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Falência do SVB pode fazer com que o Fed reconsidere alta nos juros

Apostas em 0,5 p.p. para a próxima reunião do banco central americano caem a zero. E a esperança repercute por aqui, com quedas firmes no DI futuro e altas em VIIA3 e MGLU3.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 21 out 2024, 10h38 - Publicado em 13 mar 2023, 17h33
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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De longe, parece um paradoxo, mas faria limers e Lula concordam em algo crucial: ambos amam juros baixos – e não vêem a hora da Selic cair. O mesmo raciocínio vale para Biden e os coletinhos de Wall Street.

Todo político eleito, afinal, quer uma população assalariada em pleno emprego, comprando geladeiras, carros e apês a prestações pagáveis. Quando a máquina da economia roda azeitada, aumentam as chances de reeleição. Juros altos impedem essa reação em cadeia virtuosa. Causam estagnação econômica, que se traduz em insatisfação com o Executivo.

Todo investidor, por sua vez, quer uma bolsa com apetite, que fecha em alta com frequência e dá retornos mais atraentes que a renda fixa. Isso só é possível em uma economia saudável, em que empresas lucrativas vendem geladeiras, carros e apês e então distribuem dividendos mais gordos aos acionistas – para não falar na valorização dos papéis em si.

Sequer é justo dizer que o Banco Central gosta de juros altos. Eles são um remédio amargo para combater a inflação, mas é evidente que nem Campos Neto nem Powell têm qualquer prazer sádico em ver o número de pedidos de seguro-desemprego aumentar. Os dirigentes de BCs mundo afora freiam a economia de seus países hoje para que a coisa não degringole em inflação – o que é ainda pior – no futuro. É uma decisão tecnocrática. 

Esse falso paradoxo explica outro falso paradoxo: os índices de Nova York passaram quase toda essa segunda (13) em alta, apesar ao colapso do Banco do Vale do Silício (SVB) – o 16º maior banco dos EUA, dentre os 4,7 mil que o país sedia – e o fechamento subsequente do Banco Signature, um peixe menor.

É que esse terremoto no sistema financeiro americano – trata-se da maior falência do setor desde a crise de 2008 – praticamente obriga o Fed a cancelar ou postergar uma alta na taxa básica de juros americana em sua próxima reunião, marcada para começar em 21 de março. 

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Até a bomba estourar, na sexta, a bola de cristal do mercado dava como certo que Powell e sua trupe poriam mais 0,5 ponto percentual na “Selic” americana, atualmente em 4,75%. Agora, Powell e os Fed boys – apelido engraçadinho dos dirigentes de cada sucursal do BC americano – viram que os juros estão, de fato, fazendo vítimas. Afinal, o SVB quebrou basicamente por causa da alta na Selic americana.

No fim do dia, porém, o medo de uma bagunça no sistema financeiro venceu a esperança com os juros mais baixos. E o S&P 500 fechou em leve queda, de 0,15%. 

Entenda o caso SVB

Os principais clientes do banco californiano, que são startups de tecnologia, tinham menos dinheiro depositado em suas contas. Natural: o grosso da grana desses pretendentes a unicórnio vem de investidores com apetite por risco, como fundos de venture capital. Em um cenário de juros altos, tem muito mais gente disposta a comprar títulos públicos – que são ultrasseguros – do que a se arriscar apostando em um novo app que pode nunca chegar a dar lucro.

Em segundo lugar, quando os clientes correm para sacar a grana que têm guardada em um banco, a instituição precisa vender sua poupança em títulos públicos para atendê-los. E títulos públicos comprados nos últimos anos passaram a valer bem menos quando a taxa básica de juros aumentou em 2022 – e os títulos emitidos hoje passaram a pagar rendimentos maiores. Se você pode comprar um papel novo que dá 4,75% ao ano, porque você compraria um “usado” que paga 1,25%?

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De acordo com a plataforma de monitoramento do CME Group, há 35,8% de chance de que a taxa básica de juros americana permaneça idêntica à atual ao final da reunião do Fed que termina em 22 de março, e 64,2% de que ela suba 0,25 ponto percentual. As apostas em 0,5 p.p., que eram 40% do total até sexta passada, agora caíram para zero. Esse é o grau de confiança do mercado americano no efeito calmante da falência do SVB. 

O epicentro dessa interpretação otimista foi Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs – que afirmou “não esperar mais uma alta” e contagiou todos que leram suas aspas ao longo do dia. Ajudou, claro, a reação firme do Fed para impedir uma corrida de saques capaz de gerar falências em série no sistema bancário americano (manobra que você pode entender melhor aqui).

Ibovespa

Nosso índice seguiu as bolsas americanas: fechou em baixa (não tão leve) de 0,48%.  

Via e Magalu subiram além dos 5%, seguindo a lógica de que juros mais baixos nos EUA permitirão juros mais baixos aqui – e de que cortes na Selic, naturalmente, seriam bons para o consumo e o varejo. O DI futuro para janeiro de 2024 atingiu menos de 13% pela primeira vez desde que Lula foi eleito. Ajuda, claro, o cenário nacional, com o novo arcabouço fiscal cada vez mais próximo de sair do papel. 

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Mas o tsunami SVB chegou às costas brasileiras pegando pesado com os bancões, que fecharam em baixa e puxaram o índice da B3 junto: ITUB4, -1,20%; BBDC4, -1,11%. Para completar, o Brent caiu 2,5%, arrastando consigo as petroleiras. Petrobras, que responde por 11,6% do índice, caiu 3,16% em PETR4. PRIO3 (-4,34%) e RRRP3 (-5,40%) também ficaram no vermelho.

A ver quais desdobramentos do caso SVB – e quais interpretações desses desdobramentos – vão reinar no pregão de amanhã. Até lá! 

Maiores altas

Via (VIIA3):12,09%
Magalu (MGLU3): 9,41%
MRV (MRVE3): 7,31%
Petz (PETZ3): 6,54%
Locaweb (LWSA3): 5,88%

Maiores baixas

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São Martinho (SMTO3): -5,81%
3R Petroleum (RRRP3): -5,40%
Dexco (DXCO3): -5,36%
Méliuz (CASH3): -5,10%
Prio (PRIO3): -4,34%

Ibovespa: -0,48%, a 103.121 pontos


Em NY:

S&P 500: -0,15%, a 3.855 pontos
Nasdaq: +0,45%, a 11.188 pontos
Dow Jones: -0,28%%, a 31.819 pontos

Dólar: 1,16%, a R$ 5,26

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Petróleo

Brent: -2,43%, a US$ 80,77%
WTI: -2,45%, a US$ 74,80

Minério de ferro: +2,25%, a US$ 131,60 a tonelada na bolsa de Cingapura

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