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Plano de infraestrutura de Biden garante alta de 5% para Vale

Ações de mineradoras e siderúrgicas subiram após aprovação do projeto nos EUA. Mas nem assim o Ibovespa fechou no azul – graças à novela dos precatórios.

Por Bruno Carbinatto
8 nov 2021, 18h52

O Ibovespa fechou no vermelho hoje, mas o tombo podia muito bem ser maior. Agradeça aos EUA, que ajudaram a colocar os papéis da Vale, a nossa mastodonte da mineração, no topo das maiores altas desta segunda-feira (08). 

É que o megaprojeto de investimentos em infraestrutura do governo Biden foi finalmente aprovado na Câmara dos Deputados dos EUA, abrindo caminho para o país investir um total de US$ 1,2 trilhão em obras como construção e reforma de rodovias, pontes, ferrovias e sistemas de distribuição de água e energia pelos próximos dez anos.

A ideia é que os investimentos, à la New Deal, vão gerar empregos e ajudar a economia a se reerguer da crise da pandemia. É, por enquanto, a principal e mais ambiciosa medida do presidente democrata, que vem enfrentando uma queda na aprovação de seu mandato (um outro plano ainda mais caro, focado em investimentos de cunho social como licença maternidade, ainda deve ser votado no Congresso). 

O projeto não é exatamente novo, mas demorou para passar porque havia dúvidas se ele seria aprovado no Congresso, onde os Republicanos – e parte dos Democratas – se mostravam resistentes a dar aval a um gasto governamental dessa magnitude. Em agosto, o texto passou pelo Senado americano; na sexta-feira, após o fechamento das bolsas, foi aprovado na Câmara com 228 votos a favor e 206 contrários. Agora, segue para a assinatura de Biden.

Por aqui, o efeito foi amplamente visível nas ações das empresas de siderurgia e mineração: afinal, um montão de construções e reformas na maior economia do mundo levam a demanda por aço (e minério de ferro) lá para o alto. Nisso, a maior alta do dia foi justamente da Vale (5,44%), que sozinha corresponde a cerca de 10% do índice paulista. A Bradespar, uma das acionistas controladoras da Vale (detém 5,56% da mineradora), também figurou entre as maiores altas: 3,83%. Não só: Gerdau +3,84%, Gerdau Metalúrgica +2,21%, CSN +2,12% e Usiminas +4,56%.

O plano de Biden vem como um alento para os setores de siderurgia e mineração brasileiros, que estavam vivendo um verdadeiro inferno astral nos últimos meses graças à China. O preço do minério de ferro negociado lá no porto de Qingdao estava em queda livre desde que bateu os US$ 230 por tonelada, em maio deste ano. A commodity havia chegado nesse patamar porque o mercado apostava que, com a reabertura das economias à medida que a vacinação avançava, os países gastariam mais para tirar suas economias do buraco, incluindo com projetos de infraestrutura – como é o caso dos EUA agora, e como foi o caso da China no começo do ano.

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O problema é que o mercado não contava com o governo chinês, que tinha seus próprios planos para a economia. O país, que produz 55% do aço do mundo, limitou sua produção da liga metálica após interferência direta do Partido Comunista Chinês no mercado, fazendo o preço do minério de ferro despencar com a queda da demanda. A justificativa foi ambiental (reduzir as emissões de carbono do país), embora por trás do discurso verde o governo também vinha tentando controlar a inflação por lá. Além da interferência governamental, a economia chinesa também deu uma esfriada nos últimos meses, ajudando a diminuir a demanda pelo aço. 

Dos US$ 230 por tonelada de maio, o preço do minério caiu para baixo dos US$ 100 (hoje, fechou em US$ 93,82). Nisso, as ações da Vale, que chegaram a bater os R$ 118 no auge, também despencaram, caindo quase 40% até o final de outubro. Agora, com o pacote trilionário de Biden, os Estados Unidos oferecem uma esperança de recuperação para as empresas do setor para além da China.

Ibovespa

Em um dia de agenda esvaziada, nem a alta da mastodôntica Vale conseguiu fazer o Ibovespa terminar no azul. O índice fechou quase no zero a zero: -0,04, aos 104.781 pontos, após um pregão de alta instabilidade e baixo volume financeiro. É que, para além da ajudinha dos EUA, não rolou nada que pudesse injetar uma dose de otimismo na Faria Lima.

Pelo contrário: investidores estão de olho na votação da PEC dos Precatórios, que deve acontecer amanhã na Câmara dos Deputados, se tudo ocorrer como o previsto. A novela você já sabe: com votação apertada no primeiro turno, ninguém sabe se o governo terá os votos necessários para aprovar o texto na segunda rodada, ainda mais depois que Rosa Weber fechou a torneira dos pagamentos do chamado “Orçamento secreto”. 

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A PEC é o plano A do governo Bolsonaro para conseguir pagar seu Auxílio Brasil, o Bolsa Família turbinado em ano eleitoral. Se não passar, o plano B é continuar pagando o auxílio emergencial. O mercado não gosta de nenhuma das duas alternativas, mas está na onda “ruim com a PEC, pior sem ela”, já que pelo menos o texto dita alguma regra para os gastos públicos. De qualquer forma, o futuro fiscal do país fica incerto. A ver.

Maiores altas

Vale (VALE3): 5,44%

Usiminas (USIM5): 4,56%

Cogna (COGN3): 4,48%

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Cielo (CIEL3): 4,37%

Gerdau (GGBR4): 3,84%

Maiores baixas

Banco Inter – Unit (BIDI11): -7,30%

Banco Inter – PN (BIDI4): -7,29%

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Americanas (AMER3): -6,50%

Banco Pan (BPAN4): -5,82%

Lojas Americanas (LAME4): -4,61%

Ibovespa: -0,04%, aos 104.781 pontos

Em Nova York

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Dow Jones: 0,29%, aos 36.432 pontos

S&P 500: 0,09%, aos 4.701 pontos

Nasdaq: 0,07%, aos 15.982 pontos

Dólar: alta de 0,33%, a R$ 5,5410

Petróleo

Brent: 0,83%, a US$ 83,43

WTI: 0,81%, a US$ 81,93

Minério de ferro: 0,73%, negociado a US$ 93,82 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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