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Powell no modo esfinge sobre estímulos derruba bolsas; Ibov cai 1,73%

Nesta sexta, presidente do Fed pode (ou não) dizer o que pensa sobre reduzir a impressão de dinheiro nos EUA. No Brasil, nova alta na conta de luz faz a bolsa chorar.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 26 ago 2021, 18h30 - Publicado em 26 ago 2021, 18h18

Às quintas, o humor dos investidores costuma ser moldado logo de manhãzinha, quando o governo libera dados da semana anterior sobre o desemprego no país. Hoje o mercado financeiro teve a chance de não passar o dia olhando para trás e pode se concentrar também no amanhã. Só que não saiu do jeito esperado. Todos estão com medo de que, na sexta-feira, o Fed diga quando começará a fechar a torneira de dólares que abriu para injetar dinheiro nos mercados quando a pandemia de Covid-19 chegou. O combo foi suficiente para levar Wall Street e a B3 para o negativo.

O número de novos pedidos de auxílio-desemprego registrados na semana passada nos EUA foi de 353 mil, um pouco maior que os 350 mil esperados pelo mercado. Na semana anterior, o dado havia atingido seu menor patamar desde o início da pandemia: 348 mil novas solicitações do benefício.

Esse número é analisado semanalmente pelos investidores americanos como uma prévia dos índices oficiais de desemprego no país. E ele é crucial porque indica quão bem a economia americana anda – e ajuda a calcular a pressa com que o Fed começará a aspirar dólares do mercado.

Outro dado que saiu hoje, sem grandes emoções, foi uma espécie de atualização do PIB dos EUA no segundo trimestre: alta de 6,6% nessa segunda atualização, contra 6,7% das previsões do mercado e 6,5% da primeira leitura do dado, com valores provisórios – são quatro divulgações a cada trimestre. Vale lembrar que os EUA gostam de ser diferentões e divulgam o número no formato anualizado – ou seja, a economia americana cresceria 6,6% em 2021 se a alta do segundo trimestre se repetisse em todos os trimestres do ano.

Enfim, tudo pior que o esperado, mas não exatamente ruim. No fim, esses dados foram  coadjuvantes, já que o noticiário americano foi ocupado pelo ataque terrorista no aeroporto de Cabul. Pelo menos 60 pessoas, entre as quais ao menos 12 militares americanos – a primeira morte de soldados americanos no país desde fevereiro de 2020, quando os EUA ainda ocupavam oficialmente o território.

Qual vai ser, Fed?

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Enquanto isso, os investidores do mundo todo se preparavam para o evento da semana – talvez do semestre: a fala de Jerome Powell, presidente do Fed, no simpósio de Jackson Hole. O encontro anual realizado pelo Banco Central de Kansas City começou hoje, mas é amanhã que as partes realmente relevantes vão rolar. 

A novela do Fed você conhece: todos querem saber quando o Banco Central americano vai começar o processo de “tapering”, a retirada de estímulos à economia do país. Nos últimos meses, nem os próprios membros do Fed parecem ter entrado em consenso, e sempre que alguma atualização sobre o processo surgia, a bolsa reagia. Agora, está ficando cada vez mais claro que o Fed pode, sim, reduzir o ritmo de compra de títulos que vem injetando US$ 120 bilhões de dólares todos os meses na economia. 

Por um lado, o aumento da inflação e a queda no desemprego graças à vacinação pressionam o Fed a mudar sua política mais cedo do que o esperado. Por outro, há o temor de que a variante Delta cause uma nova onda de Covid-19 no país, o que travaria a economia e exigiria a manutenção dos estímulos por mais tempo.

Só nesta quinta-feira, dirigentes dos Feds locais de Dallas, St. Louis e Kansas City tiveram falas de apoio ao tapering antes do que o previsto, o que apavorou Wall Street (vale lembrar que o Banco Central americano é formado por 12 células espalhadas em cidades pelo país). Agora, as expectativas são para que Powell, que vem evitando assumir posicionamentos muito claros e tem sido bem menos assertivo que seus colegas, dê indícios de qual será sua posição na fala de amanhã. Ainda há o risco de que ele simplesmente se esquive. 

Até lá, os mercados decidiram ficar em extrema cautela. O S&P 500, maior e mais importante índice americano, interrompeu sua sequência de cinco altas seguidas e caiu consideráveis 0,58% nesta quinta-feira.

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Não foi só nos Estados Unidos: o mundo todo teve um dia no vermelho com as expectativas para amanhã pesando. Em Seul, o índice sul-coreano Kospi fechou em baixa de 0,58%; na China, CSI 300 caiu 1,97%, e em Hong Kong houve um recuo de 1,53%. Na Europa, Stoxx 600, que reúne as principais empresas do velho continente, cedeu 0,30%; quedas semelhantes em Frankfurt, Londres e Paris.

No Brasil

Por aqui, não poderia ser diferente. Bem, com exceção da magnitude da queda, que foi bem maior: Ibovespa -1,73%, aos 118.723 pontos. Só seis ações que compõem o índice fecharam em alta. 

É que, além do mau-humor global, temos vários problemas para chamar de nosso. Um dos mais graves, você sabe, é a crise hídrica que passamos e que ameaça trazer uma grave crise energética no país, com risco até de apagões. Com isso, a inflação (que já era um problema) é puxada para cima, já que o preço da energia sobe. E, sem chuvas, não tem alta na Selic que baixe a inflação. É o chamado choque de oferta, sem nenhum trocadilho.

Nesta quinta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a bandeira vermelha da conta de luz vai subir de novo. “Temos de enfrentar, não adianta ficar sentado chorando.” Isso depois de ele ter dito, na véspera, “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”

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O problema você sabe bem. A bandeira vermelha é a culpada pelo susto que você tomou ao receber a conta de luz de agosto. Na vida real, ela ajuda a pagar o acionamento de usinas térmicas, mais caras que as hidrelétricas. 

A coisa é tão periclitante que nem um sinal de solução para outra crise do país trouxe alívio a investidores. É que hoje o ministro do STF Luiz Fux disse que está sendo negociado, com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma autorização para que o governo parcele precatórios – dívidas que União têm e que a Justiça mandou pagar. 

Com STF e CNJ no jogo, o governo não precisa mais da PEC que foi para o Congresso. A medida vinha sendo considerada uma espécie de calote e ainda colocava o equilíbrio das contas públicas em risco. O lance é que daria para tirar um trocado a mais, e assim o governo colocaria ali uma despesas extras, como o aumento do Bolsa Família.

Não foi só isso que investidores decidiram ignorar. Diferentemente dos EUA, aqui o mercado financeiro tem olhado dados de emprego formal com ceticismo. O governo divulgou hoje que foram criadas  316.580 novas vagas de emprego formais em julho, acima das 300 mil da previsão de economistas. O problema é que o Caged (a fonte desse dado) sofreu uma mudança de metodologia e ainda traz informações brutalmente discrepantes quando comparadas com o desemprego medido pelo IBGE.

Tá mesmo difícil encontrar uma notícia positiva firme para se agarrar.

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Maiores altas

Banco Inter: +4,56%

Lojas Americanas (LAME4): +2,41%

Americanas (AMER3): +191,%

WEG: +0,93%

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Cogna: +0,29%

Maiores baixas

Cyrela: -5,94%

Iguatemi: -5,28%

Ultrapar: -5,25%

Petrorio: -4,55%

Eztec: -4,25% 

Ibovespa: queda de 1,73%, aos 118.723 pontos

Em Nova York

S&P 500: queda de 0,58%, aos 4.469 pontos

Nasdaq:  queda de 0,64%, aos 14.945 pontos

Dow Jones: queda de 0,54%, aos 35.213 pontos

Dólar: alta de 0,87%, a R$ 5,2568

Petróleo

Brent: queda de 1,54%, a US$ 70,18

WTI: queda de 1,38%, para US$ 67,42

Minério de ferro: alta de 2,87%, cotado a US$ 152,92 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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