Fundos ESG fecham à medida que juros sobem e recessão toma corpo
Sete ETFs verdes vieram ao fim nos EUA; no mundo todo, o investimento nestes produtos caiu 62% do primeiro para o segundo trimestre.
Um movimento um tanto quanto melancólico está se espalhando pelo mercado financeiro: o fechamento de fundos “bonzinhos”, de ESG (que concentram investimentos em empresas com responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa).
Após o boom que estes produtos tiveram nos últimos anos, com a queda da taxa de juros e maior preocupação com as mudanças climáticas e com os preconceitos enraizados na sociedade, sete já fecharam nos EUA em 2022. O número parece pequeno, mas proporcionalmente representa uma gorda fatia do mercado. Apesar de serem apenas 4% do total de fundos americanos no começo do ano, os fundos ESG representam 15% de todos os ETFs que fecharam este ano, segundo dados da Bloomberg.
ETF é a sigla para Exchange Traded Fund, ou seja, um fundo negociado em bolsa e ligado a um índice, como o Ibovespa ou o S&P 500. No caso de ESG, são ETFs ligados a índices que reúnem empresas comprometidas com questões ambientais, como o caso do Índice Carbono Eficiente (ICO2) da B3, ou então as que têm metas sociais e/ou de governança.
Um fundo encerra suas atividades assim como as empresas fecham as portas, ou seja: quando não é mais financeiramente viável. Se não há dinheiro de investidores entrando, apenas saindo, não há alternativa a não ser encerrar o produto.
No mundo todo, o investimento nestes produtos caiu 62% do primeiro para o segundo trimestre deste ano, indo de US$ 87 bilhões para US$ 32,6 bilhões, de acordo com reportagem do Financial Times.
“Não é um movimento exclusivo do mercado ESG. O mercado de fundos no geral enfrenta encerramentos com a queda do mercado acionário. É natural que, agora [com a alta de juros], haja uma migração para a renda fixa. A indústria inteira está sendo impactada”, diz Yuske Sone, diretor de fundos e previdência da Órama Investimentos.
No começo do ano, os juros nos EUA estavam na faixa de 0,25% a 0,50%. Agora, já subiram para 2,25% a 2,5% e devem terminar o ano entre 3,25% a 3,50%, o que torna a renda fixa no país mais atraente e o custo de capital mais caro.
Fora que a possibilidade de uma recessão ronda o mercado há meses. O PIB dos EUA, inclusive, reforça essa hipótese, após dois trimestres seguidos de contração (-1,6% e -0,9%), o que, em tese, pode ser considerado como uma recessão técnica.
Segundo Sone, o fim de produtos ESG é mais expressivo porque este mercado ficou inflado nos últimos anos. Diversas gestoras criaram fundos para surfar a onda verde e dizer ao público que se encaixavam no padrão celebrado pelas redes sociais. O problema é que o dinheiro não veio com a mesma força e a capitalização da grande maioria é baixa.
“Com pouco dinheiro, o fundo não vale a pena, mas não é uma queda de interesse das pessoas no assunto, o problema é que foram abertos muitos fundos ESG de uma só vez”, diz o analista.
Na Europa, por outro lado, onde a preocupação ESG é maior, tais fundos seguem sendo os mais procurados pelos investidores, ainda que com menos ímpeto. Dados da Morningstar apontam que o dinheiro para estes produtos por lá caiu pela metade no segundo trimestre em relação ao primeiro, somando 4,2 bilhões de euros. Proporcionalmente, a queda foi menor que o restante do mercado.