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Vingança das sardinhas chega ao Brasil e tenta aplacar o prejuízo do IRB

Ações da empresa subiram 17,82% após mobilização no Telegram. Mas na bolsa brasileira não dá para fazer o mesmo estrago do que o ataque pirata nos EUA.

Por Monique Lima, Tássia Kastner
Atualizado em 28 jan 2021, 19h56 - Publicado em 28 jan 2021, 19h44
 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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A vingança das sardinhas ganhou uma versão brasileira. Pequenos investidores, inspirados pelo caso Gamestop nos Estados Unidos, decidiram ir para cima daqueles que apostam na queda das ações do IRB Brasil. E assim começou o ataque aos tubarões da Faria Lima.

Como? Bem: o primeiro passo foi abrir um grupo no Telegram. Risos. O “Short squeeze IRB” foi aberto na noite de quarta-feira (27) e já conta com quase 30 mil membros. Só de CPFs na bolsa, são 2,5 milhões de investidores.

Nas primeiras postagens, a turma do Short squeeze IRB combinava uma ação orquestrada de compra dos papéis da empresa entre os dias 8 e 12 de fevereiro. Quase pueril. No mercado financeiro, o investidor que sabe do plano para comprar uma ação vai lá e compra antes para pagar mais barato, né? Nessa brincadeira, o IRB subiu 17,82% e fechou a R$ 7,68

O problema é que o IRB não é Gamestop e a bolsa brasileira tem regras diferentes das do mercado americano.

Começando pelo IRB. As ações da resseguradora não custaram sempre R$ 6 ou R$ 7. Há um ano, elas eram negociadas a mais de R$ 40 e estavam na lista de queridinhas dos pequenos investidores da bolsa. Era uma das nossas “meme stocks”, ações que caem nas graças dos pequenos investidores apenas na onda das redes sociais. Só que a maré virou e deu um caldinho nas sardinhas. Já contamos a história dos esqueletos no armário da resseguradora aqui, mas vamos refrescar a memória e relembrar os tópicos principais. 

Em fevereiro do ano passado, a gestora de fundos Squadra afirmou em dois relatórios que o IRB estava maquiando seus balanços e superfaturando lucros com números que não se repetiriam. Os executivos negaram qualquer irregularidade e a coisa seguiu com uma queda de ‘só’ 20%.

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Acontece que a empresa tentou melhorar sua imagem e, para isso, fez circular no mercado a informação de que Warren Buffett em pessoa tinha triplicado sua participação na companhia. UAU. Era mentira. A Berkshire Hathaway soltou um comunicado humilhante: “a Berkshire não é acionista da IRB, nunca foi e não tem a intenção de ser”. Aí os executivos renunciaram e as ações derreteram para menos de R$ 6. O tombo entre a máxima e a mínima foi de mais de 80%.

Quem tomou o preju? Todo mundo, incluindo os pequenos investidores que haviam comprado a meme stock. E muita gente entrou justamente quando a empresa estava no auge, lá pelos R$ 40. Ver o dinheiro virar pó desse jeito deixa qualquer um bem chateado.

Um dos maiores gestores que aposta na queda do IRB é justamente a Squadra, isso desde antes da história do relatório. Bem, a galerinha do Short squeeze IRB encontrou um alvo, exatamente como os americanos escolheram grandes gestores. Chegou a hora da vingança e de tentar reverter as perdas.

Para não ficar tão na cara e tentar evitar uma caçada da CVM, logo que você entra no Short squeeze IRB, pode ler o aviso fixo “as postagens neste grupo não representam ordens de compra ou venda de ações. Tampouco visam benefício individual ou manipulação do mercado”. Mesma vibe dos influencers de finanças em suas postagens no Twitter, uma tentativa de limpar a barra com o regulador.

A CVM, por enquanto, deu sua resposta padrão: “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.

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A norma da CVM define manipulação de mercado assim: 

  • condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários criadas em decorrência de negociações pelas quais seus participantes ou intermediários, por ação ou omissão dolosa provocarem, direta ou indiretamente, alterações no fluxo de ordens de compra ou venda de valores mobiliários; 
  • manipulação de preços no mercado de valores mobiliários, a utilização de qualquer processo ou artifício destinado, direta ou indiretamente, a elevar, manter ou baixar a cotação de um valor mobiliário, induzindo, terceiros à sua compra e venda;

Lá nos Estados Unidos, ninguém cravou até agora que essa ação orquestrada de pequenos investidores é manipulação. De qualquer forma, a Robinhood, que é a corretora preferida dos pequenos investidores, decidiu proibir a compra de novas ações da GameStop e de outras meme stocks. Aí veio o tombo de -44,29% hoje. 

Mas não é só uma questão legal que separa EUA e Brasil. É coisa técnica, mesmo. O estrago que as sardinhas fizeram em Wall Street só foi possível pela magnitude das apostas na queda das ações da GameStop. Era o equivalente a 100% das ações em circulação. Quer dizer: até a entrada dos trolls do Reddit para comprar os papéis da empresa, ninguém acreditava na alta da varejista de games.

Aqui no Brasil, não dá para fazer o mesmo. Primeiro, porque há um limite de ações de uma empresa que podem ser dadas em aluguel: 20%. Dados da B3 apontavam 9% do IRB. Ah, o pessoal também recomendou lá no Telegram que os acionistas cancelassem o aluguel.

Além disso, B3 também limita a 20% a posição em contratos de opção, o segundo instrumento usado para fazer o short squeeze lá nos Estados Unidos.

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E há ainda uma questão de volume. A GameStop era uma empresa praticamente morta, uma Tectoy no mercado americano. O IRB, por mais que esteja passando por dificuldades, está firme e forte no Ibovespa. Tem negócios todos os dias, ainda que mais em alguns dias do que em outros. Hoje, foi a quarta ação mais negociada, atrás de Petrobras, Vale e Itaú. Quando um papel tem um volume grande de negócios, fica bem mais difícil mexer no preço dele, como as sardinhas fizeram no começo lá nos EUA.

E, por fim, a gente disse na quarta-feira (27) e não custa lembrar. Uma turma tinha tentado o short squeeze no ano passado Era contra quem apostava na queda das ações da Cogna (mas eles fizeram a campanha nas redes sem usar o nome short squeeze, para não fazer tanto alarde). A história é a mesma: a empresa de educação era uma meme stock brasileira, que saiu da comunidade financeira do Twitter direto para as graças do pequeno investidor. Aí virou um mico, as projeções de preços (e de resultados) não se concretizaram.

Mais uma vez, quiseram culpar os tubarões que operam vendidos (short). Mas não conseguiram nada, só uma alta temporária nos custos com o aluguel de ações e um prejuízo — o de continuar acreditando na alta das ações, comprar opções de compra da empresa e ver elas virarem pó.

É muito poético pensar em pequenos investidores de varejo tomando a frente e vencendo grandes gestores de fundos e impondo seu preço aos ativos. O problema é que tudo isso tende a terminar em uma bolha. Nas bolhas, quase todo mundo perde. Quem quebra mesmo são as sardinhas.

Ibovespa volta ao azul 

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E no meio de tudo isso, o Ibovespa deixou para trás a sequência de seis fechamentos no vermelho para voltar ao azul. A subida do dia foi de 2,59% a 118.883 pontos. 

Mas, calma, a alta não foi (só) por causa do IRB. 

A virada no humor dos investidores foi uma resposta aos números que chegaram dos Estados Unidos. A divulgação do PIB do quarto trimestre do gigante do norte mostrou um crescimento de 1% no final de 2020 (você deve ter visto um 4% por aí, mas esse é o valor anualizado, que somente os EUA e o Japão usam para divulgar seus PIBs, explicamos melhor aqui). 

No contexto geral de 2020, este novo valor representa uma contração de 3,5% do Produto Interno Bruto do país, o menor desde 1946. Isso mesmo, o menor desde a Segunda Guerra Mundial. 

Mesmo assim, o número foi bem recebido pelo mercado porque está dentro do que os especialistas esperavam para o ano marcado pela pandemia do coronavírus. Nem mesmo os sinais de desaceleração no final do ano, conforme a pandemia piorava, abalaram os investidores. 

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Bom, o mercado pode responder que vive de olhar para o futuro. E o senador democrata Chuck Schumer, disse nesta quinta-feira (28) que os parlamentares vão analisar o novo pacote fiscal proposto pelo governo Biden na próxima semana.

Na espera dos US$ 1,9 trilhão e animados com o crescimento, mesmo que moderado, da economia, as bolsas em Nova York fecharam assim: S&P 500 teve alta de 0,98% e o Nasdaq avançou 0,5%. 

Por aqui também vimos números animadores. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em 2020, 142.690 novas vagas de emprego com carteira assinada foram abertas no Brasil. Esses dados, que são divulgados pelo Ministério da Economia, não batem com os números da PNAD contínua do IBGE, que divulgou uma taxa de desemprego de 14,1% no país, no trimestre de setembro a novembro. 

A justificativa seria as metodologias diferentes das pesquisas, já que o IBGE trabalha com mais dados e considera trabalhadores informais e pessoas que estão em busca de empregos. 

Para o mercado, hoje predominou o bom humor. Amanhã, é outra história. 

 

MAIORES ALTAS 

IRB: 17,82%

BTG: 8,80%

Via Varejo: 7,90%

Iguatemi: 7%

GOL: 6,81%

 

MAIORES BAIXAS 

Bradespar: -2,55%

Cielo: -0,72%

WEG: -0,32%

Klabin: -0,28%

 

Dólar: 0,53%, a R$ 5,43

Petróleo 

Brent: -0,77%, cotado a US$ 55,10

WTI: -0,96%, cotado a US$ 52,34

Minério de ferro: -6,20% em Qingdao, cotado a US$ 156,20

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