Ibovespa cai 2,86% e dólar dispara 4% na volta do feriado

Powell confirmou que Fed apertará juros nos EUA a partir de maio. Medida drena dinheiro de estrangeiros no Brasil.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
22 abr 2022, 17h23
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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O Brasil pode ser o país do Carnaval, mas não foi dessa vez que a festa (fora de época) ajudou a animar os investidores. A bolsa voltou do feriado de Tiradentes e sucumbiu, junto com o mercado global, à fala de Jerome Powell, o presidente do Fed (o BC dos EUA).

Resultado: o Ibovespa voltou ao seu menor patamar desde o dia 16 de março. 

Ontem, durante um painel promovido pelo FMI, Powell escreveu na pedra que a discussão da alta de juros em maio será ao redor de 0,50 ponto percentual. Era algo que investidores já tinham no radar. O que importa aqui é ter vindo de quem “manda”. A medida dura é uma reação (tardia) à disparada de preços. No mês de março, a inflação americana subiu 1,2% e, na base anual, a alta foi de 8,5% – a maior desde dezembro de 1981.

Além do reajuste da próxima reunião, o mercado projeta outras duas altas da mesma magnitude nos próximos encontros do Fed. Será a primeira vez desde 2006 que o Fed subirá juros em reuniões seguidas. O que aconteceu depois de 2006 o mercado financeiro todo lembra: estouro da bolha imobiliária, acelerada pela alta de juros e por empacotamento de títulos podres gerados justamente quando os juros subiram muito rápido.

Agora, o mercado financeiro precisa recalibrar seus investimentos, e isso tende a significar menos investimentos em ações. Isso sem falar no medo de que as altas de juros do Fed levem o país a uma recessão – o efeito colateral de uma superdosagem de remédio.

Resultado. As bolsas americanas sangraram na quinta-feira e a carnificina continuou nesta sexta. O S&P 500 caiu 2,77%, enquanto o Nasdaq recuou 2,55%. Como o Ibovespa estava fechado, o balde de água fria ficou para hoje. A bolsa brasileira voltou do feriado no ritmo de tragédia e fechou seu quinto pregão seguido de perdas: -2,86%, aos 111.077 pontos. Na semana, a queda foi de 5%.

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A queda foi generalizada (das 92 ações do Ibov, apenas a Copel subiu), mas intensificada pelas commodities. O minério de ferro caiu 1%, afetando as mineradoras e siderúrgicas. O destaque negativo ficou com a CSN (-7,59%) e a Vale (-6,15%), mas as demais empresas do setor também tiveram um dia difícil. 

O petróleo também fechou o dia no negativo (Brent -1,55%; WTI -1,66%). Se os EUA entrarem em recessão, haverá menor demanda pelo produto. A PetroRio foi a mais pressionada, com queda de -4,63%, seguida pela Petrobras (-4,18%). 

Mas não foi só Powell que pressionou a bolsa. Também nos EUA, Roberto Campos Neto, presidente do nosso Banco Central, reforçou em um encontro com investidores o plano de elevar a Selic em 1 p.p. em maio. Se isso acontecer, a taxa básica de juros avançará para 12,75% ao ano. 

A indicação de que nossos juros também vão subir não foi suficiente para acalmar o dólar, ensandecido com Powell. Uma das explicações para o alívio recente no câmbio era o aumento das exportações de commodities, que aumenta a quantidade de dólares entrando na economia. A segunda era justamente os juros. Investidores estrangeiros começaram o ano despejando dinheiro gringo no nosso mercado, na expectativa de lucrar com a alta da Selic. 

O que importa, para a operação realmente ser atrativa, é a diferença entre os juros no Brasil e nos EUA. E isso deve mudar agora que o Fed promete acelerar o ritmo de altas, enquanto o BC brasileiro sonha com um fim de ciclo. O gap de taxas fica menor. No fim, investidores acabam preferindo voltar para o colo seguro dos títulos de dívida pública dos EUA, que tem risco virtual zero. 

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A moeda americana subiu 4%, cotada a R$ 4,8051, depois de atingir a máxima de R$ 4,8390. 

Política

O mercado também está preocupado com o clima em Brasília, cada vez mais tenso conforme as eleições se aproximam. O assunto da vez foi Bolsonaro conceder perdão ao deputado Daniel Silveira. 

Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal condenou Silveira a oito anos e nove meses de prisão pelos crimes de tentativa de impedir o livre exercício dos Poderes, e coação no curso do processo. Os ministros também decidiram pela sua perda de mandato, suspensão dos direitos políticos e pagamento de uma multa de R$ 212 mil. 

Em fevereiro do ano passado, Silveira publicou um vídeo defendendo o AI-5 e pedindo o fechamento do STF, incitando a violência contra ministros do Supremo. Ele teve a prisão decretada e passou quase um mês no Batalhão Especial Prisional da PM do Rio, em Niterói. O deputado chegou a ser solto, mas descumpriu medidas restritivas e foi detido novamente em junho. De novo, em novembro ele foi solto e violou o uso da tornozeleira eletrônica. Na tentativa de evitar uma terceira prisão, ele passou a madrugada do dia 30 de março no Congresso. 

No entanto, em menos de 24 horas após a condenação do STF, o presidente concedeu o instituto da graça ao deputado, que é seu aliado. Ou seja, ele revogou a decisão do Judiciário, ampliando ainda mais a crise entre os poderes. 

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Detalhe: durante as campanhas de 2018, Bolsonaro se posicionou contra os tradicionais indultos de Natal, que são concedidos de forma coletiva. Na época, ele prometeu que o indulto daquele ano seria o último. O presidente descompriou a promessa em todos os anos de mandato e concedeu o perdão para policiais condenados. Com essa do Daniel Silveira, é mais uma para a conta. 

Quem sabe um final de semana ajude os investidores a acalmarem os nervos. Até segunda-feira. 

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Maiores altas

Copel (CPLE6): 1,22%

Maiores baixas

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CSN (CSNA3): -7,59%

Locaweb (LWSA3): -6,17%

Vale (VALE3): -6,15%

Iguatemi (IGTI11): -5,57%

Cogna (COGN3): -5,26%

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Ibovespa: -2,86%, a 111.077 pontos

Em NY:

S&P 500: -2,77%, a 4.271 pontos

Nasdaq: -2,55%, a 12.839 pontos

Dow Jones: -2,81%, a 33.813 pontos

Dólar: 4%, a R$ 4,8051

Petróleo

Brent: -1,55%, a US$ 106,65

WTI: -1,66%, a US$ 102,07

Minério de ferro: -1%, US$ 139,02 no porto de Qingdao (China)

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