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Wall Street começa a reconsiderar seu otimismo com a economia – e derruba o Ibov junto

Receosos com o futuro, investidores americanos aguardam a temporada de balanços para saber que direção seguir. Por aqui, Magalu lidera altas após comprar KaBuM!

Por Bruno Carbinatto, Alexandre Versignassi
15 jul 2021, 19h00

Wall Street parece estar num processo de auto-análise nesta semana. Os investidores americanos começam a questionar se não foram otimistas demais quando apostaram todas suas fichas numa recuperação foguete da economia do país – e quando NY fica com medo, o mundo entra em pânico. 

Uma coisa é fato. A exuberância da bolsa americana nos últimos muitos meses tem, sim, um quê de irracional.   

Vamos voltar para fevereiro de 2020, aquele último momento do pré-pandemia. O S&P 500, principal e maior índice do país, atingia sua máxima histórica até ali: 3.386 pontos. 

Veio a pandemia em março, seguida de um mini-crash: queda para 2.400 pontos. E agora o S&P 500 já está de volta ao recorde antigo, certo? Erradíssimo. Os tais 3.386 pontos foram superados lá em 2020 mesmo, em agosto ainda.  

O novo recorde histórico rolou nesta segunda feira agora: 4.384 pontos. Dá 30% a mais do que no pré-pandemia, quando a economia dos EUA ia de vento em popa, com o índice de desemprego em pífios 3,5%. 

Agora o índice deles está em tropicais 11%. Não é exatamente um sinal de que a economia se recuperou. Tem chão ainda. Talvez o mercado tenha exagerado no otimismo, e começado a considerar se os preços das ações já não estariam um tanto fora da realidade.

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A palavra chave é “talvez”, claro. É natural que um mercado entre em fase de correção depois de estabelecer o maior patamar de sua história.  

Para saber mesmo se o patamar é exagerado ou não, o jeito é esperar para ver como vão vir os lucros das empresas na próxima temporada de balanços, que está para começar – são os lucros das empresas, afinal, que determinam o valor real das ações. Se eles vierem fabulosos, os tais 4.384 pontos da última segunda-feira vão parecer é pouco. 

Enquanto os números do 2T21 não chegam, porém, o compasso é de espera, e de queda: – 0,33% para o S&P 500 hoje. Uma baixa que ajudou a deprimir o Ibov: -0,73% por aqui, quebrando uma sequência de três pregões no azul.  

Enquanto isso, a inflação

Outro ponto que ajuda a diminuir o otimismo por lá é a longa novela da inflação que paira sobre o país há meses. Hoje, o assunto voltou porque Jerome Powell, presidente do Fed, admitiu que a inflação está acima do limite confortável no país. Por muito tempo, Powell – e o BC americano como um todo – manteve o discurso de que o problema era passageiro e não tão grave assim, mas as coisas começaram a mudar, mesmo que aos poucos. 

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Em discurso no Senado americano hoje, Powell reiterou que a inflação deve ser passageira, mas subiu o tom quanto a sua gravidade: “nosso desafio é reagir à inflação mais alta do que esperávamos”, disse. Mesmo assim, ele jurou de pé junto (como sempre faz) que não deverá haver mudança na política do Banco Central por enquanto – ou seja, os juros baixíssimos devem continuar.

O mercado não sabe se acredita. Algumas lideranças regionais do Fed (o BC americano é formado por doze bancos espalhados pelo país) já chegaram a sugerir que a política de juros da instituição vai ter que mudar antes do previsto sim, senhor. A falta de direção única só aumenta a desorientação do investidor, que prefere não arriscar.  

Petróleo 

Por aqui, o dia foi negativo para a maior parte das 84 ações (de 81 empresas) que compõem o Ibovespa – só 15 fecharam no positivo. O resto foi puxado para baixo pelo mal-humor americano.

Outro fator que pressionou a bolsa para o vermelho nesta quinta-feira foi o preço do petróleo no mercado internacional. O tipo Brent, referência no mundo, fechou em queda de 1,73%, a US$ 73,47; já o tipo WTI, referência nos EUA, caiu -2,02%, a US$ 71,65.

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Com isso, os preços das ações da Petrobras caíram junto: Petr3, -2,36% e Petr4 -2,13%. Como esses papéis correspondem a quase 10% da carteira do Ibovespa, o baque no índice é grande. Também ficou no vermelho nossa outra petroleira de capital aberto, a Petrorio: -2,07%.

Acontece que o mercado internacional da commodity passa por um momento crucial. A Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) está bem próxima de chegar a um acordo para aumentar a oferta de óleo no mundo à medida que as economias começam a se recuperar e a demanda do combustível fóssil volta aos níveis pré-pandêmicos. Em relatório divulgado hoje, a organização anunciou que espera que isso aconteça já em 2022.

Quando a Covid-19 se tornou um problema global, a Opep+ concordou em diminuir a quantidade da commodity no mercado, o que levou os preços a subirem. Agora, com a volta do aumento da produção, os preços caem.

Esse movimento já era esperado pelo mercado; na verdade, o acordo só não saiu mais cedo neste mês porque os Emirados Árabes Unidos apresentaram discordância em reuniões com os outros países do grupo. Ontem, porém, a Reuters reportou que houve um consenso entre os membros e as negociações para um aumento na produção voltaram a caminhar – e aí os preços tombaram. 

Ou seja: está aí um exemplo de que algo intrinsecamente bom para a economia (combustíveis mais baratos) pode ser ruim para o Ibovespa. Fazer o quê quando uma fatia enorme da sua bolsa corresponde a uma petroleira, né?

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Magalu

Quem brilhou mesmo no fim das contas foi a Magazine Luiza. Os papéis Mglu3 lideraram as altas do dia (+3,45%), após divulgar ao mercado a compra de 100% do KaBuM!, um dos maiores e-commerces do mercado de games no Brasil. O negócio custará inicialmente R$ 1 bilhão, além da transferência de 75 milhões de ações da rede varejista.

Fundado em 2003, o KaBuM! é um grande comércio de itens voltados ao mundo gamer (PCs, teclados, headsets) e de esportes eletrônicos. Em 2020, impulsionadas pela pandemia, as vendas da marca mais que dobraram, crescendo 128% em relação a 2019. Apesar de ser a maior aquisição da história da varejista, ela não foi a primeira do tipo – a empresa de Luiza Trajano vem apostando no mercado de games e tecnologia já algum tempo, com a aquisição do Jovem Nerd e do CanalTech. 

A Magalu também confirmou hoje algo já antecipado pelo mercado ontem: a empresa vai fazer uma oferta subsequente restrita de ações (follow on). Serão 150 milhões de novos papéis, o que deverá render mais de R$ 3 bilhões para a rede. A empresa revelou em comunicado que esses recursos irão para investimentos de longo prazo, como a expansão da rede de logística e a criação de novos centros de distribuição. O mercado parece ter gostado – uma boa amostra de que a nossa bolsa não é feita só de commodities, e não se resume a um mero espelho dos humores de NY.

Maiores altas

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Magazine Luiza: +3,45%

CSN: +1,98%

Totvs: +1,58%

JHSF: +1,03%

Bradespar: +1,01%

Maiores quedas

CVC: -3,54%

Pão de Açúcar: -2,97%

SulAmérica: -2,63%

Lojas Americanas: -2,46%

Suzano: -2,45%

Ibovespa: queda de 0,73%, aos 127.467 pontos

Em Nova York

S&P: queda de 0,33%, aos 4.360 pontos

Nasdaq: queda de 0,70%, aos 14.543

Dow Jones: alta de 0,16%, aos 34.988 pontos

Dólar: alta 0,60%, a R$ 5,1147

Petróleo

Brent: queda de 1,73%, a US$ 73,47

WTI: queda de 2,02%, a US$ 71,65

Minério de ferro: alta de 1,57% a US$ 222,09 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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