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Super Quarta: futuros de NY prendem a respiração no aguardo do Fomc

Aqui, mercado aposta na manutenção dos juros pelo Copom. Por lá, o guru econômico que previu a crise de 2008 fala em juros de até 5% no final do ano, com queda de 40% no S&P 500.

Por Bruno Vaiano
21 set 2022, 08h22

Está chegando a hora. O dia já vem raiando, meu bem – com os futuros de Nova York estáveis, sem grandes emoções: S&P 500 em 0,06%, Dow Jones em 0,10% e Nasdaq em queda de 0,08% às 7h47 da manhã. O clima é de calma antes da tempestade. 

Você já sabe: às 15h, o Fed anuncia a nova taxa básica de juros dos EUA. Deixe o Rivotril ao alcance das mãos que a agenda está cheia – é Super Quarta, afinal. Após o pregão, às 18h30, é a vez do Copom revelar se a Selic fica mesmo em 13,75% (aqui no Brasil, com indicadores de inflação mais saudáveis que os americanos, o espaço para agonia é menor). 

Os EUA já levaram um balde de água fria no dia 13 de setembro, quando saiu o CPI (equivalente americano do IPCA) de agosto. No Tio Sam, o mês do desgosto fechou em alta de 0,1% em relação a julho. Uma decepção diante da queda do 0,4% esperado pelo mercado. Em relação a agosto de 2021, os preços aumentaram 8,3% – os analistas calculavam 8,1%.

A taxa básica de juros dos EUA permanece baixa considerando a gravidade da situação. Da última vez que a inflação por lá esteve acima de 8%, em 1981, a “Selic” americana passou o ano em 12%. (Chegou a alcançar 18% em 1980, quando a alta nos preços estava em dois dígitos.) Por isso, o mercado espera no mínimo 0,75 ponto percentual – e um aumento de 1 ponto cheio, para 3,5%, não está fora de cogitação. 

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O economista Nouriel Roubini, que ocupou cargos importantes na cúpula do governo federal americano – e ficou conhecido como “Dr. Ruína” (Dr. Doom) após prever, em 2006, a crise de 2008 –, prevê que os juros se estabilizem em algo entre 4% ou 4,25% ou até alcancem 5% no final do ano, catalisando uma recessão econômica que derrubaria o S&P 500 em até 40%. O tom profético ecoou pelas notícias desta manhã. 

Nesse cenário hipotético, o dólar – que vem flutuando dentro de uma janela estável desde uma queda brusca no final de julho (mais ou menos entre R$ 5,05 e R$ 5,25) – poderia voltaria a subir, assumindo seu papel de porto seguro para investidores que fogem da renda variável em busca dos títulos públicos americanos. 

Por aqui, o Banco Central foi mais rápido nas rédeas. O Brasil acompanhou o Ocidente e sua periferia no surto de inflação global em 2022, mas o Copom reagiu mais rápido que o Fomc e colocou a Selic em 13,75% ainda em junho. Essa gorda alta, combinada ao corte de ICMS para os combustíveis, gerou uma deflação (queda de preços) de 0,68% em julho e de -0,36% em agosto. Depois, veio a cereja do bolo: a queda no preço da gasolina e do diesel nas refinarias – que contribuiu para um desconto bem-vindo nos fretes de todos os outros setores da economia.

Apesar do sucesso, o BC entende que o IPCA de julho e o de agosto foram “só” sua batalha de Stalingrado: os soviéticos viraram o placar da guerra, mas ainda precisavam bater os nazistas de vez. Por isso, os mais pessimistas não descartam um arredondamento da Selic para 14% ao final da reunião. 

A fonte dessa preocupação é o próprio Campos Neto, que num evento em 6 de setembro falou em “ajuste residual” e juros de dois dígitos em 2023. No dia seguinte, 7 de setembro, Bruno Serra jogou mais um pouquinho de água no chopp: “Parece inconsistente projetar inflação acima do centro da meta, em particular para 2024 (…) e discutir queda de juros”, disse o diretor de política monetária do BC. Ou seja: o ciclo de alta pode até ter acabado, mas o ciclo de quedas não deve começar tão cedo. 

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Enquanto isso, no além-Faria Lima, Putin está correndo para anexar de vez suas conquistas no leste Ucrânia, busca recrutas até em prisões para reforçar seu contingente desmotivado e mandou mais recadinhos nucleares hostis para o Ocidente. O resultado é que o euro cai, enquanto gás natural e petróleo sobem. 

Há potencial, portanto, para que este seja um bom dia para as petroleiras – e para o Ibovespa, em geral. Resta ao nosso índice resistir à turbulência lá fora. De acordo com a Bloomberg, o mercado tem sido eficiente em precificar as altas nos juros antes dos anúncios do Fed, de modo que os Dias D não tem sido tão D assim. Mas é claro: padrões nos gráficos do passado não são garantia para o futuro. 

Sem pânico e bons negócios.

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humorômetro: o dia começou sem tendência definida

Futuros S&P 500: 0,06%

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Futuros Nasdaq: – 0,08%

Futuros Dow: 0,10%

*às 7h41

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,01%

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Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,67%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,05%

Bolsa de Paris (CAC): 0,13%

*às 7h50

Fechamento na Ásia

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): – 0,74%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): – 1,36%

Hong Kong (Hang Seng): – 1,79%

Commodities

Brent: 2,47%, a US$ 92,86 o barril

Minério de ferro: -0,15%, a US$ 98,00 a tonelada, na bolsa de Cingapura

*às 7h04

market facts

Global Wealth Report 2022

O Credit Suisse divulgou o Global Wealth Report 2022, relatório que mapeia a distribuição da riqueza ao redor do mundo durante o ano anterior. O estudo aponta que, em 2021, a desigualdade aumentou. O 1% mais abastado passou a deter 45,6% da riqueza global – em 2019, eram 43,9%. O banco atribui a alta ao aumento no valor dos ativos financeiros que rolou durante a pandemia. A boa notícia é que, no longo prazo, a desigualdade continua caindo neste século, devido ao crescimento mais rápido dos mercados emergentes.

O relatório calcula que, no final de 2021, uma pessoa precisaria de um patrimônio de US$ 8,3 mil (R$ 43 mil) para estar entre os 50% mais ricos do mundo. Já para estar entre os 10%, seriam necessários US$ 138,3 mil (R$ 711,5 mil). Para emplacar no top 1%, o patrimônio deve ser de US$ 1,14 milhão (R$ 5,89 milhões). 

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Tesouro IPCA+: a hora da virada?

A perspectiva de queda na Selic deixou de ser fantasia. Bom para os títulos de inflação. Eles oferecem a segurança da renda fixa para o longo prazo e, no curto, têm o potencial de bater os ganhos da renda variável. Nesta reportagem da Você S/A, entenda como o Tesouro IPCA+ pode produzir lucros fora da curva para quem entra na hora certa (que pode ser agora). 

O que os investidores pensam sobre Lula

A figura de Lula é vista de forma diferente entre investidores brasileiros e estrangeiros, pelo olhar da Bloomberg. Os gringos, que em grande parte entraram no mercado brasileiro no início do boom econômico dos anos 2000, têm mais memórias dos retornos generosos que o país proporcionou no período. Já os investidores daqui preferem se lembrar do momento seguinte, de crise econômica e terreno infértil. A Bloomberg conversou com gestores daqui e de fora para entender como eles avaliam os dois mandatos de Lula – e como reagiriam a um possível terceiro mandato. 

Agenda

EUA: anúncio da nova taxa de juros pelo FOMC às 15h Brasil: anúncio da Selic pelo Copom às 18h30

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