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Como perguntar sobre o salário numa entrevista de emprego sem se queimar, segundo a ciência

Muitas empresas ainda escolhem ocultar informações sobre remuneração até os 45 do segundo tempo. Mas existem formas elegantes de introduzir o assunto junto ao recrutador. Veja.

Por Sofia Kercher
Atualizado em 27 fev 2024, 15h30 - Publicado em 27 fev 2024, 15h29
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intou notificação de vaga no LinkedIn. Você clica no link, empolgado — é uma empresa reconhecida no seu ramo, para uma posição que você gostaria de exercer. Ao passar os olhos pela página, dá de cara com aquele iconezinho azul: “salário a combinar”. Putz.

Se serve de consolo, você não é o único a ficar frustrado quando a empresa faz a egípcia no quesito remuneração. Uma pesquisa realizada pela associação americana SHRM mostrou que candidatos analisam salário, qualificações e funções na hora de se candidatar para uma vaga de emprego — especificamente nessa ordem. Ainda, 70% preferem que a faixa salarial esteja incluída na primeira mensagem de qualquer recrutador. 

Além disso, divulgar esses dados têm vantagens comprovadas, como diminuir as disparidades salariais entre homens e mulheres, aumentar a diversidade das contratações e a atratividade da empresa (especialmente para os candidatos de 18 a 35 anos, segundo um levantamento realizado pela britânica Atomik Research). 

Mesmo com tantos benefícios — tanto para os candidatos quanto para as companhias — muitas delas ainda escolhem ocultar essa informação até os 45 minutos do segundo tempo. Para não deixar sua situação financeira ao deus-dará, aqui estão algumas dicas, embasadas por pesquisadores e especialistas, para perguntar o salário (sem se queimar com o recrutador, claro).

No balaio de perguntas

No final de toda entrevista, de modo geral, os recrutadores irão abrir para dúvidas e questões em relação a vaga. O ideal mesmo é esperar para ver se esse assunto salário será mencionado ao longo da conversa — caso não, aproveite este momento e encaixe a pergunta do milhão por lá.

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É importante agir como se você estivesse pisando em ovos —- se a empresa não divulgou o salário até ali, provavelmente é porque ela considera o tópico sensível. Em vez de perguntar diretamente (“qual a remuneração dessa vaga?), existem abordagens mais sutis, como:

  1. “Você poderia me contar mais sobre os benefícios dessa vaga?” (isso já inclui plano de saúde, seguro de vida, vale transporte e refeição — ajuda);
  2. “Para um funcionário que exerce essa função, há uma faixa salarial que vocês poderiam compartilhar comigo?”
  3. “Vocês se sentiriam confortáveis de discutir a remuneração dessa vaga neste momento?”. Ou ainda: “Quando teremos a oportunidade de discutir a remuneração desta vaga?”
  4. Adicionar comentários positivos à pergunta também pode ser produtivo: “Estou muito feliz com esta oportunidade. Caso ela se concretize, adoraria encontrar uma faixa salarial que fosse adequada para ambos. Você poderia me dar uma ideia de qual o orçamento já existente para esse cargo?”

Vale, de fato, deixar a pergunta sobre salário para o final da fila. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Berkeley em 2012 concluiu que pessoas tendem a dar mais importância aos primeiros elementos de uma lista (sobre o assunto que for). Quando você pergunta sobre salário de cara, o recrutador pode absorver que aquela é sua prioridade, acima de questões como atribuições, valores da empresa e por aí vai. Não pega bem, por mais que o salário seja mesmo o mais importante.

Não se esqueça que, para receber a grana, você precisa conseguir a vaga antes: e no comecinho do processo é difícil saber se essa chance existe de fato. Vá com calma.

Sinceridade é a chave

Na hora da entrevista, pode parecer que apresentar só os melhores aspectos da nossa história e da nossa personalidade seja o caminho do sucesso. Mas um estudo da Universidade de Londres (UCL) descobriu que, para candidatos de alta qualidade (leia-se “que têm os atributos necessários para a vaga”), os resultados da entrevista são melhores quando eles mostram autenticidade e sinceridade para os recrutadores.

O estudo investigou 1.240 professores que estavam se candidatando a vagas nos Estados Unidos, e mostrou que a probabilidade de eles conseguirem o emprego (quando eram qualificados para tal) aumentava de 51% para 73% quando seu comportamento transparecia como genuíno.

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“Em uma entrevista de emprego, muitas vezes tentamos nos apresentar como perfeitos. Nosso estudo prova que esse instinto está errado. Os entrevistadores percebem uma auto-representação excessivamente polida como inautêntica e deturpada”, escreve a autora principal do estudo e professora de comportamento organizacional Celia Moore. 

Na hora de formular a pergunta sobre salário, então, é importante colocar todas as cartas na mesa. Por qual motivo a pretensão salarial é uma informação valiosa para você? Está economizando para alguma mudança de vida importante? A família cresceu? Se sentiu desvalorizado neste aspecto no passado? Seja sincero e específico com o recrutador. Isso pode ser produtivo não só na hora de perguntar a remuneração do cargo, mas na entrevista como um todo.

Dando tudo certo, no melhor dos cenários o recrutador abre a faixa salarial da vaga com você. No pior, ela estará abaixo das suas expectativas. Aí é hora de negociar. Veja aqui algumas ferramentas que podem ser úteis.  E se quiser mais dicas de como transformar uma entrevista em um emprego, clique aqui

Boa sorte 🙂

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