O Ibovespa parece ter aproveitado o feriado desta quinta-feira para descansar bastante – e voltar com muita disposição para bater o seu quinto recorde seguido. O índice atingiu, pela primeira vez na história, os 130 mil pontos. Ao menos teve o feriado, sabe? Depois de sete altas consecutivas, cinco recordes seguidos e valorização de 3,63% na semana, a gente nem sabe mais como contar o que está acontecendo com a bolsa. Brinks, a gente sabe, sim.
Os Estados Unidos voltaram a nos dar um empurrãozinho nesta sexta. Eles passaram a semana inteira roendo as unhas à espera de um importante dado da economia americana: o payroll. Basicamente, um relatório sobre a criação de novas vagas de trabalho e do desemprego no país. Em maio, os EUA criaram “apenas” 559 mil vagas de trabalho, um dado melhor que o de abril, abaixo da previsão de 700 mil postos. A taxa de desemprego caiu de 6,1% para 5,8%.
Economista nenhum gosta de errar previsões, mas Wall Street decidiu se apegar ao que tinha de bom nesse dado não tão positivo. Se o emprego não está bombando tanto assim, significa que a recuperação dos EUA está um pouco mais lenta do que eles estavam estimando. Isso tem uma compensação financeira. Investidores ficam descansados que o Fed, o banco central americano, vai conseguir manter sua política monetária ultrafrouxa pelo tempo planejado, com juro perto de zero – o próprio órgão declara que só vai subir juros quando o emprego voltar aos níveis pré-pandêmicos.
O que vinha segurando as bolsas americanas era o risco de a economia dos EUA superaquecer, a inflação pegar. Isso obrigaria o Fed a subir os juros, deixando investimentos em empresas da bolsa menos atrativo. Isso é válido especialmente para as empresas de tecnologia, que vivem à base de expectativa de lucros polpudos no futuro.
Bem, sem o medo dos juros altos, as bolsas americanas voltaram a subir, e ajudaram a puxar o Ibovespa para cima junto. Quem se destacou foram justamente as techs, sendo que o índice Nasdaq, que concentra as ações de tecnologia, teve a maior alta: +1,47%. Tesla subiu 4,66%, Twitter +3,49% e Nvidia +3,63%, por exemplo.
É coisa nossa
Apesar do empurrãozinho do otimismo ao norte, o Ibovespa já vinha muito bem sozinho, obrigado. A semana toda foi marcada pela onda de otimismo que tomou os investidores quando o PIB do primeiro trimestre foi anunciado no dia 1º deste mês. O número – 1,2% – veio acima das expectativas (0,9%), o que fez que as previsões para o ano fossem revisadas para mais de 4% de crescimento – tem gente, tipo o Goldman Sachs, falando em 5,5%. Daí para frente, só bom humor na Faria Lima.
Especificamente hoje, o começo do dia foi instável, com o Ibovespa ora caindo um pouco, ora subindo, sempre perto da estabilidade. O petróleo ajudou a consolidar o número no azul: o tipo Brent subiu 0,81%, para quase U$ 72 o barril, no maior patamar desde 2019. O tipo WTI (referência nos EUA) saltou 1,18%. A dupla levou consigo as ações da gigante Petrobras e também da Braskem (que figurou entre as maiores altas do dia). O petróleo, assim como o Ibovespa, vem de uma sequência de altas e o principal motivo é o otimismo global com a demanda pela commodity à medida que o mundo começa a se recuperar da pandemia.
Quem não teve um bom dia foram as empresas do ramo de mineração e siderurgia, que protagonizaram as maiores perdas: Vale caiu 1,66%, Gerdau -2,78%, Gerdau Metalúrgica -3,20%, Usiminas -2,76% e CSN -2,08%. O motivo foi a queda do minério de ferro lá no porto chinês de Qingdao (-1,73%). No caso específico da Vale, outra notícia ajudou a derrubar o preço das ações: a mineradora anunciou hoje a paralisação de suas atividades no Complexo Mariana após notificação da Superintendência Regional do Trabalho para a interdição das atividades em áreas próximas à barragem Xingu. A medida reduzirá a produção em 40 mil toneladas de finos de minério de ferro, estima a empresa.
Dá para colocar na conta da Vale a alta até modesta desta sexta. O resto é que compensou: das 84 ações do Ibovespa, 52 subiram. Fica na conta de quem aposta na recuperação econômica robusta. Depende, você sabe, de algo com nome e sobrenome: vacinação em massa. Após caminhar em passos de tartaruga, o Brasil parece finalmente ter engatado num calendário mais acelerado. João Doria anunciou nesta semana que todos os adultos de São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, deverão ser imunizados com a primeira dose até o final de outubro; o Rio de Janeiro segue um planejamento parecido. Já em nível nacional, o presidente Bolsonaro prometeu, em pronunciamento acompanhado por panelaços, que todos os brasileiros maiores de idade serão imunizados até o final do ano.
A maior alta do dia, diga-se, foi a da CVC – e a indústria do turismo é uma das que mais dependem de uma vacinação massiva para se recuperar. Shoppings e setores do varejo também apresentam altas significativas na mesma linha de raciocínio (veja abaixo).
Falando em viagem, o dólar continuou sua trajetória de queda: -0,95% nesta sexta-feira, a R$5,0356. Na semana, a queda é de 3,39%. Já dá para sonhar com a Disney, se quiser ter o mesmo otimismo da Faria Lima.
Só que, por outro lado, a Faria Lima parece estar fechando o olho para algumas inconveniências, digamos assim. Especialistas em saúde alertam há algum tempo sobre a “terceira onda” da pandemia que está se aproximando e pode vir mais como um tsunami. Pelo menos 13 estados já tem “fila de espera” para leitos da UTI” e a tendência é de aumento. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem sido pressionado por protestos e pela CPI da Pandemia, o que coloca seu poder político cada vez mais nas mãos do “Centrão”. Isso tudo sem falar no risco de desabastecimento de energia que ameaça o país.
Marfrig e BRF
Entre as maiores baixas do dia, duas empresas do ramo de alimentos foram as protagonistas: a Marfrig e a BRF (dona da Perdigão e da Sadia). Acontece que a Marfrig confirmou que comprou mais ações da BRF e aumentou sua participação total para 31,7% do capital.
O mercado viu isso acontecendo ao longo das semanas, com leilões das ações da BRF durante o pregão. A demanda da Marfrig, que já dura duas semanas, levou as ações da BRF a subirem nos últimos dias (a alta da semana foi de 11,26%).
Tudo certo, só que agora a festa parece ter acabado. O estatuto da BRF diz que, se um acionista atingir 33,3% de participação, ele obrigatoriamente deve fazer uma oferta para comprar o restante (esse mecanismo se chama poison pill e existe justamente para evitar que alguém passe a controlar uma empresa “na marra”). Como a Marfrig já chegou muito perto desse percentual, quase não tem mais margem para continuar comprando – o que limita a forte demanda pelos papéis da empresa que vinha puxando a alta. Restou aos investidores realizar os lucros nesta sexta-feira e esperar as cenas dos próximos capítulos.
Que é, como estamos todos, para o Ibovespa no geral, né? Haverá um limite para a alta da bolsa brasileira? Bom tema para pensar no final de semana. Bom descanso e até segunda.
Maiores altas
CVC: +7,41%
Braskem: +5,35%
Iguatemi: +5,02%
Multiplan: +4,80%
BR Malls: +4,35%
Maiores baixas
Gerdau Metalúrgica: -3,20%
Embraer: -3,14%
Gerdau: -2,79%
Usiminas: -2,76%
BRF: -2,48%
Ibovespa: +0,40%, aos 130.125 pontos
Em NY:
S&P 500: +0,89%, aos 4.229 pontos
Nasdaq:+1,47%, aos 13.814 pontos
Dow Jones: +0,52%, aos 34.757 pontos
Dólar: queda de 0,95%, a R$ 5,0356
Petróleo
Brent: alta de 0,81%, aos US$ 71,89
WTI: alta de 1,18%, a US$ 69,62
Minério de ferro: queda de 1,73%, a US$ 207,35 a tonelada no porto de Qingdao (China)