Imagem Blog

Guru

Perguntas & Respostas
Continua após publicidade

Drex: o que é e para que serve o real digital?

Entenda de uma vez as aplicações práticas da inovação, que já entrou em fase de testes.

Por Alexandre Versignassi
11 out 2023, 05h48

Mais do que uma “moeda digital”, o Drex é um sistema. Para começar a entender, pense no mundo das NFTs

Você não pode comprar uma NFT usando dinheiro “normal”. É necessário alguma criptomoeda – geralmente o Ethereum (ETH). Você adquire ETHs numa exchange. Ao fazer isso, o sistema do Ethereum registra que uma certa quantidade de ETHs agora pertence à sua carteira virtual, uma espécie de “conta bancária” onde as criptos ficam guardadas. A partir desse momento, os ETHs ficam em seu nome dentro do sistema do Ethereum.   

Então você entra no OpenSea, um site de NFTs, e busca a imagem de um macaquinho da série Bored Apes, por exemplo, para comprar. O que faz desse jpeg uma NFT é o fato de ele também estar dentro do sistema do Ethereum, em nome de outra pessoa.

Compartilhe essa matéria via:

A série Bored Apes consiste em 10 mil desenhos de macaco. Cada um traz detalhes diferentes dos demais, tornando cada imagem única. Bom, digamos que o dono de uma dessas imagens a colocou para vender lá no OpenSea por 1 ETH. E que você quer comprar usando seus ETHs. No momento em que você transfere 1 ETH para o sujeito em troca da imagem, o sistema vai registrar automaticamente que ela agora pertence à sua carteira virtual. Isso te garante a posse da coisa.

A transferência de propriedade é instantânea, porque o sistema do Ethereum é uma blockchain – um software de registro automático que abriga ao mesmo tempo o dinheiro (nesse caso, os ETHs) e uma coisa que dá para comprar com esse dinheiro (os jpegs de macaquinho). 

Continua após a publicidade

No jargão tecnológico, diz-se que o jpeg que você comprou é um “ativo não-financeiro tokenizado”. A criptomoeda é um “ativo financeiro tokenizado”. Quando você usa o ativo financeiro para comprar o não-financeiro, este último passa automaticamente para o seu nome. 

Isso só existe no mundo das blockchains e das criptomoedas. Não rola com dinheiro comum. Por um motivo básico: dinheiro comum roda dentro dos softwares do sistema bancário, e coisas que a gente compra com dinheiro habitam em outros sistemas. 

Se você compra um carro, por exemplo, o registro dele não fica no software do banco, mas no do Detran. Se compra um apartamento, o registro dele estará num cartório. Se for um título público, no software do Tesouro Nacional. Nada passa automaticamente para o seu nome no ato da compra. É preciso que o vendedor reconheça ter feito a venda e assine a papelada necessária (mesmo no caso dos títulos públicos, cuja transferência parece automática, há burocracias).   

O mundo sempre foi assim. E tudo certo. Mas a criação do Ethereum, em 2014, possibilitou o lance da transferência automática, com zero burocracia e a qualquer hora. Mas isso sempre foi algo de nicho. Não há apartamentos, carros ou títulos públicos na blockchain do Ethereum.

Continua após a publicidade

Agora, voltemos ao real digital. A ideia ali é desenvolver uma espécie de “Ethereum do Banco Central”. Ou seja, um sistema de blockchain, e capaz de abarcar ativos financeiros e não-financeiros. O financeiro é o Drex em si. E o BC pretende “vender” cada uma das unidades de Drex ao público por R$ 1. Transfira R$ 100 mil à autarquia e receba 100 mil Drexes em troca.

E por que trocar real por Drex? Para comprar ativos não-financeiros que estejam lá dentro. Registros de carros, por exemplo, poderão estar nessa blockchain do BC no futuro. E se você comprar um veículo usando Drex, ele passa automaticamente para o seu nome. 

É isso. O Drex já existe, inclusive. Está em fase de testes. Não há certificados de posse de carros dentro da blockchain dele neste momento, claro. O BC começou tokenizando algo mais simples: títulos públicos. Nos testes, bancos usaram Drexes cedidos pelo BC para comprar títulos lá dentro da blockchain do Banco Central. 

Qual a vantagem? Como o processo é automático, a compra dos títulos pode rolar fora do horário comercial, por exemplo. Numa realidade com o Drex disponível ao público, quem quiser comprar títulos no sábado de madrugada poderá fazê-lo – da mesma forma que envia um Pix. Também vai dar para vender títulos e receber o dinheiro (em Drex) no mesmo instante. E se quiser usar seus Drexes pra comprar sorvete via Pix, tudo certo – ele será tão aceito quanto o real normal.     

Num segundo momento, vão tokenizar ações – e comprar um papel levará 1 segundo, em vez de três dias. E mais adiante, após reformas pesadas na legislação, provavelmente tenhamos registros tokenizados de carros e casas. 

Continua após a publicidade
-
(ARTE/VOCÊ S/A)
Publicidade