Ibov acompanha posse de Biden só por live, os recordes ficam em NY
Descolado da euforia mundial com a posse do democrata nos EUA, no Brasil, o índice perdeu os 120 mil pontos com a crise doméstica.
Sabe aquela sensação de que todo mundo foi convidado para a festa, menos você? Pois é, o Ibovespa foi o excluído da vez. Hoje (20), as bolsas mundo afora estavam eufóricas com a posse do Biden nos Estados Unidos, mas os problemas domésticos não permitiram que o principal índice do Brasil acompanhasse o ritmo do exterior.
Os 120 mil pontos alcançados recentemente — a muito custo, diga-se — foram perdidos. A queda do dia foi de 0,82%, e o fechamento ficou em 119.646 pontos.
Os motivos são os que você, eu, todos estão vendo nos noticiários nos últimos dias: atrasos na vacinação, especulação de retomada do auxílio emergencial e disputa política pela cadeira de presidência da Câmara. Ontem (19), já falamos sobre isso aqui. E hoje, o assunto se estendeu e não deve sair de pauta tão rapidamente.
Segundo a CNN, os insumos necessários para a Fiocruz produzir a vacina de Oxford estão prontos para exportação da China para o Brasil desde 10 dezembro, mas o impasse diplomático entre os dois países não permitiu o andamento das negociações. Sobrou para o Rodrigo Maia resolver esse pepino.
Pela manhã, o presidente da Câmara se encontrou virtualmente com o embaixador chinês, Yang Wanming, para tratar do assunto e acelerar o trâmite que permitirá a exportação, enfim. Depois da reunião, Maia declarou em entrevista que a embaixada chinesa ainda não havia sido procurada e que o atraso mostra erros do governo que vão muito além disso.
E a alfinetada não acabou aí. O presidente da Câmara aproveitou para sinalizar que o embaixador chinês parabenizou o governador de São Paulo, João Doria, e o Instituto Butantan pelo início da vacinação com a coronavac.
A coisa está feia para Bolsonaro e só piora. Também nesta quarta-feira, governadores de 15 estados assinaram um ofício em que pedem para o presidente “diálogo diplomático” com a China e a Índia para a providência dos insumos que permitirão a continuidade da imunização no nosso país.
A situação de “temos vacina, mas não temos vacina” coloca o mercado em alerta máximo para a possibilidade de uma nova paralisação das atividades igual ao que se tem visto em outros países da Europa. Como se fosse para confirmar esse medo, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou hoje em evento da XP Investimentos que existe a possibilidade de a pandemia ser pior em 2021 do que foi em 2020, caso não sejam empregadas medidas para reduzir os casos e aumentar a compra de vacinas. Ele também disse ser inevitável a mudança para a bandeira vermelha em São Paulo.
Nessa situação, lockdown e auxílio emergencial são praticamente sinônimos. E como medida populista que atrai Bolsonaro, quem vai segurar essa despesa? Paulo Guedes mantém a ideia no radar, Arthur Lira e Baleia Rossi também. As contas públicas que se cuidem, porque as perspectivas não são promissoras. E é por isso que os investidores estão recuando. Somente um bloco manteve boas altas e é o único que poderia se beneficiar dessa situação: o de varejo.
As altas mais estáveis do dia são dele: B2W, lê-se Americanas e Submarino (8,53%), Magazine Luiza (5,56%), Via Varejo (1,75%), Hering (1,80%).
Para se ter uma ideia, das 81 ações do índice, somente 21 delas subiram hoje, todas as outras enfrentaram um dia de baixas.
Não podia ser mais diferente do outro lado do Equador.
Oficialmente, uma “onda azul”
Na terra de Biden, o dia foi de recorde nas bolsas e queda no dólar ante as principais moedas do mundo (até ante o real, diga-se). A mais pura definição de otimismo.
Muito antes das eleições, enquanto os candidatos ainda se digladiavam nas propagandas eleitorais, o mercado financeiro começava a ajustar suas velas para o candidato democrata e sua mão mais aberta para gastos públicos.
Hoje, no dia de posse desse candidato, os mercados viveram uma festa própria. Subiram as bolsas de Nova York e também da Europa, o ouro, o petróleo e o bitcoin. Só não rolou para o dólar, mas isso era esperado também. Com medidas de estímulo, tem mais dinheiro na economia, mais confiança na recuperação econômica.
E nessa animação, os principais índices de Wall Street fecharam com altas inéditas: S&P subiu 1,39%, aos 3.851,85 pontos e o Nasdaq, mais 1,9%, até 13.457,25 pontos. Até o Dow Jones pegou essa onda com uma subida de 0,83%, para 31.188,38 pontos.
Tudo isso foi reforçado pela atitude do presidente. Logo depois de encerrar a cerimônia principal de posse, Joe Biden começou a trabalhar: se comprometeu a assinar 15 ordens executivas que colocam fim à era Trump. Alguns dos temas são paralisação da construção do muro com o México, aumento do plano de vacinação, volta ao Acordo de Paris, entre outros.
Dessa festa só participamos via live, mesmo.
Nesta quinta
O mercado financeiro vai digerir o comunicado do Copom que baseou a decisão de manter a Selic em 2% ao ano. Duas notícias do comunicado são as mais importantes: primeiro, que o Copom abandonará o forward guidance, uma sinalização que vinha sendo usada para indicar a direção da Selic no curto prazo. Isso ocorre depois de o comitê reconhecer que a inflação está subindo mais que o esperado, também no curto prazo. Esse é um recado que o mercado financeiro buscava.
No documento, no entanto, o BC enfatiza que a retirada do indicador não significa que o juro subirá na próxima reunião. E isso deixou uma parcela de investidores receosa com a possibilidade de o BC estar sendo negligente com a alta de preços.
As apostas do mercado financeiro são de alta a partir de maio. O BC indicou que a Selic pode terminar o ano em 3,25%. Com a inflação projetada em 3,40%, significa que teremos mais um ano de juros reais negativos.
MAIORES ALTAS
B2W: 8,53%
Magazine Luiza: 5,56%
Lojas Americanas: 4,06%
Hering: 1,80%
Via Varejo: 1,75%
MAIORES BAIXAS
PetroRio: -3,66%
Embraer: -3,27%
Santander: -2,56%
Natura: -2,27%
Banco do Brasil: -2,24%
Petróleo
Brent: 0,32%, cotado a US$ 56,08 o barril
WTI: 0,62%, cotado a US$ 53,31 o barril
Dólar: – 0,63%, a R$ 5,3118.