Bolsas sobem com proposta ucraniana de negociação e queda no petróleo
Sanções não vão afetar as exportações de petróleo russo, o que freou a alta nos preços. E a falta de apoio militar fez a Ucrânia rever adesão à Otan, abrindo espaço para diálogo com Putin. Ibov sobe 1,39%.
Depois de quase 48 horas sob ataque russo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, propôs a Putin uma negociação. E os mercados subiram com a possibilidade, ainda que remota, de paz.
Zelensky deu o braço a torcer depois de perceber que não teria ajuda militar de outros países. Durante os pronunciamentos, o presidente ressaltou que o Ocidente “deixou o país sozinho”.
Além disso, o presidente da Ucrânia avaliou as sanções impostas como fracas. Até ontem, os países europeus e os EUA congelaram ativos bancários e limitaram a capacidade da Rússia de fazer negócios. Mas ficou faltando tirar a Rússia do Swift, o sistema que permite transferências bancárias internacionais – sem ele, só dá para exportar em troca de Bitcoin ou coisa que o valha, por debaixo dos panos; ou seja, sem chance para fins práticos.
Ao que parece, a eventual retirada da Rússia do Swift ficou como uma carta na manga para o caso de Putin não recuar.
Mas, para pressionar os russos, talvez falte combinar com os russos. Putin preparou-se por décadas para eventuais punições econômicas vindas por conta de eventuais guerras (que na cabeça dele não eram tão eventuais assim). O país é o quarto colocado no mundo em termos de reservas internacionais – tem o equivalente a US$ 630 bilhões em moeda estrangeira (não necessariamente dólar); 25% disso está na forma de ouro, o único meio universal de troca realmente à prova de apocalipse zumbi.
As sanções, de qualquer forma, buscaram mexer numa parte sensível de Putin e seus asseclas: o bolso. Nesta sexta, a União Europeia e a Casa Branca anunciaram o congelamento dos bens do presidente russo e de seu ministro de Relações Exteriores, Sergey Lavrov.
Mas na falta de ajuda militar ao estilo Mourão, Zelensky se viu obrigado a enviar sua mensagem aos russos solicitando uma negociação. Volodymyr, inclusive, afirmou que está disposto a adotar um “status neutro”, ou seja, abandonar a ambição de entrar na Otan – o motivo central da crise toda. “Eu quero mais uma vez fazer um apelo ao presidente da Federação Russa. Vamos sentar na mesa de negociações e parar as mortes”, disse.
O Kremlin concordou. Vai enviar uma delegação para dialogar com a Ucrânia. Os países agora estão decidindo se o encontro será em Minsk, capital de Bielorrússia (país-fantoche da Rússia), ou em Varsóvia, capital da Polônia (membro da Otan). O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennet, foi convidado por Zelensky para mediar as negociações.
Mercado financeiro
A possibilidade de diálogo e as sanções mais duras para as finanças pessoas de Putin do que para a economia global serviram de Rivotril para o mercado. Wall Street passou o dia no positivo. A Nasdaq avançou 1,64%, a 13.694 pontos. Já o S&P 500 disparou 2,24%, a 4.384 pontos.
O mercado até ignorou o PCE (Índice de Despesas de Consumo Pessoal, na sigla em inglês). Ele mede a inflação dos bens e serviços nos EUA.
Em janeiro, o indicador subiu 0,6%; e no acumulado de 12 meses, está agora em 6,1% – acima das prévias, que apontavam para 5,8%.
O Ibovespa acordou emburrado, mas fechou a “sexta-feira de Carnaval” no positivo: alta de 1,39%, a 113.141 pontos.
Os brasileiros também estão lidando com a recuperação do dólar. Quem viu a moeda americana batendo nos R$ 5 na quarta-feira, dificilmente imaginava que ela sextaria 3% acima disso (R$ 5,15) – hoje foram mais 0,99%.
De qualquer forma, no acumulado de fevereiro, a moeda americana caiu 2,83%. No ano, a desvalorização é de 7,54%, o que reflete a forte entrada de capital estrangeiro no Brasil. Até 23 de fevereiro, data dos últimos dados disponíveis, o saldo positivo está em R$ 58,9 bilhões – mais da metade do valor aportado em 2021, de R$ 102 bilhões.
Petróleo
O preço do petróleo deu uma trégua, depois de ultrapassar os US$ 105 no pregão de ontem. O tipo Brent, que é referência internacional, caiu 1,36%, enquanto o WTI (referência nos EUA) caiu 1,31%.
A commodity – que já estava em um movimento de alta – viu seus preços dispararem ainda mais após a invasão russa. Mas o mercado fica mais aliviado conforme cresce o entendimento de que o setor será poupado das sanções à Rússia.
Os EUA, por exemplo, bloquearam negócios dos maiores bancos russos, mas abriram uma exceção para atividades relativas à energia, além de produtos agrícolas, remédios e equipamentos médicos. Durante seu pronunciamento ontem, Joe Biden também prometeu aumentar o fornecimento de petróleo e gás americano para a Europa nas próximas semanas.
Por aqui, a despeito da queda de hoje no Brent, as empresas do setor subiram: a 3R Petroleum figurou entre as maiores altas do dia, com 4,86%, seguida de perto pela PetroRio (3,90%).
Já a Petrobras ficou em mais tímidos 1,41%. Jair Bolsonaro voltou a criticar a política de preços da companhia e o valor da gasolina. Ele também aproveitou para provocar o general Joaquim Silva e Luna, presidente da estatal, afirmando que “ele ganha mais de R$ 200 mil por mês e que tem que trabalhar e apresentar uma solução”.
Bom, mesmo com o facho mais sossegado neste momento, o petróleo ainda registra alta de 21% no ano – e olha que ainda nem chegou o Carnaval…
Opa, espera aí. Chegou!!
Bom feriado e até a quarta-feira de cinzas 🙂
Maiores altas
CSN (CSNA3): 6%
Vale (VALE3): 5,23%
3R Petroleum (RRRP3): 4,86%
Bradespar (BRAP4): 4,10%
PetroRio (PRIO3): 3,90%
Maiores baixas
Qualicorp (QUAL3): -6,79%
Locaweb (LWSA3): -6,34%
CCR (CCRO3): -5,24%
Cielo (CIEL3): -4,15%
Marfrig (MRFG3): -3,83%
Ibovespa: 1,39%, a 113.141 pontos
Em NY:
S&P 500: 2,24%, a 4.384 pontos
Nasdaq: 1,64%, a 13,694 pontos
Dow Jones: 2,51%, a 34.058 pontos
Dólar: 0,99%, a R$ 5,1557
Petróleo
Brent: -1,36%, a US$ 94,12
WTI: -1,31%, a US$ 91,59
Minério de ferro: -1,95%, US$ 134,54 no porto de Qingdao (China)