Os movimentos de carreira

o longo da nossa carreira, viveremos uma série de possibilidades de nos movimentar profissionalmente. Em um passado não muito distante, esta função era delegada às organizações, nas quais quase todos os movimentos relacionados à carreira do indivíduo dependiam e/ou eram norteados unicamente por elas.

Mas, nos últimos anos, é possível notar o crescimento do protagonismo do trabalhador, com cada um assumindo a responsabilidade por suas escolhas e trajetória profissional.

Segundo a pesquisa Global Workforce of The Future, realizada pela Adecco em 2022 e atualizada em 2023, 62% dos trabalhadores pretendem ter maior controle sobre o desenvolvimento das suas competências no futuro, comportamento visto também nos empregadores que já abrem conversas de carreira nas organizações.

Ser o guia da própria carreira é estar consciente de que se mover é parte do crescimento. Deslocamentos podem ser motivados por alguns aspectos, como o desejo de crescer, pausar, aumentar ou diminuir a carga de trabalho, buscar um maior propósito ou significado no que faz ou pode ser fruto de uma reflexão com o objetivo de iniciar um novo capítulo profissional.

Podemos classificar alguns desses movimentos de carreira, tais como Lateral; Enriquecimento; Exploração; Realinhamento, Vertical e Realocação, todos com suas especificidades.

Andando de lado para aumentar seu conhecimento

O chamado Lateral são os movimentos laterais que podem ocorrer quando o objetivo é nos manter no mesmo nível em que atuamos. Provavelmente aqui existe um alinhamento com a escolha de carreira, e o foco não está no aumento do nível hierárquico ou na maior remuneração.

Essa escolha é movida pelo interesse em conhecer um novo segmento, empresa ou por não vislumbrar possibilidade de crescimento onde se encontra, mas, ainda assim, não se vê pronto para alçar voos mais altos. Este movimento pode ocorrer dentro da mesma organização, buscando uma área correlata ou em novas organizações.

Aprofundando seus conhecimentos sem sair do lugar

No Enriquecimento, o indivíduo está ávido por saber mais sobre o que já faz. A estratégia é buscar desenvolvimento na mesma área de atuação, porém aprofundando seus conhecimentos, buscando formas diferentes de olhar e realizar o trabalho, encontrando correlações.

Esse movimento vem ao encontro de estudos do Fórum Econômico Mundial, que revelaram que 44% das habilidades que dominamos hoje podem não ser mais relevantes amanhã. Isso nos dá certeza de que o Upskilling e Reskilling serão fundamentais para a longevidade da carreira.

Além disso, ações como realizar benchmark com colegas de mercado, encontrar um mentor, estudar tendências, participar de grupos de estudo, associações e afins, além de construir e testar teses serão grandes aliados para esse movimento.

Sou feliz com o que faço ou onde faço?

O movimento chamado Exploração pode ser impulsado por uma dúvida ou insatisfação sobre as escolhas profissionais e/ou posições ocupadas.

A angústia do domingo à noite, a procrastinação no dia a dia, sentimento de peso e sacrifício na rotina podem ser sinais de que é hora de explorar novos caminhos. O primeiro passo é se questionar: “Estou infeliz com o que faço ou infeliz onde faço?”

Se a infelicidade estiver sendo causada pelas suas escolhas profissionais, será importante explorar possibilidades. Um primeiro passo é elencar seus fatores de satisfação e insatisfação. Mapear interesses e identificar motivadores poderão ser úteis neste processo.

Pode parecer assustador fazer mudanças drásticas, como a escolha de uma nova carreira, por isso é importante ter em mente que isto exigirá investimento de tempo, financeiro e técnico. Este movimento será gradual e um bom planejamento será a chave para uma mudança bem-sucedida.

A angústia do domingo à noite, a procrastinação no dia a dia, sentimento de peso e sacrifício na rotina podem ser sinais de que é hora de explorar novos caminhos.

Outro fator que pode levar a esse movimento de Exploração é a grande transformação que o mundo vem sofrendo, impactando alguns postos de trabalho e criando outros. Estar ciente de suas habilidades pode ser muito útil para mobilidade interna.

Segundo a mesma pesquisa, 56% dos trabalhadores consideram que suas competências são transferíveis, ou seja, seriam facilmente aplicáveis em outras posições. Outro questionamento válido é se o cansaço e a rotina pesada estão influenciando a tomada de decisão.

Não costumamos fazer boas escolhas sob forte estresse. A orientação nesse caso é descansar. Uns dias de férias podem ajudar a baixar esse sentimento de insatisfação e, na volta, será imprescindível negociar com você mesmo e seu gestor formas mais equilibradas de realizar seu trabalho.

Adequando-se ao seu momento de vida

O Realinhamento é o movimento que acontece quando, naqueles momentos da vida em que desejamos e/ou precisamos reacordar nossas escolhas e/ou a maneira como as exercemos. Por exemplo, a maternidade/paternidade, uma questão de saúde, aposentaria ou até mesmo a vontade de fazer uma pausa.

Isto não está relacionado ou determina o encerramento da vida profissional, mas, sim, um realinhamento com o que estamos vivendo. Esse movimento pode vir no formato de sabático, redução de carga horária, mudança de nível hierárquico ou do escopo de trabalho.

Escolhas que pedem previamente, reflexão e planejamento para estruturar essa nova etapa. É possível encontrar, em nosso dia a dia, profissionais que optaram por sair do papel de gestão para atuar como especialistas, mães que reduziram suas jornadas de trabalho, executivos que se deram um período sabático para explorar o mundo e/ou estudar.

Para quem tem vínculo CLT, o importante aqui é fazer boas negociações e entender as flexibilidades da legislação trabalhista.

Visando o topo

Chegamos ao movimento de ascensão hierárquica, o Vertical. Aqui se almeja uma posição superior a que se está, com aumento de escopo, responsabilidade ampliada, possivelmente cargos de liderança e adequação da remuneração frente aos novos desafios.

Porém, a prontidão do profissional não necessariamente ocorre no mesmo momento da disponibilidade da posição. É necessário olhar atento, conversas internas e externas para expressar os objetivos e sondar oportunidades. Estar pronto não garante uma promoção imediata, mas aumenta as chances de estar no lugar certo, na hora certa.

Por mais significado no trabalho

A Realocação é o movimento que pode se dar no momento que percebemos algum incômodo onde estamos. Pode ser da ordem do alinhamento com a cultura, com o líder, com a impossibilidade de crescimento, do propósito, da falta de espaço para exercer suas competências, do ritmo/volume ou modelo de trabalho, entre muitos outros.

Investigar a causa dessa intenção pode ajudar a definir o próximo passo e a encontrar um trabalho que traga maior significado. Verificar condições de mercado, do segmento em que atua, buscar pesquisas salariais do setor e conversar com pares em outras organizações podem ajudar a desmistificar alguns pontos.

Às vezes a grama do vizinho pode parecer mais verde do que é. Confirmando sua intenção, desenhe um bom plano de abordagem ao mercado, atualize seu posicionamento, reveja sua trajetória, defina o novo objetivo e dê visibilidade a sua rede dos seus interesses, competências e potencial.

O autoconhecimento é primordial para qualquer movimento

Movimentos de carreira necessitam de reflexão e autoconhecimento. É difícil fazer uma mudança consistente e coerente sem ter clareza de nossas forças e vulnerabilidades. Se precisar, conte com apoio profissional para esse passo e se mantenha atualizado, lendo, estudando, trocando etc., isto deixará você em condições favoráveis para se deslocar.

E, por último, vale lembrar que a palavra carreira tem origem no latim que remete a caminho. Como toda estrada, além de paisagens lindas, haverá curvas sinuosas, obstáculos e pontos cegos. Estudar e escolher a melhor rota trará alguma previsibilidade. E, no caso de intercorrência: recalcule a rota. E boa viagem!