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O que é a lei dos rendimentos decrescentes?

É o nome em academiquês para uma ideia intuitiva: não adianta aumentar o número de garçons se a cozinha e o salão não crescerem também.

Por Bruno Vaiano
13 jan 2023, 06h01

Pense em um restaurante médio, que fatura uns R$ 50 mil por mês e dá 15% de lucro. Nas últimas semanas, muitos clientes desistiram e foram embora sem comer porque o atendimento demora. Também, pudera: o lugar só tem um garçom. O dono, então, contrata mais uma pessoa para o salão. E dá certo. O faturamento sobe para R$ 55 mil e a margem de lucro vai a 17%.

Os números animam o patrão, que pensa: “Será que adianta chamar mais um?” Ele contrata o terceiro garçom e então vem uma surpresa ruim: o lucro cai em vez de aumentar, e o faturamento fica praticamente estável.

Isso acontece porque dois garçons são suficientes para a clientela do local. Com um trio, o total de trabalho se dilui entre mais pessoas, e cada uma delas passa mais tempo ociosa. Se o dono quiser aumentar o faturamento, terá de atacar em outras frentes: aumentar o salão, contratar mais cozinheiros, investir em publicidade para atrair um público maior etc.

Essa regra vale para tudo: não adianta comprar mais uma colheitadeira se sua fazenda é pequena. A Apple pode contratar o dobro de gênios de exatas do MIT, mas o próximo iPhone não vai ficar duas vezes melhor. O problema é que, conforme o escritório for enchendo, cada gênio contribuirá um pouquinho menos que o gênio anterior nas sessões de brainstorm – afinal, elas estão lotadas, não dá tempo de todo mundo falar, duas pessoas se desentendem e começam a bater boca… Olha aí os retornos decrescendo.

Em academiquês, diz-se que “em processos produtivos, aumentar um fator de produção em uma unidade (tipo contratar um garçom) enquanto se mantêm os outros fatores de produção constantes (como deixar cozinha e salão iguais) faz com que cada unidade a mais passe a render um output menor a partir de um certo ponto”.

Economistas como os ingleses Thomas Malthus e David Ricardo, lá no século 18, já enunciavam esse princípio. Que, vale dizer, não se aplica só à administração de empresas. Por exemplo: sabe-se que o IDH aumenta em função do PIB per capita – ou seja, quanto mais rica é a população de um país, mais sua qualidade de vida aumenta. Mas IDH tem limite (que é 1), e quanto mais um país se aproxima desse limite platônico, mais difícil conquistar mais pontos. A Suíça, com 0,962, dificilmente vai conseguir adicionar mais do que 0,010 ou 0,015 em seu score, que já é ridiculamente alto.

Para conseguir uma alta de 55% no IDH em três dácadas, a China teve de fazer seu PIB crescer 4.700%.

Bem diferente da China, que fez seu IDH saltar de 0,490 em 1990 para 0,760 hoje – uma alta de 55% – enquanto seu PIB de fato cresceu 4.700%. Com um ponto de partida tão ruim (800 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia), a melhora foi muito rápida e sensível. É como se a China tivesse um garçom só em 1990. E a Suíça já estivesse com os três.

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