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Nomadismo digital: ainda dá para trabalhar de qualquer lugar?

Entre voltar para o escritório e o home office, há quem ainda faça qualquer-lugar-office. Entenda.

Por Luana Franzão
Atualizado em 31 jul 2024, 11h32 - Publicado em 31 jul 2024, 08h00
Mulher usa turbante vermelho e usa computador em frente às pirâmides do Egito
Stephanie Haidar soma 181.298 quilômetros voados – o suficiente para dar 4,5 voltas na Terra. (Stephanie Haidar/Divulgação)
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Com a Covid-19 veio o home office, e com o fim da pandemia, vieram as discussões sobre o retorno ao trabalho presencial. Chegar a uma conclusão sobre esse assunto não é simples: há vantagens e desvantagens significativas nos dois modos de trabalho. 

Um dos grupos que fortalece o coro daqueles que não querem ficar o dia inteiro no escritório são os nômades digitais. Eles são uma versão evoluída do funcionário que trabalha de casa, transformando o home office em qualquer-lugar-office. Cidades de praia, montanhas, na Europa ou na Oceania: se tiver wi-fi e uma tomada, tá valendo.

Se engana quem pensa que essa é uma ideia de maluco. Os adeptos, em geral, possuem uma rotina regrada e podem trazer benefícios tanto para os empregadores, quanto para o local onde estão. A maior parte desses trabalhadores são autônomos, mas há empresas que não se importam em contratar funcionários em formato totalmente remoto.

Um relatório elaborado pela Fragomen, empresa especializada em imigração, em parceria com o Fórum Global de Migração e Desenvolvimento, aponta que a Cidade do México ganhou US$ 523,4 milhões com trabalhadores remotos na economia. A ilha de Barbados também afirma ter recebido cerca de US$ 100 milhões em lucros do turismo e US$ 6 milhões em impostos com seu visto “Selo de Boas Vindas”, destinado a nômades digitais com duração de um ano.

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Ao permitir que funcionários trabalhem de pontos geográficos diferentes, as empresas podem aumentar seu potencial de inovação: dessa forma, é mais fácil acessar novas informações, ideias, redes e recursos.

Falando desse jeito, parece que a vida de nômade digital é um morango. Mas para tudo na vida há desvantagens. A comunicação digital muitas vezes não substitui o olho no olho e a integração da equipe pode ser prejudicada. O trabalho remoto também significa passar a maior parte dos dias em isolamento social – o que pode afetar a saúde mental. É uma questão de perfil: o funcionário precisa entender em qual formato se sente mais confortável e ver quais benefícios (e problemas) pesam mais e menos no psicológico.

Cidadã do mundo

Uma das pessoas a fazer esse balanço é Stephanie Haidar, 29. A busca por um equilíbrio mais saudável entre trabalho e vida privada é o que levou a profissional,  jornalista de carreira, a procurar o trabalho remoto.

Stephanie trabalhou com a carteira assinada em uma rádio durante oito anos, naquele esquema clássico da profissão: sem horário fixo, sem emenda de feriado e com muitos plantões de fim de semana. A pandemia permitiu que ela pudesse apresentar o programa que comandava na rádio em sua casa durante alguns meses. A fase global difícil coincidiu com um desafio pessoal de Haidar: sua tia sofria com um câncer terminal. “Tivemos a oportunidade de passar os últimos dias da vida dela juntas”, disse.

Quando voltou ao escritório, percebeu que poderia estar passando muito mais tempo da sua vida convivendo com a família. E não só. Notou também que poderia estar em qualquer lugar do mundo que a permitisse trabalhar remotamente. Ela saiu da CLT e foi passando por alguns empregos em home office, até decidir tornar-se autônoma. Hoje, escreve como ghost writer para perfis de executivos no LinkedIn.

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A somatória dos últimos dezoito meses é intensa: foram 24 países, 41 voos (que somam 9 dias e 23 horas viajando no ar) e 181.298 quilômetros voados – o suficiente para dar 4,5 voltas na Terra. Foguete não tem ré – e a Stephanie, muito menos.

Mulher usa notebook em frente ao castelo da Disney
O poder de passar mais tempo com a família e conhecer novos lugares atraiu Stephanie Haidar pela vida nômade (Stephanie Haidar/Divulgação)

A relação com seus clientes é transparente. Eles sabem que ela trabalha cada semana de um lugar diferente, e está sujeita a mudanças de fuso horário. Haidar explica que muitos dos contratantes também têm vidas agitadas e viajam muito. Alguns estão em Dubai, outros nos EUA e alguns transitam entre países, igual a própria.

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“Eu tenho alguns clientes que também são cidadãos globais, têm investimentos em vários países. Por exemplo, uma transita entre São Paulo e a Itália. Quando recebo uma mensagem às 3 horas da manhã, sei que ela está na Itália”, conta.

A chave para dar certo é comunicação clara e organização prévia. Sempre que ela está conhecendo um lugar onde será difícil conseguir sinal ou parar para abrir o notebook, adianta o trabalho e avisa os clientes da indisponibilidade. Por segurança, também não combina serviços informalmente, somente sob contrato. Isso garante alguma previsibilidade na renda e na frequência das entregas.

Saldo positivo

Haidar tem certeza de que a ausência de um escritório fixo não interfere de forma negativa no resultado do trabalho. Se um emprego pode ser exercido usando um computador e uma rede de internet eficiente, não há razão para forçar uma interação presencial.

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“Para muitas empresas não importa só a entrega. Elas querem ter o controle da sua vida e do seu tempo. Com os clientes é diferente: as coisas vão dando certo e eles são respondidos quando precisam. Para eles, pouco importa que horas eu comecei a trabalhar”, afirmou.

Ela volta quando pode ao Brasil para passar uns dias com seus pais, e, sobretudo, com a sua avó. Quando está por aqui, gosta de levá-la para passear no shopping ou tomar um lanche fora de casa. Luxos permitidos pelo trabalho remoto e a rotina autônoma.

Enquanto conversava com a Você S/A, Stephanie estava em Paris para acompanhar alguns dias dos Jogos Olímpicos que acontecem na cidade. Depois seguiria para a Itália e o Reino Unido, destinos que ainda não conhece.

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