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Internet ruim e falta de espaço afetam a produtividade no home office

Pesquisa da EY mostra como está a percepção de empresas e funcionários sobre o ambiente de trabalho durante a pandemia.

Por Juliana Américo
7 abr 2021, 16h00

Até março do ano passado, você chegava no trabalho sempre no mesmo horário, pegava um café e começava a labuta. Parava para conversar com alguns colegas para relaxar, mas estava constantemente focado nas suas atividades e sob o olhar atento do chefe. No final do dia, era aquela sensação de dever cumprido. 

Isso mudou. Agora, você trabalha de casa – que, aliás, não tem um escritório ou ambiente tranquilo para se concentrar. Não tem também mais horário para começar e terminar (mesmo porque os e-mails não param de chegar e o RH não controla mais se você bateu o ponto ou não), e ainda precisa dividir a atenção entre emprego, filhos, cachorro e tarefas domésticas. E para piorar, a internet não é lá essas coisas. 

Entre todos os problemas causados pela pandemia, a queda na produtividade é a que mais atrapalha a relação entre empresas e funcionários. E a principal causa disso é exatamente a falta da estrutura do ambiente de trabalho das companhias. Segundo uma pesquisa da EY, divulgada com exclusividade pela VOCÊ S/A, 27,2% dos profissionais reclamam que a conexão de internet em casa não é tão veloz quanto a do trabalho. 

De fato, a qualidade da internet brasileira deixa a desejar. Em 2020, o país ocupou a 58ª posição no ranking de qualidade de vida digital da empresa de tecnologia Surfshark (são seis posições abaixo da alcançada no ano anterior e atrás de países como Argentina e México). O que derrubou o Brasil foram questões como qualidade da internet, segurança eletrônica e acessibilidade.

Mas não é só isso que interfere na produtividade: 22,1% dos profissionais afirmam que não têm privacidade em casa. Atire a primeira pedra quem não foi interrompido pelo filho durante uma reunião ou teve a participação especial do seu bicho de estimação nas videoconferências. Além disso, 13,7% alegam ter dificuldade de manter o contato com fornecedores e parceiros de negócio.  

Veja os principais desafios que empregados encontram para permanecer produtivos remotamente: 

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  • 27,24% – Conexão de internet em casa não tem a mesma velocidade
  • 22,18% – Tenho família e acesso limitado a espaços privados em casa
  • 13,70% – Manter conversas abertas com parceiros e fornecedores é mais difícil
  • 13,15% – Sinto-me sozinho e desconectado em casa
  • 10,82% – Outros motivos 
  • 6,15% – Meu trabalho requer intervenções que não podem ser realizadas em casa
  • 4,28% – Preciso de ferramentas/softwares específicos para realizar meu trabalho
  • 2,49% – A configuração do computador de casa é diferente da do trabalho

Cabo de guerra

Claro que não é só a produtividade que está sendo levada em conta no home office. As relações trabalhistas viraram um verdadeiro cabo de guerra. De um lado, tem os empregadores que precisam reduzir custos e enfrentar a queda no consumo. Do outro, estão os empregados que estão com receio de perder o emprego no meio de uma crise, mas, ao mesmo tempo, dependem dos benefícios e salário integral para manter as suas famílias. 

A percepção dos dois lados é tão diferente que a pesquisa da EY mostra que 94% das empresas acreditam priorizar seus empregados em iniciativas de longo prazo, sendo que, na perspectiva dos empregados, essa percepção cai para 78%.

A visão de cada um fica clara na hora de listar as ações que são consideradas importantes nas reavaliações de custos. As empresas, por exemplo, estão de olho na eficiência operacional: 18,1% delas defendem melhorias de processos e a redução de trabalhos manuais; já 16,4% acreditam que há oportunidade para realizar automações mais inteligentes na companhia. 

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Os trabalhadores, por sua vez, se apegam a uma tendência que já vinha desde antes da pandemia, a de investimentos na experiência do colaborador. É aquela ideia de que funcionário feliz trabalha mais e melhor – e a teoria não está errada. Um estudo da Universidade de Oxford identificou que as pessoas felizes são 13% mais produtivas do que aquelas que estão infelizes no trabalho. 

Por isso, 12,30% dos entrevistados acreditam que alternativas de remuneração e planos de benefícios devem ser levadas em conta na hora da revisão de custos. Além disso, 11,1% listaram a melhoria de benefícios voltados para o bem-estar físico e emocional. 

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Confira as ações indicadas pelas empresas e empregados sobre o que se levar em conta na revisão de custos:

Empresas

  • 18,12% – Melhoria de processos/redução de trabalhos manuais
  • 16,47% – Oportunidades para automação inteligente
  • 14,89% – Revisão de modelos organizacionais e operacionais
  • 12,85% – Redução do número de escritórios físicos
  • 10,61% – Modelo de recrutamento e seleção automatizado/remoto
  • 8,37% – Ter um mix de trabalhadores em período integral, parcial e de terceiros
  • 7,05% – Consolidação de outsourcing (terceirização)/ offshoring (deslocação da produção de uma região para outra)
  • 5,99% – Mudança nos planos de remuneração e benefícios
  • 3,82% – Diminuição da demanda por trabalhadores em tempo integral
  • 1,85% – Outros/nenhuma das alternativas anteriores

Funcionários

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  • 15,35% – Criar alternativas ou flexibilização de horas de trabalho
  • 12,30% – Ofertas mais alternativas de remuneração e planos de benefícios
  • 11,46% – Revisão de políticas de descanso para adequar situações de saúde e cuidados a dependentes
  • 11,11% – Melhorar a oferta de benefícios de bem-estar emocional e físico
  • 10,21% – Melhorar a tecnologia para os colaboradores
  • 8,75% – Atualizar planos de saúde para prover maior proteção contra riscos pandêmicos
  • 8,69% – Alterar a lógica atual de ocupação de  espaço para o conceito de hotelling (ceder espaço do escritório para o funcionário por tempo limitado)
  • 8,59% – Atualizar estratégias de remuneração variável para incentivar adoção de novas medidas parcial ou terceiro
  • 6,13% – Oferecer alternativas contratuais diferentes
  • 1,27% – Outros/nenhuma das alternativas anteriores

Investindo em treinamento

A pandemia acelerou algumas tendências que eram previstas para a próxima década, caso da adoção do teletrabalho, maior digitalização dos sistemas corporativos e flexibilização dos contratos trabalhistas. A gente já até falou sobre as transformações no ambiente do trabalho aqui

Com essas rápidas mudanças, as empresas entendem que investir em treinamentos voltados tanto para novas tecnologias, como soft skills, são a chave para garantir a sobrevivência dos negócios. Tanto que 83% dos empregadores acreditam que o impacto de aprendizado contínuo será amplo e/ou moderado, sendo que 62% defendem que as lições da pandemia serão incorporadas à rotina da empresa quando tudo voltar ao normal. 

A boa notícia é que empresas e funcionários concordam quando o assunto é investir em treinamento e aprendizado contínuo da equipe. Para os dois grupos, melhorar os treinamentos virtuais está entre as principais ações de educação corporativa; seguido por investir em treinamentos de formação de competências e colaboração online. Veja abaixo: 

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Empresas 

  • 21,66% – Melhorar a abordagem para treinamentos virtuais
  • 19,40% – Investir em treinamentos de formação de competências e colaboração online
  • 17,75% – Desenvolver capacidade remota de líderes e gerentes
  • 14,09% – Expandir competências de gestão de mudança e resiliência
  • 12,51% – Assegurar a diversidade e inclusão em ambientes remotos
  • 9,03% – Fomentar a formação de skills em Design Thinking (uma abordagem de inovação para solucionar problemas)
  • 4,58% – Melhorar a abordagem para feiras de carreiras e onboarding
  • 0,98% – Outros/nenhuma das alternativas

Funcionários

  • 19,52% – Melhorar a abordagem para treinamentos virtuais
  • 15,11% – Investir em treinamentos de formação de competências e colaboração online
  • 14,96% – Desenvolver capacidade remota de líderes e gerentes
  • 12,51% – Expandir competências de gestão de mudança e resiliência
  • 12,03% – Assegurar a diversidade e inclusão em ambientes remotos
  • 10,13% – Melhorar as competências alinhadas à responsabilidade social e de valor a longo prazo
  • 10,02% – Fomentar a formação de skills em Design Thinking (uma abordagem de inovação para solucionar problemas)
  • 4,01% – Melhorar a abordagem para feiras de carreiras e onboarding
  • 1,71% – Outros/nenhuma das alternativas
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