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Fed injeta adrenalina no mercado: alta de 2,42% para o Ibovespa

BC americano sinaliza corte de 0,75 p.p. ao longo de 2024 e leva o Ibov à melhor marca do ano: 129.465 pontos.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 13 dez 2023, 19h02 - Publicado em 13 dez 2023, 18h59

O Fed “manteu”, mas também surpreendeu. Os juros por lá seguem em 5,5%, como todos esperavam. Mas agora há uma novidade: a sinalização de que o BC americano deve cortar a taxa de juros em 0,75 p.p. ao longo de 2024

Em setembro, quando tinham saído as últimas projeções desse tipo, previa-se um total de cortes mais ameno, em 0,50 p.p.

Foi mesmo uma injeção de adrenalina. Os gráficos dos S&P 500 e do Ibovespa deram uma empinada forte no momento do anúncio. E fecharam bem: 1,37% para o índice americano e vigorosos 2,42% para o brasileiro.

O Ibovespa fechou em 129.465 pontos – a máxima do ano, superando os 128.103 pontos do dia 1º de dezembro. No ano, a alta já é de 17,6% (um pouco abaixo do S&P 500, que está no maior nível em dois anos e soma 21,9% em 2023). 

Das 86 ações que formam o índice, só quatro fecharam em baixa. Um dia para lavar a alma.

Tudo isso, naturalmente, antes de o BC fechar esta super quarta anunciando o corte de mais 0,50 pp na Selic, que agora vai a 11,75%. Como o que fez preço foi o Fed, vamos examinar melhor o anúncio de hoje.   

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O mapa astral do Fed

A previsão melhor do que a encomenda veio no “dot plot” – um gráfico trimestral em que cada dirigente com direito a voto do Fomc (o Copom deles) coloca seus pitacos para uma série de indicadores econômicos – entre os quais a taxa de juros, decidida por eles próprios. 

Em setembro, a mediana das projeções apontava para juros em 5,1% ao final de 2024. No dot plot divulgado hoje, ela caiu para 4,6%. Como neste momento os juros operam numa banda entre 5,25% e 5,50%, isso sugere um corte de pelo menos 0,75 pp – contra 0,50 pp da estimativa anterior.

Levando em conta que o Fed tende a subir ou baixar os juros em 0,25 pp de cada vez, o dot plot sugere três cortes ao longo das oito reuniões do ano que vem – sendo que as primeiras rolam em janeiro, março e maio. 

Até ontem, 39,7% do mercado (de acordo com a pesquisa diária do CME) apostava que o primeiro corte viria em março. Hoje, após a divulgação do dot plot, essa proporção subiu para 63,7%. 

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Também até ontem, 24,2% acreditavam que mesmo na reunião de maio ainda seria mantido o patamar atual, sem cortes. Agora, apenas 5,3% acreditam nessa hipótese. Ou seja: é uma expectativa geral de que “de maio não passa”, com um forte viés para os cortes comecem em março mesmo. 11,8% são ainda mais otimistas: esperam um primeiro corte ainda em janeiro. Ontem, só 4% faziam tal aposta.      

Na coletiva após a divulgação, Jerome Powell fez seu papel, e tentou acalmar os mais afoitos. Disse, de novo, que não descarta um novo aumento nos juros caso a inflação não convirja para a meta, de 2%. Mas o recado já estava dado na ata do Fed.

A última, de novembro, começava dizendo: “Indicadores recentes sugerem que a economia está expandindo com força“. Isso é ruim, no contexto atual: uma economia em forte expansão é uma economia sujeita a mais inflação. Logo isso indicava uma tendência de mais aperto nos juros (ou, pelo menos, da manutenção deles em 5,5%, a maior em 22 anos, por mais tempo).

A ata de agora veio com outras palavras-chave: “Indicadores recentes sugerem que a economia desacelerou ante o forte ritmo do terceiro trimestre”. Ou seja: dá a letra de que as condições para começar os cortes estão no ar.   

Com isso, as taxas dos treasuries de 10 anos caíram a 4,01% – de 4,20% ontem. Por aqui, os juros futuros caíram pela curva toda, puxando os títulos públicos. A taxa real do IPCA+2035 caiu fortes 13 pontos base, a 5,51% – de 5,64% ontem. É o menor patamar desde maio.

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Cai o juro, sobe o preço na marcação mercado – o valor de cada título. Quem tem IPCA+2035 na carteira, então, viu seu saldo subir 1,5% em um dia. Quase dois meses de CDI numa tacada só.

O big picture     

Determinar as taxas de juros de um país equivale a dirigir um carro com os freios avariados. Na chuva. E de noite. Porque simplesmente não dá para saber quando e como a inflação vai ceder num ciclo de alta. Você pisa no freio (ou seja, sobe os juros) e mantém o pedal pressionado (deixa os juros lá no alto) para drenar moeda do mercado e arrefecer a economia. A inflação começa a cair. Ok. 

Mas quando é a hora de tirar o pé do freio (começar os cortes)? Quando a inflação chega na meta? Não, porque as altas nos juros têm efeito retardado. Mantenha a taxa no pico com a inflação já na meta, e o perigo passa a ser de recessão iminente. O próprio Powell lembrou hoje, aos mais desavisados, de que não, não vai esperar a inflação chegar a 2% para iniciar os cortes.

E o fato é que a inflação pelo núcleo do PCE, o índice que o Fed tem por objetivo de levar a 2%, está, sim, em franca desaceleração na leitura em 12 meses. Aqui:  

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Outubro: 3,5%

Setembro: 3,7%

Agosto: 3,8%

Julho: 4,3%

O de novembro só sai no dia 22/12. O núcleo do CPI, o outro índice de inflação dos EUA, ficou estável em 4,0% para 12 meses encerrados em novembro, mesma taxa de outubro. Caso o PCE interrompa a sequência de quedas, acende-se novamente a luz vermelha. Por ora, vale super quartar com os bons agouros do dot plot.

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Até amanhã.  

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MAIORES ALTAS 

Magalu (MGLU3): 10,96%

Hapvida (HAPV3): 8,67%

MRV (MRVE3): 8,23%  

Gol (GOLL4): 7,52%

Asaí (ASAI3): 7,21%

 

ÚNICAS BAIXAS

SLC Agrícola (SLCE3): -0,82%

IRB (IRBR3): -0,76%  

BB Seguridade (BBSE3): -0,51%  

Eztec (EZTC3): -0,27% 

 

Ibovespa: 2,42%, aos 129.465 pontos

 

Em Nova York

S&P 500: 1,37%, aos 4.707 pontos

Nasdaq: 1,38%, aos 14.733 pontos

Dow Jones:  1,40%, aos 37.090 pontos

 

Dólar: -0,92%, a R$ 4,92

 

Petróleo 

Brent: 1,37%, a US$ 74,24 

WTI: 1,25%, a US$ 69,47

 

Minério de ferro: -1,35%, a US$ 133,27 por tonelada na bolsa de Dalian (China).

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