Festa na Faria Lima: Ibovespa sobe 1,06% e vai à máxima histórica
A Super Quarta virou Super Quinta: o índice quebrou seu recorde e chegou aos 130.800 pontos, com investidores ainda comemorando um mundo com menos juros.
A Super Quarta – o nome do evento nem-tão-raro-assim em que os bancos centrais do Brasil e dos EUA decidem os juros no mesmo dia – trouxe uma festa tão grande para as bolsas mundiais que a comemoração virou a noite na Faria Lima. Virou Super Quinta, mas com outro significado: o dia em que o Ibov atingiu sua máxima histórica.
Depois de subir 2,4% ontem, o Ibovespa voltou a fechar em alta considerável nesta quinta-feira: 1,06%, aos 130.842 pontos – o maior patamar nominal já alcançado pelo índice. A máxima anterior tinha sido no dia 7 de junho de 2021, quando fechou aos 130.776 pontos. Desde então, os 130k nunca tinham aparecido em nenhum fechamento até hoje. No pico do dia, o Ibovespa chegou a cruzar os 131k.
A festa desta quinta-feira não comemora algo exatamente novo. É mais como um after da euforia que dominou os mercados ontem, quando investidores brindaram a um mundo com menores juros. Cortesia do Fed, que confirmou sua postura mais dovish dos últimos tempos.
O banco central americano manteve os juros americanos na faixa atual, de 5,25% – 5,5%. Até aqui, nada de novo. O que mudou mesmo foram os pequenos spoilers sobre os próximos passos que o órgão costuma deixar em suas decisões monetárias. Dessa vez, começou a falar em mais cortes para 2024, e o mercado está convencido que eles virão muito em breve.
Mais de 60% do mercado prevê que o primeiro corte nos juros virá já em março de 2023, segundo o CME Group – essa é a visão que considera um Fed mais dovish. Analistas do Goldman Sachs também entram nesse grupo.
Um palpite um pouco mais conservador prevê cortes só a partir de maio. De qualquer forma, a visão central dos investidores é essa: os juros começarão a cair mais cedo do que se esperava.
É uma interpretação do mercado, claro. O que o “dot plot” do Fed – o documento que reúne as previsões dos membros do Fomc (o Copom americano) – de fato antevê é que, ao longo de 2024, os juros deverão cair em 0,75 p.p (mais provavelmente em três levas de 0,25 p.p.). É um corte a mais do que o previsto anteriormente. E não há menção de timing para esse processo começar, siga-se.
Os próprios dirigentes do Fed, liderados pelo chefão Jerome Powell, evitam dar direcionamentos otimistas demais e lembram que a inflação pode sempre voltar a assustar. Mas não adianta: nada abala o otimismo de Wall Street. Hoje, depois de subir fortes 1,37% ontem, o S&P 500 voltou a subir, ainda que mais tímidos 0,26%.
Para além do corte de juros em si, que tende a impulsionar a economia e aumentar o apetite por risco nos investimentos, o mercado também comemora o que parece ser o “pouso suave” da economia americana. Isso porque, apesar do aperto monetário do Fed para combater a inflação, o mercado de trabalho americano segue resiliente e não rolou uma recessão na economia dos EUA.
É nessa onda de otimismo que o Ibovespa surfa para quebrar seu recorde. E olha que, também ontem, o Copom deu um direcionamento mais hawkish do que o mercado esperava, o que até poderia azedar um pouco o humor.
O nosso próprio banco central adiantou que o ritmo de cortes atual da Selic – de 0,5 p.p. por reunião – vai se manter. Uma parcela dos investidores é mais otimista e acredita que dá para acelerar esse ritmo, só que o próprio Copom parece discordar.
De qualquer forma, isso virou nota de rodapé e não serviu para estragar a festa Faria LIma.
Mais motivos
Não só: essa guinada otimista nos mercados quanto a questão dos juros vem em um momento especial – o chamado “rali de fim de ano”, quando as bolsas já tendem a subir. Juntou o útil ao agradável.
Quem também subiu nesta quinta-feira – e deu uma mãozinha para o Ibov – foi o petróleo. O Brent avançou fortes 3,16% hoje, a US$ 76,61. No embalo, Petrobras (PETR4) subiu 2,17%; PetroRio (PRIO3) figurou entre as maiores altas, com salto de 4,53%. PetroRecôncavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) saltaram 1,91% e 3%, respectivamente.
Mesmo assim, o petróleo vem de uma trajetória de forte queda. Desde o pico em setembro, a cotação cai 20%. Isso apesar da Opep+, o cartel de importantes produtores da commodity, tentar estancar a sangria cortando sua própria produção. Até agora, sem grandes efeitos.
Em Brasília
Na agenda política, o destaque ficou com o Congresso. Por ampla maioria, os deputados e senadores derrubaram o veto do presidente Lula à desoneração da folha de pagamentos. Com isso, a política, primeiramente instituída no governo Dilma em 2011, continuará em vigor até pelo menos o fim de 2027.
A desoneração engloba 17 setores da economia, e foi vetada pelo governo federal sob o argumento de que ela é cara e ineficiente em atingir seu objetivo central, que é criar e preservar empregos. Além disso, o fim desse benefício seria um jeito da gestão petista de tentar cumprir sua meta de déficit zero para 2024 – apesar de ninguém do mercado realmente acreditar que isso é factível.
O Congresso, por outro lado, não gostou que o presidente vetou a medida aprovada pelo legislativo e derrubou o veto. Além disso, as empresas dos setores beneficiados fazem lobby para a manutenção da política. De qualquer forma, o ministro Haddad já adiantou que a pauta deverá acabar decidida no Judiciário. Cenas dos próximos capítulos.
Na semana, o Ibovespa sobe quase 3%. E ela nem acabou. Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Dexco (DXCO3): 4,79%
Prio (PRIO3): 4,53%
Lojas Renner (LREN3): 4,30%
MRV (MRVE3): 4,23%
Localiza (RENT3): 3,80%
MAIORES BAIXAS
Casas Bahia (BHIA3): -5,66%
Natura (NTCO3): -5,22%
Petz (PETZ3): -4,98%
Magazine Luiza (MGLU3): -3,95%
SCL Agrícola (SLCE3): -3,68%
Ibovespa: 1,06%, aos 130.842 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,27%, aos 4.719 pontos
Nasdaq: 0,19%, aos 14.761 pontos
Dow Jones: 0,43%, aos 37.248 pontos
Dólar: -0,12%, a R$ 4,9151
Petróleo
Brent: 3,16%, a US$ 76,61
WTI: 3,04%, a US$ 71,58
Minério de ferro: -1,05%, cotada a US$ 132,97 por tonelada na bolsa de Dalian (China).