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A regulamentação da atividade de coaching pode acabar com os picaretas?

Proposta de criminalização do coaching será analisada pelo Senado e reacende a discussão sobre a banalização da atividade

Por Caroline Marino, da VOCÊ RH
Atualizado em 2 jan 2020, 15h19 - Publicado em 25 jun 2019, 06h00
 (Unsplash/VOCÊ RH)
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Enquanto você lê este texto, é bem possível que alguém decida se tornar um coach. O cenário é reflexo da junção de dois fatores: o desemprego, que fez com que muitas pessoas procurassem trabalho fora de sua área de atuação, e a busca crescente de muitos por mais qualidade de vida e mais desempenho na carreira.

“Há uma demanda grande por desenvolvimento e reflexão. As pessoas precisam de apoio e isso gera mais mercado”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira.

O resultado é a multiplicação de coaches — muitos deles sem o preparo necessário e com promessas questionáveis. Há, até, os que garantem a reprogramação do DNA para mudar crenças que estejam limitando o crescimento profissional, por exemplo.

Diante disso, em abril, uma proposta publicada no site E-Cidadania, plataforma popular de sugestão de projetos de lei para o Senado, viralizou nas redes sociais e levantou — mais uma vez — o debate sobre a banalização e regulamentação da atividade.

Intitulada Criminalização do Coach, a proposta do sergipano Willian Menezes já recebeu mais de 24 000 assinaturas, número suficiente para ser debatida no Senado.

A ideia, de acordo com o texto do autor, é “impedir o charlatanismo de muitos autointitulados formados sem diploma válido, não permitindo propagandas enganosas, como: ‘Reprogramação do DNA’ e ‘Cura Quântica’ ”.

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A proposta foi transformada na Sugestão no 26 de 2019, com relatoria do senador Paulo Paim (PT-RS), que ainda está analisando o material. Se passar na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), será examinada como projeto de lei em outras comissões.

É o caso da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), na qual o presidente, senador Dario Berger (MDB-SC), já se comprometeu a discutir o tema e ouvir os representantes dos coaches.

 

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Nenhum país no mundo conta com uma regulamentação específica e, segundo os especialistas ouvidos por VOCÊ RH, acabar com o “charlatanismo” na área é algo complexo.

“Ainda há muito a ser discutido”, diz João Cosenza, presidente e fundador do Instituto Gestão Consciente e membro do Institute of Coaching da Harvard Medical School.

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É preciso, por exemplo, saber quais serão as regras, a forma de fiscalização, os órgãos governamentais e não governamentais que estarão envolvidos no processo e quem fará a coordenação de todos os aspectos.

“A banalização ainda é grande. Tem gente que faz curso de um fim de semana e se diz coach”, afirma João. Segundo ele, para essas pessoas, a atividade é apenas uma forma de ganhar dinheiro, o que pode acarretar sérios danos para quem contrata esse profissional.

Exercer essa atividade exige preparo, muita experiência e capacidade de compreender as pessoas e o ambiente à volta — o que não se aprende em apenas dois ou três dias.

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Coaching, que já formou mais de 50 000 profissionais, coaching envolve disciplinas como administração, gestão de pessoas, neurociência, programação neurolinguística (PNL), antropologia, sociologia e conceitos de psicologia.

E são necessárias, no mínimo, 180 horas para a primeira formação, entre aulas e atividades práticas. Os alunos também precisam fazer um trabalho de conclusão de curso, equivalente ao de uma pós-graduação.

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Para a formação de master coach são 360 horas de aulas presenciais, além de trabalhos de certificação e estudos online, o que totaliza mais de 500 horas.

A  regulamentação da atividade de coaching pode acabar com os picaretas?

Olho vivo

O primeiro ponto que deve ser observado pelo RH na hora de buscar um coach é, justamente, as horas de aprendizagem, o que é determinante para que o profissional obtenha certificações e títulos de peso.

Para conseguir a primeira credencial da International Coach­ Federation (ICF), associação global de coaches, por exemplo, é preciso, entre outros pontos, ter 60 horas de formação em coaching, além de 100 horas de prática como coach — 75 delas gastas com, no mínimo, oito clientes. “Coach não é um conhecimento teórico, é prático”, diz o coach executivo Jorge Dornelles de Oliveira, presidente do conselho deliberativo da International Coach Federation (ICF) do Brasil.

Outro ponto essencial é ter clareza sobre os motivos de contratação desse profissional. Isso porque há uma série de outras possibilidades de treinamentos, que vão de mentoring a consultorias. “Hoje, o coaching é vendido como solução para tudo.

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Não se fala sobre as situações em que o processo não é recomendado”, diz Jorge. Por exemplo, se um executivo precisa aprender a liderar a equipe, o método pode ser usado para desenvolver as habilidades necessárias, mas, se a demanda for cuidar de relações específicas do time, o melhor é fazer um treinamento.

“O coaching não trabalha com a situação, e sim com o comportamento”, afirma Jorge.

De maneira simples, coaching é um processo de aceleração de resultados que consiste no desenvolvimento de competências e habilidades para o alcance de objetivos planejados. Não se trata de um tratamento terapêutico, mas, sim, de um processo no qual se estabelece, junto com o cliente, a melhor estratégia para alcançar um objetivo determinado.

Salvadores da pátria?

O que se vê muito no mercado são profissionais que se dizem coaches e prometem resolver problemas, como aumentar a produtividade em 70%, combater o absentismo e até mesmo tirar pessoas da depressão. “Coach não faz milagre. Não resolve problema”, afirma Eliana Dutra, CEO da ProFitCoach.

Ela conta que, certa vez, atendeu um cliente que era herdeiro de uma companhia que estava indo para o buraco e já havia passado por outro atendimento. O tal executivo queria que a coach o ajudasse a evitar a falência e reforçou que outro profissional havia prometido isso.

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“Disse que não. Que podia ajudá-lo a repensar a estratégia da empresa, mas não tinha como garantir algo”, lembra.

Uma prática interessante, muito usada pelos americanos para fugir dos picaretas, é o próprio RH agendar uma conversa de meia hora com o coach antes de contratá-lo para a empresa.

Nesse momento, o profissional de pessoas deve identificar as metodologias e ferramentas de trabalho e entender se, de fato, o coach tem experiência. “Aqui isso acontece muito pouco. A conversa é com o cliente final”, diz Eliana.

Fica claro que o RH precisa fazer uma análise rigorosa para não cair em cilada na hora da contratação desse profissional. “Atualmente, esse processo demora mais, porque virou algo muito comercial”, afirma George Paiva, gerente de RH da Orange Business Services.

De acordo com ele, é essencial olhar as experiências anteriores, a reputação e os casos de sucesso no Brasil e no exterior, quando se trata de uma multinacional. O executivo, que tem formação de coaching fora do Brasil, aposta na senioridade e na fidelidade, e mantém na empresa um coach externo há mais de dez anos.

Ainda é preciso esperar para saber quais serão os próximos passos da regulamentação proposta. Por enquanto, a melhor estratégia é apostar no combo: horas de aprendizado + certificações + experiência prática.

 

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