Veja os planos do Inter, agora um banco internacional de fato

Além de prestes a migrar da B3 para a Nasdaq, o banco digital carimbou seu passaporte com a compra da Usend, uma fintech americana. E agora planeja oferecer lá fora os serviços que o fizeram célebre por aqui, como o marketplace com cashback. O CEO João Vitor Menin conta sobre seus planos de expansão.

Por Juliana Américo | Fotos: Inter/divulgação | Design: Brenna Oriá
13 Maio 2022, 06h40
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 (Inter/Divulgação)
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João Vitor Menin, de 40 anos, é filho de Rubens Menin, cofundador e presidente da MRV Engenharia. O caminho natural era que o belo-horizontino assumisse a liderança da construtora, tanto que ele se formou em engenharia civil. Mas a sua paixão é o mundo das finanças, não o das construções. Por isso, foi para uma outra companhia da família, o Banco Inter (desde 2021, só Inter).

Ele começou como estagiário na empresa em 2004. Naquela época, a companhia nem era um banco, mas uma financeira que atuava somente no crédito imobiliário – e tinha outro nome, Intermedium. Nos anos seguintes, João ocupou cargos nas áreas de investimento, comercial e controladoria da empresa. Até assumir, em 2015, a cadeira de CEO.

Com ele na liderança, a companhia se tornou um dos primeiros bancos digitais do país. Fechou 2021 com lucro (R$ 78 milhões), 4 mil funcionários e dobrou o número de clientes, passando de 8 milhões para 16,3 milhões.

Em maio de 2021, o Inter anunciou o plano de deixar a B3 e listar suas ações na Nasdaq. Enquanto isso, concluiu a compra da americana Usend. A fintech gringa atua no mercado de câmbio e de serviços financeiros, como remessa de dinheiro. E também oferece conta digital. Ou seja: é a porta de entrada para tornar o Inter um banco de fato internacional. A ideia é oferecer lá os serviços que o banco tem aqui, caso do Inter Shop, o marketplace com cashback que funciona dentro do app do banco (que o Inter chama de “super app”, por conta da variedade de funções).

A mudança para a Nasdaq ficou travada por quase um ano. Mas tudo indica que deve sair. O banco teve de montar um esquema que garantisse a segurança dos acionistas atuais. Ele fez isso no dia 14 de abril: os acionistas brasileiros que não quiserem migrar para a Nasdaq (o que obriga a abrir conta numa corretora americana) poderão resgatar uma parte de suas ações em dinheiro e outra em BDRs – os recibos das ações gringas, negociáveis via B3 mesmo. Mesmo assim, as ações seguem em baixa (queda de 80% desde o pico, em julho de 2021).

Nesta conversa, João Vitor fala sobre a expansão do Inter para fora e o mercado bancário no Brasil.

Quais são as metas para a expansão internacional?

A gente é bem mineiro e super empreendedor ao mesmo tempo. Temos a cabeça nas nuvens e os pés no chão. Primeiro, queremos nos consolidar nos EUA – e quando eu falo consolidar, não significa que vamos terminar o ano com uma presença dominante, óbvio. A ideia é estar com a operação redonda, com tudo fluindo e escalando bem. Para 2022, queremos replicar alguns serviços que temos aqui. Estamos mirando a base de 1 milhão de clientes americanos.

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Os serviços vão ser os mesmos oferecidos aqui no Brasil?

Quando você vai para outro país, com outra regulamentação, características e cultura, você tem que se adaptar. O melhor exemplo que eu gosto de dar é o Uber. Você baixou o aplicativo do Uber aqui no Brasil; se você abri-lo lá nos EUA, vai funcionar normalmente, já com o preço em dólar e pagamento no cartão de crédito.

Agora, aqui no Brasil não tem a categoria Black SUV [viagens premium para até 6 pessoas em SUVs de luxo], que é comum em Nova York. Então existem essas customizações que variam de acordo com a região. Por exemplo, nós já estamos com um projeto-piloto do Inter Shop [o marketplace do banco], igual temos aqui, para o mercado americano. O cliente consegue investir, comprar ações. Vamos lançar um cartão de débito nos EUA. Agora, vai ter opção de crédito consignado? Não, porque lá não tem isso. Mas a ideia é que o app do Inter seja global.

Já tem outros países mapeados além dos EUA?

Acho que 2022 ainda é o ano dos EUA. No ano que vem, aí sim, a gente quer ir para outros países. Pode acontecer neste ano ainda? Pode, se aparecer alguma oportunidade muito boa. Mas o plano é ir para outros países só em 2023. Muito provavelmente para a Europa.

Não teria sido mais fácil começar pela América Latina?

Esse é um caminho que muitas empresas fazem, de começar pela América Latina. Mas eu penso diferente: nós já estamos no Brasil, que é um dos países mais importantes da região; e temos uma presença nacional forte. Não vamos para os EUA só para buscar clientes. Estamos indo atrás de cultura organizacional, troca de informações, know-how.

Expandir para países vizinhos seria mais do mesmo. Nós já abrimos o nosso escritório em Miami, que hoje se destaca como um hub financeiro e tecnológico importante, e isso dá uma oxigenada no negócio. Então queremos estar nos EUA e não na Argentina, na Colômbia ou no México.

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Vocês concluíram a compra da Usend. Já existem outras aquisições no radar?

A gente tem uma área de business development que olha constantemente novos produtos e M&A. Então temos algo no radar, sim, mas são coisas menores. Nada significativo como a Usend.

E o que vocês olham nessas empresas na hora da aquisição?

Nossa estratégia não é comprar para investir. É agregar empresas que vão ajudar os nossos clientes, melhorar os produtos, e que podem trazer uma experiência mais bacana para o nosso super app. Se a gente acha que a empresa se encaixa nessa característica, ela é elegível a receber investimento do Inter, seja majoritário, total ou parcial. Caso contrário, mesmo que ela tenha um excelente produto, não queremos investir para vender amanhã.

O número de clientes do Inter dobrou em 2021. Dá para manter esse ritmo de crescimento?

Eu acho que sim, e tem alguns motivos. O primeiro ponto é que estamos vendo a consolidação dos bancos digitais no mercado e isso ajuda a atrair mais gente. A prova disso é que o nosso CAC [custo de aquisição de clientes] no primeiro trimestre está menor que o mesmo período do ano passado. Está mais barato adquirir clientes aqui no Brasil, então isso já mostra que a gente tem espaço para crescer mais rápido em 2022, até mais do que imaginávamos em lá em 2021, quando planejamos o nosso orçamento.

O segundo ponto é que, quando você abre em outras geografias, também chama a atenção de possíveis clientes interessados nesses mercados internacionais, que até então não olhavam para a gente. E nós agora temos o mercado americano para explorar. Isso nos abre a possibilidade de ter um crescimento de clientes muito bom este ano.

Alguns analistas dizem que as ações da empresa estão descontadas [abaixo do valor justo] após as quedas nos últimos meses…

Para a gente aqui do Inter, o mais importante é: apesar de sermos listados há relativamente pouco tempo [o IPO da empresa foi em 2018], somos bem maduros. Quando as ações estavam em alta, não estávamos soltando foguete e estourando champanhe. Sempre fomos bem pé no chão. Hoje, nós estamos em um momento excelente, dando resultado, alcançando as metas. Então, acho que independentemente dos papéis, estamos superfelizes e trabalhando demais.

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O número de inadimplentes aumentou no Brasil. Como você encara esse risco maior no crédito?

O Inter tem cinco grandes produtos de crédito. Por ordem de importância: crédito imobiliário, ou seja, que tem um imóvel como garantia; o consignado, que é ligado ao salário; e o de antecipação de recebíveis
para empresas.

Depois, vem o cartão de crédito. Esse sim sofre mais com a perda de renda e as oscilações da inflação. Talvez seja o único ponto que mereça atenção no momento. E tem o crédito rural, que não apresenta problemas já que o agronegócio está indo superbem.

Se a gente fosse um emissor de cartão de crédito digital, como o Nubank, estaríamos em uma situação mais complicada. Mas, como temos muita diversificação, estamos mais seguros. Nossa tendência é sermos mais conservadores na modalidade cartão de crédito, por ser um produto arriscado. Não saímos por aí aprovando cartão para todo mundo. Claro, estamos sempre atentos, ajustando os nossos motores de concessão de limite de crédito, fazendo um trabalho mais forte na cobrança, mas não estamos preocupados.

Há um ano, o Banco Central lançou o open banking. Você acha que esse sistema está funcionando?

Teoricamente, o Inter é um player beneficiado pelo open banking, mas tenho um pequeno ceticismo com o sistema. Até hoje, ele é muito barulho e pouco conteúdo, sabe? Tem muita gente falando, mas pouca coisa de fato acontecendo, e poucas pessoas interessadas em saber como o open banking vai funcionar de verdade.

Além disso, também ficamos mal-acostumados com o Pix, que deu supercerto e é muito simples; enquanto o open banking é complicado. Tem a parte de dados, de segurança da informação. Tenho minhas dúvidas sobre se as pessoas vão ter conforto de realmente deixar a sua conta aberta para que todos os emissores de pagamento tenham acesso às suas informações.

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Os bancos tradicionais aceleraram a entrada no digital. A concorrência preocupa?

Preocupa. Eu sempre falo que temos que estar na zona de desconforto – a de conforto é perigosa. Não podemos pensar que os bancos incumbentes são obsoletos e que não conseguem se reinventar. Por outro lado, eles têm um legado que não é fácil de suprimir.
Por exemplo, os bancos digitais ganham em velocidade de lançamento, de recursos e integração. Já os tradicionais costumam ter um aplicativo da conta e mais uns outros seis apps, para cartão, seguros, corretora. É difícil eles conseguirem integrar tudo em uma única plataforma. Mas, assim como preocupa, também instiga. É legal quebrar a cabeça para descobrir onde podemos melhorar, o que podemos fazer que tem mais a ver com o mercado dos bancos incumbentes e que o digital está deixando passar.

O que o Inter planeja para os seus produtos no futuro?

Somos uma empresa inquieta, estamos sempre lançando produtos novos e eles estão todos no nosso super app – que dá para resolver uma boa parte da vida. Por exemplo, eu uso a telefonia do Intercel, outro dia comprei no InterTravel uma passagem para voltar dos EUA. Agora, a questão é onde esses produtos vão estar. Vai ser no smartphone ou no metaverso? No ano passado, compramos 50% de uma empresa chamada IM Designs, que é especializada em realidade virtual, aumentada e mista. É esse tipo de coisa que estamos testando. Porque não adianta eu ter um super app muito legal, mas as pessoas não estarem usando mais a tela do celular. Você tem que olhar para a frente.

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