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Pessoal, o PIB dos EUA não cresceu 33%. Foram 7,4%

Contabilidade maluca dos americanos confunde, mas o fato é que se trata de um número animador – igual os balanços da Vale e da Petro.

Por Monique Lima, Alexandre Versignassi
Atualizado em 5 nov 2020, 16h22 - Publicado em 29 out 2020, 18h50

“Nada como um tempo após um contratempo, pro meu coração”, já dizia o Chico. Nada de ficar chorando e resmungando. Hoje não. Depois do fechamento desastroso do pregão anterior, o mercado nesta quinta-feira estava renovado, graças aos resultados de terceiro trimestre apresentados por algumas empresas daqui, e também pelo governo americano, olha só. Lá fora e aqui, a bolada foi alta e, mesmo com volatilidade ao longo do dia, o Ibovespa fechou ok, em 1,27%, aos 96.582 pontos, com um belo giro financeiro de R$ 33,6 bilhões.  

O primeiro número importante do dia foi o PIB americano. O crescimento no terceiro trimestre do país foi recorde. Foi divulgado um aumento em 33,1%, quando comparado com os três meses anteriores. UAU. Mas calma, aqui vale uma explicação importante. 

Os EUA e o Japão são metidos a diferentes. O cálculo que eles fazem por lá é anualizado. Significa o seguinte: esses 33,1% seriam o crescimento que o país teria caso o crescimento de fato do trimestre (que foi outro) tivesse se repetido, e viesse a se repetir, em todos os outros trimestres do ano. 

Sendo assim, o crescimento na verdade foi de 7,4% (a conta é ligeiramente mais complexa do que parece, mas se você ver de novo por algum número gigante de PIB trimestral dos EUA, divida o número monstro por quatro, e você terá uma boa aproximação).  

Seja como for, é um pibão. Só tem um detalhe incômodo. No trimestre passado, a queda do PIB americano também foi recorde, em gigantes 9% – só que negativos. Então, se você parar para pensar, o crescimento do terceiro semestre ainda não cobre a queda do segundo, o PIB da pandemia continua 1,6% no vermelho.

Mas melhor isso do que uma queda pior. Então, segue o baile com a perspectiva positiva. E, teve mais números bons por lá para animar os investidores. 

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A entrada em pedidos de auxílio-desemprego diminuiu na última semana em 40 mil, fechando com 751 mil entre 18 e 24 de outubro. 

Com isso, os fechamentos em Nova York ficaram dentro de uma margem segura de esperança. O S&P 500 subiu 1,19% e o Nasdaq 1,64%. As eleições, de qualquer forma, já estão batendo na porta (faltam só 5 dias) –  e, vença Biden ou Trump, é impossível prever como o resultado irá afetar as bolsas. 

 

Petrobônus

Se lá fora o PIB dos EUA brilhou, aqui dentro as estrelas foram a Petrobras e a Vale – quem diria. 

Ignorando completamente a queda drástica no preço do barril de petróleo na gringa (Brent, -3,48% e WTI 3,26%), hoje a Petrobras subiu, por mérito próprio. 

Depois do fechamento de mercado de ontem, foram divulgados os números do terceiro trimestre da empresa. O  prejuízo foi de R$ 1,55 bilhão, terceiro resultado negativo seguido da estatal, que já acumula um débito de R$ 52,7 bilhões até setembro – cortesia do prejuízo absurdo do primeiro trimestre (R$ 48,5 bilhões).

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Pois é, mas aparentemente ninguém ligou para isso. O número que contou mesmo para o mercado foi outro: o EBITDA – sigla em inglês para o dinheiro que a empresa gerou (Earnings) antes (Before) o pagamento de juros sobre dívidas (Interests), impostos (Taxes), Depreciation dos ativos (os bens das empresas são igual o seu carro – depreciam –, e isso precisa entrar no balanço. Por fim, o que mais come dinheito: a Amortizarion de dívidas. Ebitda (sigamos com letras minúsculas daqui em diante, porque ninguém merece sigla de seis letras em caixa alta).     

O cálculo de Ebitda serve para ver se o seu negócio é funcional. Você pode ter uma hambugueria que não te dá lucro nenhum – porque tudo vai para pagamento de dívida. Mas se os seus hambúrgueres estão fazendo dinheiro, isso vai aparecer no Ebitda. 

E parece que os hambúrgueres da Petrobras vão bem. Excluindo a mordida dos pagamentos de dívida (e de impostos e de tudo o mais), a Petro produziu gordos R$ 33,4 bilhões – 33,8% mais do que no segundo trimestre. Mais: a empresa divulgou ontem que vai pagar os dividendos aos acionistas, para isso o dinheiro que sairia do lucro líquido (que não teve, como vimos), sairá do caixa (manobrinha básica detectada – outras empresas também fazem isso, mas geralmente para complementar os lucros…). 

Resultado final: festa de compras. Subida da PETR4 (3,32%) e da PETR3 (3,70%). Até as ações da pequena Petro Rio, concorrente da estatal, pegou o vácuo: 2,68%. 

 

Vale ouro

A empresa mais valiosa do Ibovespa, que detém uma grandiosa fatia de 10% do índice, apresentou um relatório cheio de números azuizinhos. A começar pelo lucro de US$ 2,9 bilhões – uma alta de 192% em relação ao segundo trimestre. E não parou por aí, com esses bons números, o conselho da companhia decidiu retomar a política de remuneração dos acionistas: separaram US$ 3,3 bilhões para pagar foram disponibilizados referente ao desempenho da primeira metade do ano.

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Crise? Na Vale não. O aumento nos papéis hoje foi de 2,92%. Na ponta negativa, choram a Gol (-1,83%), que aprofundou a queda de quase 10% de ontem, e a Azul (-0,04%), que não recuperou nada das perdas igualmente grandes de quarta.   

Dureza. Como já dizia o Jorge Maravilha de Chico, prenhe de razão, hoje mais valeu uma Vale na mão do que uma Azul e uma Gol voando. 

 

MAIORES ALTAS 

Cogna: 6,82%

Rumo: 4,56%

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Fleury: 4,50%

Via Varejo: 4,35%

Santander: 4,31%

 

MAIORES BAIXAS 

Ambev: -3,59%

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Carrefour: -2,54%

EZTEC: -2,26%

Gol: -1,83%

JBS: -1,65%

 

Dólar: +0,03%, cotado a R$ 5,76. 

 

Petróleo 

Brent: -3,48%, a US$ 38,26 o barril

WTI: -3,26%, a US$ 36,17 o barril

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