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O que significa “grau de investimento”?

Significa que um país ou empresa ganhou a confiança das agências de rating, que avaliam o risco de calote de títulos públicos e privados. Entenda o sistema de classificação.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 11 ago 2023, 09h52 - Publicado em 11 ago 2023, 06h05

Títulos públicos, emitidos por países, e títulos privados, que as empresas lançam para se financiar, movem a renda fixa global. Todo investimento tem seu risco, claro. Para avaliar a confiabilidade dos emissores de dívidas, então, formou-se um conjunto de empresas no ecossistema financeiro: as “agências de classificação de risco”. S&P, Fitch e Moody’s são as maiores.

Elas dão “notas” para avaliar o risco de calote. Essas notas vêm na forma de letras, e de combinações entre elas (veja na tabela). 

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(Arte/VOCÊ S/A)

A S&P e a Fitch usam o mesmo sistema: da melhor para a pior, as avaliações possíveis ali são AAA, AA, A, BBB, BB, B, CCC, CC, C e, por fim, D – justamente a inicial da palavra default – “calote” em inglês.  

Também entram sinais de “+” e de “-” para refinar a escala: cada nota pode vir acompanhada de um sinal positivo ou negativo (tipo BB+, BB-….). As exceções ficam na base e no topo da tabela. CC, C e D não vêm com sinal nenhum. AAA, a classificação máxima, também não.

Grau de investimento” significa qualquer nota de BBB- para cima. Elas dizem, por óbvio, que o país ou a empresa tal estão entre os agentes mais dignos de confiança. De BB+ para baixo, temos o oposto. Nesse caso, a agência de classificação considera os títulos “especulativos”.

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Não significa necessariamente uma chance de calote, ao menos não no sentido mais direto do termo. O grau especulativo tem mais a ver com a desconfiança na moeda de cada lugar. Por exemplo: se um país passar por um surto de inflação, ele pode até imprimir dinheiro para pagar suas dívidas. Mas a moeda terá desvalorizado. Vale como calote. 

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Os títulos públicos do Brasil chafurdam na lama dos especulativos desde a recessão de 2015-2016. Na década anterior, o país tinha alcançado o grau de investimento, entrando para a casa BBB. Mas depois dessa crise, perdeu o badge. No momento, estamos assim: BB- pela S&P, BB pela Fitch e o equivalente pela Moody’s, Ba2. 

Em junho, a S&P conferiu um certo upgrade para o Brasil. É que, além das notas em si, há outro fator de refinamento da escala: a “perspectiva”. A nota sempre vem acompanhada por um “viés”, digamos assim. Ele pode ser positivo, negativo ou neutro. 

Até o final do primeiro semestre, éramos BB- “neutro”. A S&P, então, aumentou nossa perspectiva para positiva. Em julho, veio um carinho da Fitch. Desta vez, na forma de uma promoção para valer. Subimos de BB- para BB. 

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Não é a panaceia. Guatemala e Vietnã também são BB pela Fitch. Bangladesh, Costa do Marfim e Uzbequistão, BB- pela S&P. Na turma do grau de investimento, o do BBB- para cima, temos Peru, Bulgária, Romênia e Filipinas, pelas duas agências. Ou seja: não precisa ser escandinavo para chegar a esse patamar. 

Na raspa do tacho, com nota D por ambas, estão Belarus, Líbano, Sri Lanka e Venezuela. A Argentina, praticamente um país em recuperação judicial, equilibra-se um degrau acima: CCC- pela S&P, CC pela Fich e Ca pela Moody’s.

Com a nota máxima, AAA, e pelas três agências, só nove nações: Alemanha, Holanda, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, Canadá, Austrália e Singapura. 

Os EUA faziam parte desse clube até 2011. Só que aí a S&P rebaixou o país para AA+. Motivo: a dívida deles tinha chegado a 95% do PIB, a maior desde 1947. Hoje ela está em 121%. E agora, em agosto de 2023, a Fitch também diminuiu a nota dos EUA para AA+, justamente por conta da aceleração da dívida.  

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Entre empresas, a parada é ainda mais dura no andar de cima. A S&P só concede essa avaliação hoje para Microsoft e Johnson & Johnson. A Moody’s, para essas duas mais a Fannie Mae – estatal americana de financiamento imobiliário. A Fitch, só para a Fannie Mae mesmo.

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