Fim da novela da meta de inflação puxa Ibovespa, que raspa 110 mil pontos
Nos EUA, alta de preços ao produtor derruba bolsas e revive fantasma de alta de 0,50 p.p. nos juros.
O dia de hoje na bolsa brasileira foi uma espécie de prólogo e conclusão ao mesmo tempo. Tudo de mais importante para o dia aconteceria – e aconteceu – após o fechamento do mercado, mas os spoilers garantiram uma altinha para o Ibovespa e uma leve queda para o dólar.
A notícia principal, para a Faria Lima, era que a meta de inflação do país continuará, pelo menos por enquanto, intocada. Estamos falando de inatingíveis 3,25% neste ano (as expectativas falam em IPCA ao redor de 6% neste ano) e ainda um milagre de 3% em 2024. O mercado começa a se acostumar com a ideia de que pode ser bom subir a meta para algo factível, mas prefere que seja sem ataques do presidente Lula ao Banco Central – e depois de o Congresso aprovar a nova meta fiscal para o país.
Nesta quinta ocorreu a primeira reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) do novo governo, o órgão formado por Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Roberto Campos Neto (Banco Central). E, de fato, a mudança de meta ficou de fora da pauta, como Haddad já havia informado. Os votos do CMN divulgados falavam da aprovação das contas do BC e de outras regras ligadas a bancos, como a autorização para que os bancões possam emitir BDRs de empresas gringas. O anti-clímax que a Faria Lima queria.
Também depois que o mercado financeiro fechou, a CNN deu o play na primeira entrevista exclusiva do presidente Lula neste mandato. Alguns spoilers mostraram que o presidente levantou uma bandeira branca para o Banco Central, em retribuição ao sinal de paz feito por Campos Neto ao longo da semana.
O dólar aproveitou o tom amigável e recuou, ainda que modestamente. Cedeu 0,16%. O Ibovespa seguiu sua trajetória de alta igualmente moderada, flertando com o patamar de 110 mil. A subida foi de 0,31%, a 109.941,46 pontos.
Significa que o assunto da meta de inflação morreu? Não. O alívio da Faria Lima é ver o debate acontecer com calma, mais provavelmente depois de o governo ter criado um substituto para o teto de gastos.
Hidra de Lerna
Verdade que os movimentos contidos do mercado pouco se parecem com uma celebração de paz. Comparado com os mercados em Nova York, fica mais fácil.
Por lá, os principais índices recuaram depois da divulgação da inflação ao produtor. O PPI avançou 0,7% em janeiro, acima do 0,4% projetado por economistas. Em dezembro, o indicador havia apresentado deflação.
Há sinais de que a inflação americana está passando por um leve repique e, apesar do erro nas estimativas para o PPI, é algo que economistas têm comentado por lá. Ainda assim, isso indica que o trabalho de subida de juros do Fed poderá durar mais tempo do que o esperado.
Se o clima já estava pesado, um dos Fed Boys enfiou a faca no coração de Wall Street. James Bullard, do Fed St. Louis, disse que não descartaria apoiar uma alta de 0,50 p.p. nos juros dos EUA no encontro de março. O problema: o BC americano já colocou o pé no freio e vem subindo a “selic” deles em 0,25 p.p.
Do jeito que vai, a inflação parece querer trocar de fantasia, largar o dragão e brincar de Hidra de Lerna. Você corta uma cabeça, ela coloca no lugar duas, uma batalha que só Hércules é capaz de vencer. Fica a dica para a fantasia de carnaval. Até amanhã.
Maiores altas
CVC (CVCB3): 7,80%
Hapvida (HAPV3): 4,67%
Petz (PETZ3): 3,99%
Rumo (RAIL3): 3,50%
Méliuz (CASH3): 3,30%
Maiores baixas
Minerva (BEEF3): -5,72%
Azul (AZUL4): -4,52%
Cyrela (CYRE3): -4,33%
JBS (JBSS3): -3,26%
Magazine Luiza (MGLU3): -2,06%
Ibovespa: 0,31%, a 109.941,46 pontos
Nova York
Dow Jones: -1,26%, a 33.696 pontos
S&P 500: -1,38%, a 4.091 pontos
Nasdaq: -1,78%, a 11.856 pontos
Dólar: -0,16%, a R$ 5,2115
Petróleo
Brent: -0,28%, a US$ 85,14
WTI: -0,11%, a US$ 78,74
Minério de ferro: 1,79%, a US$ 128,33 por tonelada na bolsa de Dalian