violência, a válvula de escape do Coringa é a dança.
Deixando o extremo da psicopatia de lado, Maiti acredita que o filme tem lições interessantes sobre como lidamos com nossas frustrações. “Ele teve uma série de fracassos: queria ser ator e não conseguiu; virou palhaço de rua e foi maltratado. Na visão dele, foi muito humilhado em diversas situações e chegou um momento de piração”, diz Maiti.
Nas crises, é preciso encontrar um equilíbrio interno para superar os problemas e seguir em frente, o que nem sempre é simples. “Se você não tiver a ‘força do eu’, é difícil se reestruturar. Mesmo alguém que não teve uma história de vida como a do Coringa pode ter uma crise severa, sair da realidade e, até, ter pensamentos suicidas. Por isso, é tão importante ter uma assessoria psicológica nesses momentos, para fortalecer o ego”, explica Maiti.
Categorias que o filme disputa: melhor filme; melhor ator (Joaquin Phoenix); melhor fotografia; melhor figurino; melhor direção (Todd Phillips), melhor montagem; melhor cabelo e maquiagem; melhor trilha sonora original; melhor edição de som; melhor mixagem de som; melhor roteiro adaptado (Todd Phillips e Scott Silver);
Diretor: Todd Phillips
Onde assistir: Cinema
História de um Casamento: coragem para mudar
Além de serem um casal, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver) trabalham juntos. Ela é a atriz principal e ele o diretor de uma companhia de teatro experimental sediada em Nova York (EUA). Esse arranjo deu certo durante mais de uma década, mas o casamento começa a enfrentar problemas e eles resolvem se divorciar. Embora tenham combinado que tudo seria feito pacificamente, Nicole e Charlie se veem envoltos em ressentimentos, fantasmas do passado e advogados que jogam sujo.
A decisão da separação parte de Nicole, que lista como um dos principais motivos o fato de, segundo ela, ter aberto mão da carreira como atriz de cinema e TV em Los Angeles para trabalhar em Nova York nas peças de Charlie.
Essa é uma decisão que, segundo Maiti, precisa de tanta coragem quanto algumas das que são tomadas pelos líderes. “Fazer as mudanças necessárias mesmo que isso seja muito difícil é um grande tema da liderança. E muitos líderes têm dificuldades de tomar decisões duras que vão desagradar aos outros”, diz a especialista.
Além disso, a atitude tem a ver com arriscar — algo que todo profissional precisa fazer em diferentes momentos da carreira “Quando eu proponho me separar, é um risco: não faço ideia do que vai acontecer. Mas é preciso ter coragem para tomar conta da sua vida, por mais difícil que seja daqui a frente”, explica Maiti.
Categorias que o filme disputa: melhor filme; melhor ator (Adam Driver); melhor atriz (Scarlett Johansson); melhor atriz coadjuvante (Laura Dern); melhor trilha sonora original; melhor roteiro original (Anthony McCarten)
Diretor: Noah Baumbach
Onde assistir: Netflix
Dois Papas: estilos diferentes de gestão
No filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, o cardeal Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce) está pensando em se aposentar porque discorda, em vários sentidos, da maneira como o papa Bento XVI (Anthony Hopkins) conduz a Igreja Católica. Os dois, então, conduzem uma longa conversa sobre seus pontos de vista tão diversos.
Para Maiti, é possível relacionar a maneira de pensar dos dois religiosos com as transformações no mundo do trabalho. “Bento representa como era a maioria das estruturas organizacionais até uns cinco anos atrás, mais hierarquizadas, com uma forte postura de comando-controle e distanciamento das equipes. Ainda há empresas assim, mas estamos numa transição, numa mudança de era, e daqui a dez anos será dificílimo ter organizações assim, com tanta hierarquia”, diz Maiti.
O cardeal Bergoglio, no filme, parece alinhado com as demandas da gestão atual — que pede mais flexibilidade e proximidade com o outro. “Ele dá um novo respiro. É um jeito diferente de estruturar uma organização. Existe a ordem, pois a hierarquia não é de toda ruim, mas há flexibilidade e colaboração. Além disso, ele ouve mais as demandas de diversos grupos e percebe a transformação do mundo. Isso faz com que entenda que precise adequar sua instituição para a nova realidade”, explica a consultora.
Além da liderança, o filme ensina sobre a tolerância. Afinal, os dois personagens passam horas num embate de ideias opostas — um exercício excelente de escuta ativa e inclusão. “Numa situação dessas, saíamos de uma cultura restrita de pensamento para ampliar nossa visão. É uma oportunidade para quebrar crenças fixas, o que é ótimo no mundo polarizado de hoje”, diz Maiti.
Categorias que o filme disputa: melhor ator (Jonathan Price); melhor ator coadjuvante (Anthony Hopkins); melhor Roteiro Adaptado (Anthony McCarten)
Diretor: Fernando Meirelles
Onde assistir: Netflix
Gosta de documentários?
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