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Assédio e descontrole: funcionários relatam pesadelo na Livraria Cultura

Trabalhadores divulgam carta anônima com denúncias de piora no clima e suposto comportamento abusivo do CEO

Por Camila Pati
Atualizado em 28 fev 2020, 12h35 - Publicado em 28 fev 2020, 12h09

São Paulo – No mês em que a edição de VOCÊ S/A se volta para as piores empresas para trabalhar, com relatos de situações assustadoras de assédio moral em ambientes de trabalho para lá de tóxicos, uma nova (suposta) história digna do nosso especial PESADELO NA FIRMA circula na internet.

Uma carta anônima assinada por trabalhadores da Livraria Cultura, que está em recuperação judicial, denuncia piora no clima e nas condições de trabalho, descumprimento de direitos trabalhistas e expõe um suposto comportamento abusivo do CEO, Sergio Herz, durante uma reunião no começo do mês.

Não é a primeira vez que surgem denúncias dessa natureza. Em abril do ano passado, o jornal Passa Palavra ,do Coletivo Passa Palavra, publicou uma reportagem em que expunha casos de assédio moral na livraria, que negou todas as acusações, na época.

As novas denúncias, publicadas em primeira mão pelo site Viomundo, foram retiradas do ar, mas reproduzidas na íntegra pelo Passa Palavra. O texto divulgado traz detalhes de uma reunião do CEO com funcionários de uma das unidades da livraria em que foi discutida a mudança no modelo de gestão de metas gerais para metas individuais.

“Estou aqui para trazer uma provocação para vocês. Nesta loja eu tenho 17 vendedores, vocês acham que todos aqui são realmente necessários?”, teria dito Sergio no começo do encontro.  “Não, não são todos necessários. A maioria é ineficiente e não faz o seu trabalho. Numa equipe de 17, se eu demitir 10 e continuar com apenas 7 a loja daria o mesmo faturamento, de acordo com esta planilha”, continuou.

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Segundo o texto divulgado, a planilha a que se referia o CEO é a de ranqueamento individual dos funcionários. Desde novembro do ano passado, os vendedores passaram a ser avaliados individualmente em relação à quantidade de produtos vendidos e a mudança não teria sido bem recebida.

“Uma empresa em recuperação judicial certamente tem uma necessidade de mudança. Atribuir metas individuais, se feito de maneira clara com uma comunicação que não tenha agressão às pessoas pode fazer sentido”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive.

Estímulo à competição interna e perda de agilidade no atendimento aos clientes e distorções causadas pela nova métrica são alguns dos motivos citados pelos trabalhadores como prejuízos trazidos pelo novo modelo de análise de desempenho.

Sem entrar no mérito se o modelo de gestão por meta individual é o mais adequado ou não, Rafael Souto não considera a divulgação de uma carta anônima ao mercado uma boa solução. A imagem transmitida ao mercado, diz, é a de uma rebelião interna para derrubar o CEO.

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“Publicar uma carta aberta não é solução”, afirma.  Conflitos, em sua opinião, devem ser resolvidos internamente. Caso isso não seja possível pelo fato de se tratar do CEO da empresa, a melhor alternativa é procurar outra empresa para trabalhar.

Casos de assédio moral e descumprimento de direitos trabalhistas, como os denunciados pelos trabalhadores, podem ser levados à Justiça. “Se a pessoa se sentiu assediada individualmente pode buscar uma indenização por danos morais”, diz Rafael.

Combinação explosiva

Rafael Souto enxerga uma combinação explosiva em curso na Livraria Cultura: de um lado a já esperada resistência à mudança e de outro uma liderança com comunicação agressiva e desumanizada.

Apesar de não ter acompanhando o processo da Cultura, Rafael já testemunhou diversas transições no mundo corporativo os profissionais de postura resistente não são raros. “As pessoas tiveram anos um modelo e estão sendo submetidas a outro modelo (de ranqueamento individual, por exemplo).”

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Também são frequentes os casos de líderes com falta de inteligência emocional.  “Isso é típico de processos de intervenção. Uma mudança agressiva do processo de gestão, exige comportamento mais duro do gestor porque precisa mudar a cultura e nem todos têm o equilíbrio emocional na forma de fazer isso. Aí efeito colateral, é as pessoas se rebelarem”, diz.

Alguns dos momentos de descontrole do CEO durante a reunião foram estão relatados na carta dos trabalhadores. Segundo o texto, ele não economizou agressões:

“A maioria é ineficiente e não faz o seu trabalho. Numa equipe de 17, se eu demitir 10 e continuar com apenas 7 a loja daria o mesmo faturamento”

“Não adianta falarem nada, eu não vim aqui para ouvir ninguém, eu vim aqui para ser ouvido, dar meu recado e ir embora, isso daqui não é uma democracia”

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“Graças a esse novo governo, não vai ter mais essas frescuras de leis trabalhistas que só atrapalham”,

“Vocês querem receber FGTS? Então vendam mais”

O outro lado

A reportagem da VOCÊ S/A tentou contato com o CEO Sergio Herz, com funcionários e com a assessoria de imprensa da Livraria Cultura, mas até a publicação desta matéria não recebeu resposta. Caso a empresa se manifeste, esta matéria será atualizada.

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