É possível ser feliz no trabalho? Esta técnica quer provar que sim

17% dos profissionais acredita estar vivendo a pior fase da carreira. Confira recomendações de Juliana Sawaia, ex-executiva da Meta e cientista da felicidade, para reverter esse cenário.

Por Sofia Kercher
28 jan 2025, 08h00
Mulher escrevendo novas ideias em post-it na parede de vidro.
 (Luis Alvarez/Getty Images)
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“Dizem que isto é felicidade: nunca sentir que seria melhor estar em outro lugar, nunca sentir que seria melhor ser alguém que não você. Alguém mais jovem, mais velho. Alguém melhor.”

O trecho faz parte do livro Poeta Chileno, obra prima do – também poeta chileno –  Alejandro Zambra. No capítulo, o escritor descreve a relação da família que será foco das 432 páginas da obra, formada por Carla, Gonzalo e Vicente. Carla é mãe de Vicente, e Gonzalo é seu padrasto. 

Zambra referia-se às pequenas alegrias da vida doméstica, mas suas palavras tocam em algo profundamente universal. Entre o espetacular mundo do poeta e os escritórios brasileiros, a distância não poderia ser maior. Por aqui, cerca de 7 a cada 10 profissionais sentem-se mais ou menos felizes – ou menos felizes do que poderiam estar – no trabalho.  Isso significa que, das 9h às 18h, 70% deles gostariam de estar em outro lugar. De ser outra pessoa.

O dado vem da pesquisa de mestrado de Juliana Sawaia, cientista da felicidade e ex-executiva da Meta. A profissional também chegou a outro dado bastante assustador: quase 20% dos entrevistados afirmou que estava vivendo a pior fase de sua vida profissional. Os números foram coletados no final do ano passado. 

A especialista quis quantificar o que chamou de “epidemia da infelicidade“, o que já é reconhecido como um problema real-oficial. Em 2023, a Gallup lançou um relatório preocupante: cerca de 77% dos colaboradores entrevistados (122 mil, um Maracanã e meio de CLTs) não estavam engajados com o trabalho. Leia-se: tanto pessoas que estavam operando em produtividade mínima, psicologicamente desconectados de seus empregadores, quanto aqueles que estavam ativamente procurando prejudicar a empresa (uma parcela bem mais modesta, diga-se, mas ainda existente).

Em relação ao estado emocional dos participantes, mais uma bomba: 44% dos entrevistados se sentem estressados diariamente no trabalho. Outros 21% disseram sentir raiva todos os dias no ambiente da empresa.

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Baseado nesse cenário, Sawaia resolveu tangibilizar a felicidade como uma ferramenta e uma estratégia de negócios, tanto para ajudar as empresas quanto os colaboradores. Nosso próximo tópico. 

Segurança psicológica & outros herois do expediente 

Segundo a pesquisa de Juliana, a liderança pode influenciar em até 70% a felicidade no ambiente de trabalho. Não à toa, aqueles que não ocupam essas posições são maioria dentre a trupe dos menos felizes (47%).

Para reverter esse cenário, Sawaia chama atenção à segurança psicológica. Amy Edmondson, professora da Harvard Business School, foi a primeira a cunhar o termo em 1999, com a seguinte definição: “a crença de que ninguém será punido ou humilhado por expressar ideias, dúvidas, preocupações ou erros.” Sem isso, o ambiente vai ficando cada vez mais denso – os trabalhadores, cada vez menos felizes.

Naturalmente, esse é um superpoder da liderança – e um que só a liderança pode implementar com totalidade. Para os meros mortais, a trajetória para uma vida mais plena das 9h às 18h é um pouco mais complexa. 

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Frédéric Lenoir nos ajuda nessa questão. O filósofo e sociólogo madagascarense escreve, em seu livro Sobre a felicidade: Uma viagem filosófica: “O grande paradoxo da felicidade é que ela é tão indomável quanto cultivável. Ela depende tanto do destino ou da sorte quanto de uma atitude racional e deliberada”.

Quase 20% dos profissionais acredita estar vivendo a pior fase da carreira.

Tão indomável quanto cultivável. Para cair na segunda categoria, Sawaia afirma que é preciso uma construção intencional, diária, pavimentada por escolhas mais significativas e alinhadas com nossa essência. 

“No trabalho, é necessário que você saiba o que te faz feliz e pratique aquilo constantemente. Seus superpoderes – aquelas tarefas que você realiza com maior facilidade  – precisam estar alinhados com aquilo que é mais significativo para você, com seu propósito. Se aquilo não te traz felicidade, é preciso começar a pensar em novas estratégias”, explica.

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O grande paradoxo da felicidade é que ela é tão indomável quanto cultivável.

Isso também inclui largar o vício em sucesso (você pode ler mais sobre nesta reportagem aqui). Enquanto a felicidade é pautada no que somos e no que oferecemos, o sucesso está pautado no que representamos. No longo prazo, nenhuma promoção, reconhecimento profissional ou dinheiro do mundo trará o tipo de contentamento que falamos sobre no começo do texto. 

Job crafting

Para toda essa filosofia, uma solução prática e implementável no dia a dia: o chamado job crafting. O termo vem do inglês, e junta a palavra trabalho (job) com o ato de construir algo artesanalmente (crafting). Em tradução livre, seria algo similar a “emprego feito à mão”.

O conceito nasceu na mesma época que o da segurança psicológica, em 2001. Foi fruto de uma pesquisa conduzida por duas professoras universitárias: Amy Wrzesniewski, de Yale, e Jane Dutton, da Universidade de Michigan.

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As especialistas observaram trabalhadores de uma equipe de limpeza de hospital. Foram encontradas duas categorias de comportamento dentre os funcionários: o primeiro grupo demonstrava nenhuma motivação ou engajamento com o trabalho; era movido pelo cheque que receberia no fim do mês. O outro grupo se comportava e agia de modo muito diferente: eles conseguiam enxergar que o trabalho era relevante e contribuía para a cura dos pacientes. Eram mais motivados e engajados – mais felizes. 

Trocando em miúdos, o job crafting é uma prática que permite aos colaboradores redesenharem suas funções de trabalho para que fiquem mais alinhadas com suas habilidades, interesses, necessidades e valores. Mais: quando as funções não conseguem ser realinhadas na prática, a mudança pode acontecer na mentalidade que dita nossa relação com o trabalho. Igual vimos no exemplo acima. 

A ideia é buscar projetos, iniciativas e espaços em que você encontre a satisfação que anda lhe faltando nas tarefas do cotidiano. O estudo mostra que, com pequenas mudanças, é possível encontrar sentido no trabalho. Sentido esse que está alinhado aos seus interesses pessoais e propósito.

Seus superpoderes – aquelas tarefas que você realiza com maior facilidade  – precisam estar alinhados com aquilo que é mais significativo para você.

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Sawaia explica que essa é a melhor forma de moldar o seu trabalho e conectar seus superpoderes com as oportunidades da empresa. Ela cita seu próprio exemplo: “Eu não trabalhava com felicidade enquanto executiva, era tudo relacionado com dados. Nesse caso, comecei a procurar dentro da empresa projetos que falassem de bem-estar, para conseguir me inserir”, aconselha. 

Ainda sim, ela calibra o tom: você nem sempre encontrará uma posição que contemple todas suas habilidades e expectativas. Mas sempre há espaço nas organizações para encontrar funções que te tragam experiências mais significativas. Isso inclusive te dá uma babagem que pode ser muito valiosa na hora de uma transição de carreira, caso esse seja seu desejo. Foi o de Juliana. 😉

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