ESG para baixinhos: como pequenas empresas podem adotar a agenda
Às vésperas da COP30 em Belém, conheça os caminhos para que PMEs assumam práticas mais sustentáveis e positivas – e por que isso é ótimo para o meio ambiente, a sociedade e a própria empresa.
Em novembro, países do mundo todo vão se encontrar em Belém, no Pará, para a 30ª edição da COP. A COP30 marca a primeira vez que a principal conferência climática da ONU acontece no Brasil. Escolher Belém também é simbólico: trazer o evento para pertinho da Floresta Amazônica é uma chance de pautar a preservação das florestas tropicais.
E negociar meios de mitigar as mudanças climáticas é a principal meta das COPs. Desde sua criação, as reuniões operam sob um princípio básico da política climática: “responsabilidade comum, porém diferenciada”.
Isso significa que é dever de todos os agentes globais ajudar na luta para salvar o clima. Contudo, alguns devem se esforçar mais. Países desenvolvidos, por exemplo, que enriqueceram queimando petróleo e carvão – e são os maiores contribuidores históricos do problema – deveriam estar na linha de frente. Eles têm mais recursos e podem ajudar os países mais pobres, que emitem menos e são os que mais sofrem com as consequências do aquecimento.
A pauta climática é muito importante? Claro. Porém, a discussão pode, muitas vezes, parecer presa a grandes players do planeta: países, multinacionais e grandes empresas.
Com as metas climáticas do Acordo de Paris avançando com dificuldade e a pauta ambiental sendo tratada com cada vez menos urgência, é fácil se desesperar – especialmente se você não é alguém com grande poder de mudança.
Mas aí vai um recado: você pode, sim, fazer a diferença. Seja como indivíduo ou até como pequeno empreendedor, todos podem contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. No centro da preocupação climática de um negócio, está a conhecida agenda ESG. Ela, além da pauta ambiental, reforça a necessidade de práticas positivas para a sociedade e a própria administração da empresa.
Os pequenos negócios representam 96% das empresas do Brasil. Não dá para falar de ESG, sustentabilidade, boas práticas de governança e inclusão sem envolvê-los na conversa.
A COP30 em Belém é uma oportunidade de todos – grandes empresas, pessoas e pequenos empreendedores – voltarem sua atenção a práticas mais sustentáveis. Vamos ver como e por quê.
Afinal, o que é ESG?
Você provavelmente já viu em algum lugar o que a sigla significa. ESG vem do inglês para Ambiental, Social e Governança Corporativa. Trata-se de uma série de parâmetros usados para medir o impacto de uma organização em diferentes pilares.
Ambiental, claro, diz respeito a como uma companhia afeta o planeta, o meio ambiente e seus recursos naturais. Entram nesse balaio questões como a pegada de carbono, eficiência energética, uso de água, gestão de resíduos, entre outros.
Social tem foco em como o negócio afeta indivíduos e a sociedade. Isso engloba políticas de diversidade e inclusão, saúde e segurança, relações saudáveis de trabalho e envolvimento com a comunidade.
Por fim, a governança se preocupa com as estruturas de liderança e organização da empresa, como o que ela faz para manter padrões éticos, transparentes e responsáveis. Incluindo direitos dos acionistas, diversidade do quadro de diretores e liderança, práticas anticorrupção e auditorias.
Mas, se quisermos entender mais profundamente seu significado e importância, vai ser preciso voltar um pouco no tempo.
A primeira menção do termo ESG foi em 2005, quando o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, convidou 23 instituições financeiras para “desenvolver diretrizes e recomendações sobre como integrar melhor questões ambientais, sociais e de governança corporativa na gestão de ativos, serviços de corretagem de valores mobiliários e funções de pesquisa associadas”.
O resultado foi um documento chamado “Who Cares Wins: Connecting Financial Markets to a Changing World”. Nele, as instituições encorajam acionistas, gerentes e executivos a abraçarem a agenda ESG. “As instituições estão convencidas de que uma melhor consideração dos fatores ambientais, sociais e de governança contribuirá, em última análise, para mercados de investimento mais fortes e resilientes, além de colaborar para o desenvolvimento sustentável das sociedades”, diz o relatório.
As instituições que assinaram o documento em 2005 acreditavam que, conforme o mundo se tornava cada vez mais globalizado e competitivo, a agenda ESG serviria para medir a qualidade de gestão de uma empresa.
Para elas, isso seria um diferencial competitivo importantíssimo. Como o ESG surgiu dentro da esfera de investimentos empresariais, o objetivo do relatório era mostrar como essa agenda atrairia mais investidores. Segundo ele, as questões de ESG poderiam aumentar o valor de uma empresa para os acionistas, ao mostrar que a companhia era capaz de “gerenciar riscos de forma adequada, antecipar ações regulatórias ou acessar novos mercados, ao mesmo tempo que contribuem para o desenvolvimento sustentável das sociedades nas quais operam”.
Mas um dos pontos mais fortes da importância da agenda ESG para os investimentos de uma empresa é o prestígio do selo. A reputação é uma parte cada vez mais importante do valor de uma marca, e alinhar os valores de sua companhia a uma agenda cada vez mais valorizada por investidores, consumidores, funcionários e mídia é uma aposta bem segura.
E aqui entra outra peculiaridade importante do ecossistema do ESG: não tem nada de Estado no meio. Quem vai decidir se uma companhia é digna ou não do selo ESG são fundos de investimento, bolsas de valores e consultorias que produzem índices de ações. Não existe um órgão público responsável por certificar as empresas, é um sistema autorregulado pelo próprio mercado.
Esses agentes certificadores pedem que as empresas prestem contas sobre suas ações de sustentabilidade, sociedade e governança corporativa. Esses relatórios detalhados ajudam a analisar quais empresas valem a aplicação.
Em troca de dados e relatórios extensos que são muito valiosos para investidores e consultorias, as empresas ganham uma certificação que é ótima para sua imagem. E é por isso que muitas companhias adotam a agenda ESG, mesmo não sendo obrigadas.
Desde 2005, as discussões internacionais sobre sustentabilidade, sociedade e governança corporativa se tornaram mais e mais presentes. Hoje, público e investidores se preocupam mais com essas questões. Ao estabelecer metas ESG, as empresas podem atrair investidores, construir a lealdade do cliente e garantir resiliência e sucesso no longo prazo. Tudo isso enquanto contribuem para um futuro mais transparente e sustentável.
Para os baixinhos
A agenda ESG, então, não é algo que só grandes companhias deveriam ir atrás. As micro, pequenas e médias empresas também podem se beneficiar muito de algumas das preocupações da pauta. Ela pode, por exemplo, ajudar a gerenciar riscos, acessar novos mercados e oportunidades e aumentar a reputação da empresa.
Hoje, estar alinhado às práticas ESG continua sendo um diferencial competitivo – inclusive para negócios menores. A tal certificação é boa não só para atrair consumidores que valorizam a responsabilidade social, ambiental e econômica, como pode fazer as PMEs serem reconhecidas e valorizadas por empresas privadas que as contratam.
Vamos, então, à grande pergunta: como PMEs podem aplicar conceitos de ESG? Acredite, é muito mais fácil do que você imagina.
S de Social
Vamos inverter um pouco a ordem da sigla e começar com a parte social. Por quê? Porque a maioria das PMEs já são fortemente ESG no lado social. Nesse quesito, o tamanho reduzido da empresa é uma virtude importante que a ajuda a se aproximar muito da sociedade.
“A pequena empresa é a maior escola profissional que existe no mundo do trabalho”, afirma Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional. Ele também destaca como as pequenas empresas têm sucesso em algo que as grandes companhias pecam bastante, que é oferecer oportunidades de primeiro emprego e programas de Jovem Aprendiz. “Ela contrata localmente. Ela é a grande janela para o primeiro emprego, para a qualificação profissional.”
Vamos ser realistas: a maioria das empresas pequenas não está em condições de exigir grandes qualificações de seus funcionários. Sendo assim, elas acabam aceitando profissionais em início de carreira e que podem ser treinados e moldados para atender às necessidades daquela função. Esse processo de aprendizado acaba tornando esse colaborador uma peça vital para a empresa e difícil de ser facilmente substituída.
E, para as PMEs, todo par de mãos é essencial. Como a equipe também é pequena, cada colaborador é muito importante e valorizado em sua tarefa. Os níveis hierárquicos também costumam ser muito mais próximos uns dos outros, o que pode resultar em um ambiente de trabalho mais humanizado e mais oportunidades de crescimento.
E de ambiental (?)
Você entendeu – o E é de Environment, termo em inglês para meio ambiente.
Falar de ações sustentáveis para PMEs é algo relativamente simples. De novo, o tamanho reduzido do negócio vira um ponto forte. Empresas menores não precisam ter o mesmo nível de preocupação com poluentes e pegada de carbono que grandes multinacionais e fábricas têm.
Sendo assim, as boas práticas ambientais acabam sendo bem, digamos, práticas. A dica mais simples e que recebe maior destaque é a gestão de resíduos, que inclui a destinação correta de resíduos sólidos e efluentes líquidos; ou seja, separar o lixo nos descartes corretos. Mas não fica só no básico da reciclagem: adoção de alternativas digitais podem reduzir drasticamente o consumo de papel em um escritório; e em restaurantes e padarias, parcerias com Bancos de Alimentos podem destinar o excesso de comida a quem precisa e evitar o desperdício.
Uma outra forma simples de colaborar com o meio ambiente é pensar na eficiência energética. Essas empresas podem pensar em trocar sua iluminação por lâmpadas LED, que duram mais e geram uma economia de um terço da conta de luz (além do planeta, as finanças agradecem). Também pode ser vantajoso desligar aparelhos eletrônicos quando não estão sendo utilizados, pois esse consumo em stand-by pode ser bem significativo.
A transição energética para fontes renováveis, como a instalação de painéis solares, também é uma prática ambiental relevante; porém, um pouco mais custosa.
G de governança corporativa
Os outros dois pontos são importantes, claro. Contudo, a governança corporativa é a base para que os outros dois pilares funcionem bem. Não existe E nem S sem o G.
A governança corporativa é um conjunto de orientações para otimizar as ações de uma empresa em relação às suas decisões estratégicas, assim maximizando os benefícios gerados aos seus stakeholders, e em especial aos acionistas.
Por isso que a governança é um dos pilares mais robustos e valorizados da agenda ESG. Ela torna os processos administrativos mais transparentes, o que resulta em maior confiança e alinhamento entre todas as partes da empresa.
Aplicando práticas de governança, as empresas podem evitar riscos de fraudes, desperdício de recursos, corrupção e má administração. Além disso, garantem um melhor relacionamento com os stakeholders, maior valorização no mercado, transparência, e mais chances de fecharem negócios com empresas maiores.
Ter uma proposta de governança é a única forma de ser aceito por financiadores e pelo mercado. Você colocaria o seu dinheiro em uma empresa desorganizada, nada transparente? Claro que não. Ela não passa confiança e se torna um investimento extremamente arriscado, para não dizer imprudente.
Ninguém vai investir em uma empresa que não tenha um mínimo de práticas e padrões de governança. Sendo assim, é vital que a PME busque um processo de governança mínimo, para atender as expectativas de todas as partes interessadas no negócio.
Ações eficazes de governança incluem elaborar relatórios anuais de gestão e desempenho, buscar transparência das demonstrações financeiras, publicar um documento com a visão de médio e longo prazo da empresa, construir um plano de sucessão empresarial e definir o processo de remuneração dos sócios e a forma que eles tomam decisões na empresa.
Muitas pequenas empresas já praticam o ESG em grande parte, e buscar apoio para uma ação mais completa nessa agenda pode lhes dar visibilidade e valorização tanto pela sociedade quanto pelo mercado.
Mão na consciência
O interessante da agenda ESG é que ela é apenas isso, uma agenda. Não é uma regulação imposta pelo governo, não é um conjunto de práticas obrigatórias reforçadas por leis, não é um checklist de itens essenciais para poder receber investimentos. É apenas uma agenda.
Não tem ninguém forçando empresa nenhuma a seguir os princípios de ESG. Estando dentro da lei (óbvio), uma companhia que não se preocupa com esses pilares não vai ser prejudicada diretamente por isso. Mas a conta vai chegar depois, de outras formas mais indiretas.
“O problema não vai te custar em impostos da prefeitura depois para você pagar. Se você não faz a gestão do seu resíduo, o resíduo vai para um lugar pior. A prefeitura tem que suprir, e para onde vai o custo da prefeitura? Vai para o seu imposto. Nada está desconectado. O que os empresários precisam entender é que tudo está conectado”, afirma Daniela Garcia, CEO do Capitalismo Consciente Brasil, instituição de educação corporativa.
Com a COP30 chegando, a atenção global se volta, momentaneamente, para o futuro do planeta. Os temas mais recorrentes entre as principais pautas do evento voltam a aparecer: redução de emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, preservação de florestas e biodiversidade, entre outros.
Alguns agentes já entenderam o recado que Daniela quis passar: tudo está conectado. Querendo ou não, as mudanças climáticas vão impactar todos – inclusive empresas. Certos insumos da cadeia de produção, como energia, água e alimentos, vão ficar mais escassos e caros. Junto de um aumento de imposto, preço de seguros e inflação, alguns negócios vão precisar ajustar os valores de seus produtos. Enquanto isso, as mudanças climáticas causam instabilidades sociais como desemprego e pobreza, o que muda o perfil de consumo da população.
O que uma empresa faz hoje, seja de positivo ou negativo, vai gerar um impacto. Até o que ela deixa de fazer também tem consequências. Várias das ações socioambientais negativas ou negligentes de um negócio podem custar mais tarde, no médio e longo prazo – nunca no curto.
E esse o principal problema. Como os resultados negativos não são imediatos, é difícil para negócios, especialmente PMEs, sentirem a necessidade de mudar.
“Não adianta você olhar só para aquilo que você vai ganhar hoje, porque o que você vai ganhar hoje está destruindo o que você poderia ganhar depois”, afirma Daniela Garcia. “Quanto menor o empresário, mais difícil é ele pensar no médio e no longo prazo. Porque o empresário brasileiro funciona na sobrevivência.”
Não precisa ser assim. O empresário brasileiro não precisa passar por isso sozinho. Instituições como o Sebrae e o Capitalismo Consciente podem auxiliar nesse processo, oferecendo conhecimento sobre ESG, orientando e conectando as empresas a linhas de crédito e consultorias.
O Sebrae, por exemplo, subvenciona 70% do custo de consultorias por meio do Sebraetec, disponibilizando uma rede de consultores especializados que o empreendedor pode acessar online e escolher.
“No quesito crédito, a gente tem parcerias e mostramos as opções de linhas de financiamento. E, na hora de tomar o financiamento, a gente ainda oferece uma garantia de 80% do valor que o empreendedor precisa, sendo que, normalmente, ele não tem garantias reais”, afirma Bruno Quick.
O Sebrae também desenvolveu um selo ESG em parceria com a ABNT para pequenas empresas, que já está sendo conferido a quase 10 mil negócios no Brasil.
Esse selo serve como um diferencial no mercado, permitindo que consumidores e empresas privadas reconheçam e valorizem as pequenas empresas que cumprem um papel importante na sociedade em termos de responsabilidade social, ambiental e econômica. Ele também faz parte do Projeto Crescimento Sustentável, criado para fortalecer os pequenos negócios com base em três pilares: apoio consultivo, adoção de práticas ESG, e estratégias de marketing e vendas.
“A gente realmente não só mostra como fazer: oferecemos mecanismos e buscamos superar essa barreira do poder de compra do empreendedor. O Sebrae vai em todas as etapas para que a transformação possa acontecer de fato”, defende Bruno.
Por mais que existam meios de adotar práticas sustentáveis e positivas socialmente dentro da sua empresa, no fim das contas, depende da sua consciência. E não estou falando daquilo que você acredita como empreendedor, e sim como pessoa.
É a partir da sua consciência individual que as decisões são tomadas e os impactos acontecem. As mudanças reais e duradouras que vão fazer a diferença na sociedade e no planeta precisam partir de uma reflexão humana, e não puramente empresarial.
“Essa consciência não nasce na empresa, nasce na pessoa física”, diz Daniela Garcia. “É você que decide separar o lixo da sua empresa. É você que decide trocar a lâmpada da sua empresa, a da sua casa. Você decide separar o seu lixo. Você decide, se precisar de um assistente, contratar uma menina negra, e não outro rapaz branco. É o poder da decisão que gera o impacto. Tanto faz o seu tamanho.”
Micro, pequenas, médias e grandes. CPF ou CNPJ. Não importa o seu tamanho. Para fazer a diferença, o primeiro passo é a consciência.
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