Conheça os sintomas que indicam transtorno de ansiedade

Os brasileiros são o povo com o maior índice de ansiedade do mundo. Atenção aos sinais físicos, cognitivos e emocionais da doença

Por Márcia Di Domenico
Atualizado em 24 jan 2020, 15h52 - Publicado em 24 jan 2020, 15h00
No limite, a ansiedade pode levar ao desenvolvimento de depressão e burnout (Tero Vesalainen/Getty Images)
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Chega de fúria

Há pouco mais de cinco anos, o engenheiro Leonardo Militelli, de 39 anos, fundador da IBLISS Digital Security, de segurança cibernética, tinha tudo para comemorar: os negócios iam de vento em popa, ele havia se tornado pai e acabara de fechar a compra do novo apartamento. Mas as conquistas tiraram Leonardo do eixo.

O crescimento rápido da companhia, somado com a inexperiência em administração, a falta de equipe e o aumento das despesas, resultou em um quadro de alta ansiedade. “Fiquei absorvido por tarefas de gestão sendo que eu não tinha nenhuma formação para isso. Ao mesmo tempo, ia me afastando da parte técnica do trabalho, que é o que me dá prazer.”

O mal-estar foi contaminando os ambientes e as relações. Mas a crença de que podia resolver tudo e a personalidade workaholic o faziam engolir tudo a seco. “Na frente dos clientes eu fingia que estava no controle, mas por dentro estava destruído. Os negócios iam muito bem, mas, na minha cabeça, eu vivia a tensão de que a empresa ia fechar no dia seguinte.”

Ele chegava de manhã dando sermão na equipe e qualquer detalhe fora do planejamento era motivo para explosão. Resultado: pedidos de demissão e queda de produtividade.

Em casa, o clima também pesou. O empreendedor vivia impaciente, passava madrugadas trabalhando e tinha acessos de fúria a ponto de arremessar objetos contra a parede. Foi após um desses episódios que a esposa, médica, alertou que ele precisava se tratar.

Leonardo tirou férias para por a vida em ordem. Começou terapia e tomou remédios controlados por uns meses. Contratou uma consultoria de gestão corporativa, voltou para a natação e o squash e mudou a rotina para ter mais tempo com a família. “Tento encarar o trabalho com mais leveza e faço pausas para evitar picos de estresse no escritório.”

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Leonardo Militelli | Foto: Germano Lüders ()

 

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Propósito recuperado

Em determinado momento da vida de fundador de uma startup na área de logística, Luiz Fernando Gomes, de 31 anos, percebeu que tinha chegado ao seu limite.

“Desentendimentos na sociedade por causa de organização e planejamento foram me fazendo perder a visão sobre rumo do negócio e sobre o que eu estava aprendendo ali. Aquilo deixou de fazer sentido para mim.”

Na época, a insatisfação e a dúvida sobre ficar ou partir se refletiram no corpo e na cabeça: ele engordou, vivia irritado, começou a ter dificuldade para tomar decisões simples e passou a não ir para o trabalho. Até que decidiu deixar a sociedade mesmo sem ter nada em vista.

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Luiz passou nove meses pensando em qual seria o próximo passo e chegou a se arrepender da demissão no início, mas focou em avaliar o que precisava mudar no próprio comportamento. Nesse processo, adotou o hobby de preparar cafés especiais (que era um desejo antigo), começou a se exercitar e a ler mais.

Depois da pausa, aceitou o convite para voltar ao mercado e agora é diretor da Overdrives, aceleradora de startups pertencente a um grupo educacional com presença forte principalmente no Norte e Nordeste no país. A rotina agora é de 9 às 17h e os fins de semana são longe das obrigações profissionais, o que ajuda a manter o equilíbrio.

“Continuo trabalhando bastante, mas agora vejo propósito no que faço.”

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Luiz Fernando Gomes | Foto: Germano Lüders

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(Redação/VOCÊ S/A)

Novos ares

Aos 36 anos, Ingrid Macedo Hüller, agora com 39 anos, resolveu mudar de carreira e se tornar psicóloga clínica. Antes de dar essa guinada, atuou na área administrativa em diversas áreas, várias vezes convivendo com chefes abusivos, ambientes hostis e tendo que lidar com crises de ansiedade que desenvolviam sintomas físicos e psíquicos.

No último emprego que teve, ela chegou a ter alergias e problemas gástricos, além de viver assombrada pelo medo de errar – o que fazia com que Ingrid cometesse erros inexplicáveis.

Ao procurar ajuda psicológica para atravessar aquela fase, deu-se conta de que o problema não era ela – até porque não era a única na equipe que adoecia com frequência. “Foi também quando comecei a pensar na importância do bem-estar no ambiente de trabalho e a criar minhas estratégias para não entrar na espiral de estresse e ansiedade de antes.”

Aí veio a motivação para a faculdade de psicologia. Ingrid somou ao seu repertório ferramentas úteis na gestão da ansiedade, como técnicas de respiração e meditação.

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Hoje tem um consultório no qual atende principalmente adolescentes, que andam altamente ansiosos pelos níveis de cobrança dos pais, da escola e deles próprios. “É importante abordar desde cedo que saúde mental é necessidade e não luxo. Ou o problema só tende a escalar e resultar em uma multidão de adultos doentes.”

 

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Ingrid Macedo Hüller | Foto: Germano Lüders

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(Redação/VOCÊ S/A)

 

Empreender com equilíbrio

O período em que Iana Chan, de 31 anos, conciliava o emprego em comunicação com a criação da PrograMaria, projeto que capacita mulheres que querem trabalhar com tecnologia e programação, era de muita ansiedade.

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Isso acontecia por dois motivos: a sobrecarga de atividades (ela trabalhava mais de 12 horas por dia) e as incertezas em torno do novo negócio. O perfil perfeccionista, com dificuldade para ouvir não, e o discurso de que “é preciso dar tudo de si sem reclamar”, comum no empreendedorismo, colaborou para que, por dois ou três anos, a vida dela fosse só trabalho.

“Eu não via os amigos, esquecia de comer e adiava até as idas ao banheiro. Dormia e acordava pensando no que precisava fazer. Comecei a ficar doente com frequência.”

Há pouco mais de um ano Iana passou a se dedicar exclusivamente à PrograMaria e viu a necessidade de rever a rotina e a mentalidade para que a saúde mental não se tornasse um obstáculo até seus objetivos.

Ela agora não pula refeições para trabalhar, descansa nos fins de semana, não deixa de ver os amigos e faz pequenas pausas quando sente que está muito agitada. E vem aprendendo a regular as emoções.

“Com a flutuação de clientes vêm as frustrações, é preciso assumir decisões arriscadas, enfrentar o medo de errar, saber ouvir não. Entender que vai haver dias calmos e outros mais tensos já é um alívio. A ansiedade permanece, mas hoje sei lidar melhor. Procuro me observar sempre para não deixar que ela tome conta.”

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Iana Chan | Foto: Germano Lüders ()

Quer saber mais sobre ansiedade? Leia nossa matéria completa aqui

 

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