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Como Naji Nahas enriqueceu inflando a maior bolha da história do Ibovespa

Em 1988, o investidor libanês forçou altas na Petrobras com empréstimos milionários e fez o índice subir 1569%. Quando a manipulação veio à tona, a bolsa nem abriu com medo do crash.

Por Bruno Vaiano | Design: Brenna Oriá | Ilustrações: Estevan Silveira | Edição: Alexandre Versignassi
Atualizado em 18 out 2024, 14h10 - Publicado em 8 set 2022, 15h34
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 (Estevan Silveira/VOCÊ S/A)
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Em 1988, um investidor libanês chamado Naji Nahas – que já tinha renome no submundo da manipulação de mercado por ajudar os bilionários irmãos Hunt a gerarem uma bolha artifical na cotação da prata em 1979 – passou a pegar empréstimos vultuosos com amigos bancários para comprar caminhões de ações da Petrobras e forçar altas.

Ele chegou a ser dono de 7% dos papéis da petroleira e 12% dos da Vale – quando repetiu a manobra de 1988 em 1989 com a gigante do minério de ferro. Hoje, essa carteira seria suficiente para torná-lo a 2ª pessoa mais rica do Brasil (na época, nem tanto, porque as bolsas do Rio e de São Paulo representavam só 5% do PIB nacional, contra os atuais 50%. A inflação não permitia que o mercado de ações prosperasse).

A questão é: como ele lucrava o suficiente para pagar os juros dos empréstimos e ainda tirar um cascalho? 

Bom: imagine que a alta está rolando em outubro. As ações estavam a 30 dinheiros no começo do mês e chegaram ao dia das crianças valendo $60. O lance é que em setembro, antes de tudo começar, Nahas já tinha operado no mercado de derivativos

Traduzindo: havia adquirido um montão de contratos que diziam “este papelzinho lhe dá o direito de comprar ações da Petrobras pelo preço atual ($30) no mês de outubro, não importa o quanto elas estejam custando.” Essa garantia de congelamento de preço chama opção de compra, e é uma ferramenta comum do mercado financeiro.

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Se eu acho que a ação vai cair para $25, por exemplo, te vendo uma opção de compra a $30 e cobro $1 por isso. Se a ação cair, você não vai exercer sua opção – não vale a pena comprar por $30 uma ação que está valendo $25 – e bingo: eu ganho $1 sem fazer nada.

Por outro lado, se as ações subirem para $35, eu me trumbico. Sou obrigado a vender pelo preço defasado ($30), e você revende logo em seguida pelo preço mais alto, embolsando os $5 de diferença. Em suma: as opções são uma aposta, capaz de gerar cascalho instantâneo se o comprador der sorte. É um jogo de azar legalizado. A não ser, é claro, que você já saiba o futuro. 

Nahas sabia, porque fazia seu próprio futuro, forçando altas com empréstimos. Aí fica fácil ganhar. Com várias opções de compra na mão, ele exercia seu direito adquirir por $30 – e aí revendia por, digamos, $60 no mercado na mesma hora, pois a as ações tinham subido muito.

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Tudo isso com um requinte de crueldade: como ele era dono de muitas ações, algumas pessoas que nem possuíam mais papéis na mão àquela altura – mas ainda tinham que honrar a opção de compra – se viam obrigadas a comprá-las de Nahas por $60 e depois vendê-las de volta ao próprio Nahas por $30.

Essa é só uma explicação simplificada sobre um de seus vários golpes. Nahas operou tanto na Bovespa (atual B3) como na então relevante bolsa do Rio (BVRJ). Até que o presidente da Bovespa na época, Eduardo Azevedo, pressionou os bancos a cortarem os empréstimos usados para forças as altas. Ele não conseguiu honrar os contratos de compra de ações que já estavam firmados. E aí começou a quebradeira (em entrevista, o libanês disse ter 5 milhões de ações da Vale e 4 milhões de ações da Petrobras no auge da maracutaia).

Quando ficou claro que um golpe era a força por trás das altas mirabolantes nas ações – o Ibovespa subiu 1.569% acima da inflação em 1988, e estamos falando de inflação do governo Sarney –, os investidores passaram a esperar uma catástrofe. Na segunda-feira seguinte à revelação, o mercado nem abriu com medo do crash inevitável. E a BVRJ nunca recuperou o volume de negócios anterior: desapareceu, e deu lugar a São Paulo como sede da única bolsa do País. 

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Você pode até inflar o mercado artificialmente, com artifícios complexos. Mas, para quem quer ganhar dinheiro ilegalmente, a boa e velha pirâmide de Ponzi ainda funciona tão bem quanto sempre funcionou. É só ter um chamariz hypado o suficiente para cegar o raciocínio dos investidores. E o hype da vez, claro, são as criptomoedas. No próximo texto da série, conheça a história de uma pirâmide cripto que desabou: o TerraUSD.  

Errata: na edição impressa de setembro, invertemos as porcentagens do primeiro parágrafo, dizendo que Nahas era dono de 12% da Petrobras e 7% da Vale. Os número estão corretos nesta versão online.

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