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Conheça a TC, a startup financeira que começou nas redes sociais

Pedro Albuquerque, CEO do TC (ex-Traders Club), conta os planos da empresa para ir além de ser uma rede social de troca de ideias sobre investimentos, e tornar-se uma companhia de inteligência de mercado.

Por Tássia Kastner | Fotos: Divulgação | Design: Brenna Oriá
Atualizado em 9 nov 2022, 14h01 - Publicado em 11 mar 2022, 06h10

Traders Club (TRAD3), agora conhecido apenas como TC, surgiu de um grupo de WhatsApp formado por gente a fim de trocar ideias sobre ações e o mercado financeiro. “Antes do TC, existia um problema no nosso mercado: o investidor pequeno estava sempre em desvantagem em relação ao institucional”, explica Pedro Albuquerque, CEO do TC.

Naquela época, havia meio milhão de investidores na bolsa. Hoje, são 5 milhões. Nisso, o TC explodiu. Alcançou 500 mil cadastros, 88 mil assinantes e é, ele mesmo, uma empresa com ações na bolsa.

O coração do TC é uma rede social fechada em que pequenos investidores e colaboradores – gestores e analistas – apresentam suas ideias de por que seria uma boa ideia comprar ou vender um determinado ativo. Depois, incorporou dados financeiros e notícias de mercado. Hoje, ele vai bem além de um serviço para investidores pessoa física: avançou para o mundo dos grandes investidores e se prepara para bater de frente com grandes empresas financeiras. Hoje, 25% do faturamento deles já vem de serviços prestados a companhias – como dados de mercado e ferramentas para divulgação de resultados, contratadas por departamentos de relações com investidores.

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É nessa frente que a TC aposta para continuar crescendo. Nesta entrevista, Pedro comenta também as acusações que sofreu de manipulação de mercado, o fenômeno de apelidar ações e ainda a decisão de colocar na sede da empresa – e depois retirar – uma estátua de Paulo Guedes.

O que é e como surgiu o TC?
A gente criou um aplicativo para conectar investidores e ajudá-los a investir melhor. O TC veio de uma comunidade de pessoas reais, com nome e sobrenome. Elas se conhecem, trocam mensagens privadas entre si, mensagens em canais públicos, colocam ideias de investimentos. Hoje é uma comunidade massiva, com milhares de investidores postando mensagens todos os dias na nossa plataforma. Depois expandimos a empresa para um aplicativo completo para o investidor, que tem serviços de inteligência de mercado e até dados financeiros de todas as companhias abertas.
Antes do TC, existia um problema no nosso mercado. O investidor pequeno estava sempre em desvantagem em relação ao institucional. O institucional tem à disposição bancos de investimento, equipes extremamente qualificadas, plataformas. Esse mercado era muito difícil para o investidor do varejo. O TC veio para diminuir esse gap.

Justamente o espaço de troca de ideias de investimentos foi alvo de denúncias na CVM, de que o TC poderia ser usado para manipulação de mercado.
Todas as denúncias foram arquivadas. Não estamos inventando a roda no TC. Antes, quem dominava a mídia eram os jornais tradicionais. O gestor ou um investidor que tinha contato com jornalistas dava sua entrevista e falava sobre os papéis nos quais ele estava comprado. Agora há uma clara descentralização dessa informação, e não é só no TC. Há uma comunidade grande de investidores no Twitter e no Instagram… em outras mídias sociais.

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Mas julgo que o TC é o ambiente mais seguro para se debater mercado hoje. Temos um código de ética e conduta, a gente tem validação do celular dos usuários – se ele for banido, não volta ao TC. Temos um time de moderação. Você não encontra isso em outras mídias sociais porque elas não foram feitas para isso. E, no final das contas, cada usuário é responsável pelo que fala. O TC é apenas o meio, damos voz e conectamos investidores.

O sucesso do TC vem colado na alta da bolsa e na chegada de novos investidores. Com os juros altos, o interesse em serviços como o TC não diminui?
Sem dúvida o interesse diminuiu no mercado de ações. A bolsa caiu muito, e a taxa de juros subiu. Isso é um vento contrário, mas o mercado vive de ciclos. Há uma expectativa de grandes economistas com quem converso de que o financial deepening [aprofundamento do mercado financeiro, expressão que indica a sofisticação dos investidores e migração para renda variável] vai continuar no Brasil. Após a eleição, a expectativa é de que a taxa de juros caia e volte a ficar em single digit, o que é benéfico para investidores em renda variável. Isso [o momento atual] é um ciclo, uma maré de baixa. E o TC daqui para frente é menos dependente de uma única classe de ativos, estamos fazendo uma grande diversificação, expandindo nosso portfólio para investidores institucionais e companhias de capital aberto. Realizamos nos últimos meses ótimas aquisições que nos trazem frentes de crescimento adiante.

Que aquisições foram essas?
Nós compramos a RIWeb, uma empresa que presta serviços de relações com investidores. Ela está com número recorde de clientes, e estamos rapidamente trazendo sinergias com o TC. Também adquirimos a Economatica [uma companhia de inteligência de mercado]. A cereja do bolo é jogar os departamentos de RI [de outras empresas] para dentro do aplicativo do TC. Um departamento de RI é tipicamente muito pequeno, e eles têm capacidade reduzida de alcançar investidores. Com o TC, damos oportunidade para as empresas aparecerem em uma plataforma que está cheia de investidores. E potencialmente investidores que podem comprar ações dessas empresas.

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O que isso significa para o faturamento do TC?
Com a RIWeb e a Economatica, mais de 25% da nossa receita já vem do B2B (negócios entre empresas). Estamos lançando o nosso terminal financeiro para o investidor institucional – gestores, analistas, assets, instituições financeiras. Basicamente, trazemos todo o serviço de informação do TC e os dados financeiros da Economatica [num único lugar]. É diferente do que existe no mercado de soluções concorrentes, existe um feed de notícias personalizado para cada usuário. Vemos oportunidade de ganhar market share aí, principalmente das plataformas locais.

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(Divulgação/VOCÊ S/A)

Circulou muito a notícia de que vocês tinham um plano de comprar o Broadcast, uma das plataformas locais concorrentes.
Não posso divulgar esse tipo de informação. O que eu posso falar é que estamos lançando um produto que é uma solução alternativa para quem utiliza Broadcast, Bloomberg, Valor Pro, Refinitiv. E isso sai no primeiro trimestre deste ano.

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Isso significa que vocês estão buscando caminhos alternativos ao público original. Vocês têm a base de 500 mil cadastrados e 88 mil pagantes. É difícil ganhar dinheiro com pessoa física? Como aumentar a rentabilidade nesse segmento?
Primeiro, estamos trazendo planos mais baratos para que esses clientes entendam o poder do TC.
Segundo, estamos criando uma versão de negociação. Vamos habilitar transações com criptoativos, via Mercado Bitcoin, e aí teremos uma fonte de receita baseada no fluxo de transação gerado dentro da plataforma. Depois isso vai acontecer com o mercado tradicional também [de ações e outros ativos].

Nós pretendemos ter uma corretora, uma plataforma one stop shop na qual o investidor não precise mais fechar o TC, abrir o home broker de uma corretora para transacionar. A gente quer que nossos usuários fiquem no TC. Ali ele vai receber informações, trade ideas. Lê uma notícia e executa rapidamente a sua ordem de compra ou de venda.

A integração não cria um problema de conflito de interesse entre prover a informação e se beneficiar da transação?
Construímos o TC na base da confiança dos nossos clientes. Se você for olhar mundo afora, hoje as corretoras que mais crescem são aquelas que têm componentes de social. E são várias: a Robinhood é um caso clássico. Tem a Mumu na China… E o TC tem um forte componente de educação financeira também, são mais de 70 cursos disponíveis para nossos assinantes. Apenas achamos que é importante ter em um único lugar tudo o que ele precisa para tomar sua decisão em relação ao investimento.

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Ele não está decidindo com base no efeito manada da comunidade?
Não temos capacidade de mexer com o mercado. Vamos pegar o Reddit, no caso do GameStop, para as pessoas entenderem a diferença em relação ao TC. Aqui não se fala de ações de pouca liquidez. Temos como regra interna vetar comentários sobre ações que tenham menos de R$ 15 milhões de volume diário – porque quando se comenta sobre uma ação que tem volume pequeno, pode acontecer movimentação de preço [como ocorreu com as ações da GameStop, impulsionadas por usuários do Reddit em fevereiro de 2021]. Nos preocupamos com isso, e focamos o debate em ativos de alta liquidez. E nesses outros ambientes [redes sociais] não há nenhum tipo de regra, de moderação. Facilmente pode-se criar uma especulação que saia do controle. Não é permitido no TC que uma pessoa fique falando recorrentemente de um ativo e incentivando compra. Estamos em um ambiente sério.

A repetição de piadas e memes com ações específicas, em redes sociais, faz parte da história do TC. Falava-se das ações de Via, Bradesco, Cielo sem parar no Twitter.
Sim, a gente comenta sobre ações e é normal. O TC é uma mídia social de varejo e se há apelido para algum ativo, não vejo nenhum problema. Além disso, as pessoas precisam entender que houve erros e ainda haverá erros dos contribuidores do TC e dos usuários. Como ganhamos uma projeção muito grande, algumas pessoas ficam incomodadas com a plataforma. Mas, se alguém acha que o TC tem poder de influenciar um ativo que negocia R$ 400 milhões, R$ 1 bilhão por dia, essa pessoa tem pouca compreensão de mercado financeiro.

Desde o IPO, a ação do TC caiu mais de 60%. A que você atribui a queda?
Existe um fator mais geral, que as ações de menor liquidez [o TC gira R$ 10 milhões por dia] estão sofrendo bastante por causa de um mercado mais adverso, é difícil ver uma empresa assim que tenha escapado de uma grande realização [queda]. E temos observado muitos resgates nos fundos. Mas tudo isso é temporário. O mercado é cíclico, e aqui estamos superotimistas.

Vocês colocaram uma estátua do ministro Paulo Guedes caracterizado como um mandaloriano [personagem guerreiro de Star Wars] na sede da empresa. E depois retiraram. Por quê?
A estátua foi uma brincadeira, e admito que hoje as pessoas têm uma intolerância muito grande a qualquer tipo de brincadeira. Agora temos um cenário eleitoral, sabemos que os sentimentos vão estar à flor da pele, e aqui o nosso objetivo não é ficar causando nenhum tipo de polêmica. Como houve muito tumulto, muitos comentários em redes sociais, achamos pertinente retirar a estátua – ainda mais num cenário eleitoral. Teremos um ano bem complexo, estamos trazendo todos os lados para um debate no TC – políticos de esquerda, políticos de centro, políticos de direita. A gente quer dar amplo espaço para todas as vozes, para que aí as pessoas julguem qual é o político que está com as melhores ideias para tocar para frente o nosso país.

Mas houve um endeusamento do ministro Paulo Guedes, numa ideia de que ele ajudou no crescimento do TC?
Eu acho que o ministro fez um bom trabalho durante o governo. Faltou apoio a algumas medidas, mas dentro do que ele podia, se saiu bem. [Ele fez] a reforma da previdência e uma série de reformas setoriais importantes. Não julgo que isso foi benéfico só ao TC, mas a todos nós. Tem um país sendo privilegiado. Ele fez tudo que foi possível, e foi um bom trabalho.

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